De domingo a domingo: veja o ano das criancinhas atacadas pela ignorância midiática
Silvânia Mendonça Almeida Margarida
Paráfrase da Mestra em Letras: Lya Luft
O contrário do habitual, sempre escrevo sobre projetos de vida, sonhos, depressões e culpas, que para muitas pessoas caracterizam as festas de fim de ano. Escrevo como um ser humano, que não sei para onde vou e nem de onde vim, mas sei que estar aqui é ter um projeto de vida para manter a minha longevidade, a minha cabeça erguida e viver.
Sentir-me depressiva e culpada faz parte do mundo e consigo sobreviver sempre mais perto de uma crença. Assim, depressões e culpas vão e não me alcançam. E acreditar é sonhar com os acontecimentos do ano novo que virá. Por que não em festas?Considero-me qualificada para falar do tema que elegi, e não somente observadora das nossas glórias e das misérias humanas: mas às vezes não dá para calar.
Refiro-me ao que, tendo ocorrido há duas semanas, ainda me faz arrepiar a raiz dos cabelos, quando a mídia brasileira, por intermédio de grande emissora de televisão, transformou a vida de nossas crianças numa claraboia de inferno, rotulando nossos filhos autistas em psicopatas. Como se não bastasse todo o ataque em rede nacional, um famigerado magazine publica em editorial que o demente solto a fuzilar gente inocente tem tudo a ver com nossos filhos que estão dentro das nossas casas.
Isto realmente é insano e provocador. São também inocentes e são confundidos como eternos debiloides. Este é o termo exato da palavra, escrito e auditado em rede nacional. Pois bem, o ano que se passou foi aquele das criancinhas atacadas.Ao continuar, tão grave paráfrase, num sentido emocional da palavra, não são tão-somente vinte criancinhas mortas (infelizmente), mas também milhares de anjos que se encontram dentro de casa, preconceituados, atacados por pessoas das academias das letras. Bem, vários casos já ocorreram no Brasil, principalmente, Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais brasileiras onde o preconceito é formalmente cabal. Até nas regiões mais civilizadas como a Noruega e civilizadíssima Escócia, os filhos do preconceito e do sofrimento são vitimados.
Tais discrepâncias educacionais são criadas por gente que não entende nada, nadinha de nada mesmo, a não ser os holofotes das artes, almejando estar sempre na mídia, sempre que toda literatura for a arte da palavra. E sempre a literatura será a arte da palavra e das letras, com seus estilos de época e seus autores representados.
Mas tem algo que o mundo das letras não pode dar conta, o sofrimento imposto às criancinhas do preconceito e da ignorância midiática. Os intelectuais também matam dezenas de crianças, afogando-as num mar de convencionalismo, mesmo que eles estejam morando dentro uma ilha sossegada, ou seja, seus lares e suas escolas, perfeitamente incluídos, sem incomodar ninguém.
Há uma parte desta paráfrase que deixo para os entendedores da lei, para o Direito Penal e sua ultima ratio, ou quem sabe o princípio da significância. Não pretendo aqui postular sobre narcotráfico, tráfico de armas, política e outros interesses. Os doutores da lei que se preocupem com o poder de polícia, com batalhas travadas em nome do crime e das suas ilicitudes. Esta parte eu me abstenho de escrever. Não me importa também o que os políticos (digo, aqui neste rito de passagem, pois lógico que me importo) fazem nas beiradas das favelas ou embaixo dos viadutos. Não me apraz também saber o que o Presidente dos Estados Unidos da América pensa, pois ele mudará em nada, a perseguição que nossos filhos sofrem constantemente nas escolas, nos ambientes de lazer, nos shoppings, nas praias, enfim, em todos os lugares.
Esta é uma arma mortífera nos corações de suas mães e pais e não é uma indagação ingênua. É necessário que grande emissora e magazine de bancas postularem tanta agressão aos nossos filhos? É evidente as suas perseguições.
A sua crueldade, aos nossos, criancinhas mortas pela insensatez e pelos ataques gratuitos são de enorme insensatez e porte e isto é o contrário do habitual. Quando isto irá parar? De domingo a domingo, conhece-se o ano que as nossas criancinhas foram atacadas pela ignorância midiática.Sim, claro, precisamos rever em toda parte os seus inúteis conceitos, leis e preconceitos. A doença mental não é dilapidação, um anti-presságio de pessoas entendidas da força midiática da globalização, da pseudo-academia do conhecimento do que seja universidade da vida. Não existe o politicamente correto para o doente mental, existe apenas o mínimo do mínimo em termos do Estado democrático de direito.
Pais de “doentes mentais” (não gosto deste termo) pagam impostos e olha que são caros.O politicamente correto agora para a mídia brasileira é a exclusão geral dos nossos filhos que estão dentro das nossas casas, significando também que as nossas crianças devem ser ludibriadas pela mídia sensacionalista e exclusivista ao pendor da ignorância. Nossos filhos, que fique isto bem claro, podem ser incluídos nas escolas dos ditos normais (não gosto também desta palavra), pois é assim o seu direito fundamental. Leiam-se a Declaração dos Direitos Humanos, a Constituição Federativa do Brasil em seu artigo 5º., leis infraconstitucionais da legislação básica da educação especial e por aí vai.Crianças especiais não perturbam outras crianças, mas afligem o coração dos ditos intelectuais, dos pseudo-intelectuais midiáticos.
Quando não há o preconceito, nossas crianças podem se adaptar e agir além dos seus limites, - quando lhe for consagrado ser feliz. Isto pode acontecer se não for atacado por armas pesadas invisíveis e manipuladoras da palavra mal dita.Pessoas com qualquer tipo de transtorno mental devem ser cuidadas conforme a gravidade do ataque que lhe são infligidos, pois, por incrível que pareça, eles sentem e ressentem.
Quando o ataque é maior e em níveis nacionais os estados perigosos de tristeza atacam também pais que também são mestres, doutores, psicólogos, advogados, professores, pediatras, psiquiatras e todas as profissões louváveis, incluindo a maestria em linguística ou literatura comparada.Mas em geral, não existe tremenda dor em termos um filho “com problema”. Filhos com “problemas mentais”, como diz a mídia, são transcendentais, únicos e quem não os têm nunca terá a dádiva de entender. Não dá para fingir que a mídia é anormal (detesto essa palavra também).
Para pais de crianças “especiais” no mais bonito âmago da pronúncia não é feio levar seus filhos aos psiquiatras, não há nenhum desgaste em dar-lhes remédios controladores do seu pensamento, e não existem melhores clínicas que não sejam os nossos lares. E ao sair de suas casas ou lares é possível toda convivência com estes anjos infinitos. O inábil que aprenda a lidar com eles e a gratificação da demanda logo serão sobrepostos ao sofrimento por dádivas e experiências que caem no mundo das artes literárias, onde as luzes da ribalta nunca se apagam.
Quem mata quem? Preconceituar e generalizar inocentes por um caso isolado, ou a mídia incauta que por sua própria faina se suicidou. Creio que a cada caso e a cada ataque o suicídio será coletivo. Tome cuidado, Mídia, olhe a sua volta. Os mesmos caminhos que vão, vem. O mundo das crianças especiais precisa respirar em paz. Ou não? Quando virá o próximo ataque? Estamos preparando as nossas crianças, vestindo-as de roupas azuis. Você, mídia ignóbil, não conhece esta metáfora.