REFORMA ORTOGRÁFICA DA LÍNGUA PORTUGUESA _ II

Voltando ao tema da ortografia, como havíamos prometido, retomemos do ponto onde terminamos, com os verbos arguir e redarguir. Diz a nova regra que: “Não se usa mais o acento agudo no u tônico das formas (tu) argui, ele argui, (eles) arguem, do presente do indicativo dos verbos arguir e redarguir”.

Interessante não se dizer também que o mesmo vale para o infinitivo, os nomes dos verbos.

Temos a acrescentar que o verbo arguir, de tão usado e de tanto amedrontar gerações de estudantes, este não perderá a pronúncia. Não faltará educador para mantê-la em forma. Mas, redarguir, este poderá sofrer futuramente, se ainda dele se lembrarem, uma alteração de pronúncia.

Vejamos a regra que diz: Há uma variação na pronúncia dos verbos terminados em guar, quar e quir, como aguar, averiguar, apaziguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir etc. Esses verbos admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do indicativo, do presente do subjuntivo e também do imperativo.

a) se forem pronunciadas com a ou i tônicos, essas formas devem ser acentuadas.

Exemplos:

. verbo enxaguar: enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxáguem;

. verbo delinquir: delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínquam.

b) se forem pronunciadas com u tônico, essas formas deixam de ser acentuadas.

Exemplos (a vogal sublinhada é tônica, isto é, deve ser pronunciada mais fortemente que as outras):

Obs.: A VOGAL SUBLINHADA É /U/.

. verbo enxaguar: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxaguem;

. verbo delinquir: delinquo, delinques,delinque, delinquem; delinqua,delinquas, delinquam.

Atenção: no Brasil, a pronúncia mais corrente é a primeira, aquela com a e i tônicos

Neste caso, a pronúncia foi mais lembrada pelos reformadores. Com os verbos listados acima sempre tivemos três problemas, isto é, do ponto de vista dos exigentes defensores da obediência às regras, lógicas ou não: a pronúncia, a colocação do acento agudo e o trema.

Observe a complicação formada: o item a diz que se a e i forem pronunciados / tônicos, devem ser acentuados. Já com o u tônico, item b, ocorreu algo de difícil entendimento: o u não deve ser acentuado. Qual seria a lógica?

A norma quer que a tonicidade esteja em uma determinada vogal, mas o povo não quer. E quando o povo não quer, não quer. Atente para a curiosa sugestão: “a vogal sublinhada é tônica, isto é, deve ser pronunciada mais fortemente que as outras”. Por que deve ser? Não parece haver algo inconsistente, incoerente?

Frise-se, inclusive, que nesta regra, da forma como se encontra exposta, não foi chamada a atenção para as formas do infinitivo.

Acreditamos que o privilégio deveria ser conferido à pronúncia corrente, como no item a. Também não foi evidenciada a pronúncia corrente do /u/. Mas, como não nos damos tão bem com a mala que é o acento, melhor seria tratar de pronunciar os verbos do item b com o /u/ tônico. Isto pioraria? Melhoraria? Dúvida cruel. Seria mais fácil, então, pronunciarmos as formas do item b, normalmente, como o faz a maioria das pessoas, de forma paroxítona e acentuá-las?

Pretendíamos refletir sobre as mudanças na ortografia em duas partes, mas chegamos à conclusão que precisamos todos de uma pausa para enfrentar a questão do uso do hífen.

Como diriam os adolescentes, “é muita areia pro meu caminhão”.

Ainda bem que a tecnologia avança e os corretores ortográficos se aprimoram.

Não pretendo com esta reflexão ensinar, mas aprender, entender a lógica da mudança que não foi resolvida de forma democrática.

REFERÊNCIAS

TUFANO, Douglas. Guia prático da nova ortografia. Saiba o que mudou na ortografia brasileira. São Paulo: Editora Melhoramentos Ltda., 2008

Tânia Menesesprimeira

Enviado por Tânia Menesesprimeira em 13/11/2008

Reeditado em 13/11/2008

Código do texto: T1280766