O gralipo pode ser a SEBE da elite dominante

Ao falar de um autor como Sírio Possenti, e seu discurso, Gramática e Política, cabe dizer não é empresa pouco desafiadora, já que se trata de um dos expoentes de nossa língua portuguesa, basta ver sua tremenda capacidade de tradução, na obra de MAINGUENEAU¹, “Gênese dos Discursos”, disto já se pode ter uma idéia da capacidade e propriedade do autor, em problematizar nesta obra-objeto, a relação da gramática, num devir pulverizado em pelo menos três aplicações principais, e suas conotações e implicações na política.

Fica muito claro, que ao professor caberá a tarefa de instruir-se bem, ler e re-ler, estes corpus, para daí, ajudar suas turmas a entender, que o personagem fictício gralipo, (gramatica, língua e politica), pode ser uma entidade, que perpetuaria a ideologia da elite, ao utilizar-se a si mesmo em favor da ideologia dominante, e pior ainda, deslocaria os saberes, a ciência, o ouro intelectual, para conduzir a uma mentalidade de acomodação, de assentir quando a autoridade fala, de cercear, como uma sebe, ainda que de modo muito sutil e dissimulado, para perpetuar o poder, usando a escola como entidade e local de alienação HESSE².

Possenti, foi muito feliz, em argumentar de modo claro, como a influência política, pode alterar o modo como um professor abordaria e ensinaria a gramática, privilegiando determinado setor, ou determinada classe social, lembrando sempre que, - ainda que em nossos dias os professores estão sendo, desrespeitados – o que ensina terá um grande influência nos pupilos!

Daí a tremenda importancia da qualificação, do desenvolvimento intelectual, não sendo politiqueiro, e sim politizado, um ser capaz de articular os conhecimentos, sem desvirtuar, ou impedir as mentes planas ao seu rumo próprio mais adiante na vida.

Por esclarecer, que a gramática, é identificada como “conjunto de regras”; “conjunto de leis estruturais” e “conjunto de regras que o falante aprendeu ou seja, seu repertório lingüístico”, o autor nos ensina a possibilidade quase que obrigatória, de utilizar todas estas gramáticas, porém, não utilizá-la para defender a elite, ou pior de tudo, impor um jeito “certo” de falar, antes ajudar os “sem luz” (alunos) a entender que existe diversos tipos de falares, porém que existe também a norma culta, ou padrão, infelizmente ou não, imposta pela escola, e que teremos que nos apropriarmos dela, até por que é uma SEBE³, que pode cercear nosso desenvolvimento na vida escolar, e profissional, dependendo da capacidade de articulação, e de transitar nestes saberes.

O nosso personagem ipotético gralipo, no decorrer da história recente, tem defendido a classe dominante, em muitos textos didáticos ele aparece, com uma intenção sutil de deslocar a realidade, e se você leitor amigo professor, desejar confirmar como os textos podem deslocar para mentiras deslavadas, que tal mergulhar no discurso de Deiró Nosella, cujo trabalho, é extremamente importante, para todos os professores, independentemente, de que disciplina rege.

A guisa de exemplo: “A ideologia dominante faz com que os dominados sejam condicionados a terem uma ilusão de que 'na paz e na guerra', na vida ou na morte' terão a mesma posição dos dominadores.NOSELLA4 ” para falar a verdade, qualquer professor que tenha bom senso, - e a grande maioria o tem – ficará feliz de ler este discurso de Possenti, e cuidará em abordar seus conteúdos, primando pela ética, e pela ação de cidadnia, que valoriza o individuo, respeitando suas peculiaridades, suas crenças, suas ideologias, sem querer impor nada, temos que lembrar que não passamos de facilitadores.

Outro exemplo de que não podemos aceitar tudo, como que engolir sem mastigar, é o fato de que a ciência é construto humano segundo CHASSOT5, e como tal imperfeita e passível de equivocos, e envolta em pura crendice, “o conhecimento científico é intrissicamente pessoal...a verdade científica é uma verdade fiduciária...baseada na determinação da credibilidade dos cientistas,...não há outras garantias SANTOS6” sendo assim, em tratando-se de ciência temos que sempre criar nos alunos o senso crítico, para que possam tornar-se cidadãos pro-ativos e contribuir para um mundo melhor, por sua criatividade e inventiva.

Portanto, caros amigos e colegas professores, não permitam que o gralipo, atue de modo negativo, preconceituoso, e elitistas serviçal, antes ajude a destruir a sebe de espinhos mentais, que favorece a classe dominante, e problematize sempre, como podemos utilizar as diversas gramáticas, para provocar no alunos um criatividade sua, valorizando “o individuo” HESSE7 , o aprendizado, e utilizando todas as formas de discurso, quer seja o da escola, a linguagem formal, a norma culta, bem como as demais variações do falar individual, cada um no seu devido lugar.

Referências:

1) MAINGUENEAU, Dominique, “Gênese dos Discursos” Ed. Criar Edições Ltda. Curitiba PR-2005. Tradução de Sírio Possenti.

2) HESSE, Hermann, “Para ler e guardar” tradução de SILVA, Bélchior Cornélio da, 2ª edição, Editora Record, Título original alemão LEKTÜRE FÜR MINUTEN, RJ-1975. Pag.65

3) PRIBERAM, Dicionário da Língua Portuguesa, “sebe” tapume vegetal para impedir a entrada em terras cultivadas.

4) NOSELLA, Maria de Lourdes Chagas Deiró, As Belas Mentiras-a ideologia subjacente aos textos didáticos, 12ª edição- Editora Moraes, São Paulo, SP 1981.pag.83.

5) CHASSOT, Attico. “A ciência através dos tempos, p.99 16ª impressão - Polêmica, Moderna, São Paulo.

6) SANTOS, Boaventra de Sousa, A crítica da razão indolente – contra o desperdício da experiência, Editora Cortez, 5 edição, São Paulo, SP -2005, pag. 101 § 3.

7) HESSE, Hermann, “Para ler e guardar” tradução de SILVA, Bélchior Cornélio da, 2ª edição, Editora Record, Título original alemão LEKTÜRE FÜR MINUTEN, RJ-1975. Pag.39

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José Cristino dos Santos Mendonça Jandira,14/01/2013