Sem disciplina, sem sonhos nem objetivos, sem rumo...
Uma das maiores discussões da atualidade está relacionada a aprendizagem dos alunos brasileiros. O governo federal, através do Ministério da Educação, tem realizado diversos tipos de avaliações com o objetivo de fazer um diagnóstico da real situação da nossa educação. Em Laranjal do Jari, a prefeita Euricelia Cardoso institucionalizou um projeto chamado “Prêmio Mérito Escolar Professor e Aluno Nota 10” que visa, dentre outros objetivos, incentivar a aprendizagem dos alunos e fortalecer as práticas pedagógicas dos professores da Rede Municipal nos ambientes escolares.
Pedagogos, diretores escolares e professores discutem as razões pelas quais os nossos alunos não estão dominando conhecimentos básicos como as quatro operações fundamentais e a interpretação de textos simples. Existe um paradoxo profundo, pois enquanto os professores estão se capacitando cada vez mais, muitos até com mestrados, os alunos estão aprendendo cada vez menos! Uns buscam os culpados, outros dizem que não adianta procurar culpados e que o importante é cada um fazer a sua parte, ou seja, diretores escolares, pedagogos, professores, alunos e a família. O fato é que quando se analisa a aprendizagem dos estudantes dificilmente se pensa o lado daquele que deveria ser o principal ator dessa discussão: o estudante.
Ao invés de perdermos tempo com discussões sobre qual metodologia ou teoria provocaria melhores resultados nas nossas escolas, deveríamos ouvir os estudantes e avaliar os dados que foram levantados pelo MEC a partir do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Das 30 melhores escolas públicas do país, dez são militares. Ao contrário do que muitos estudiosos defendem, nestas escolas o ponto forte é a disciplina. Nelas, os estudantes precisam estar devidamente uniformizados e passam pelos olhos atentos de policiais militares sem que isso cause qualquer tipo de constrangimento. Na melhor escola do Estado do Goiás, por exemplo, é proibido o uso de esmaltes escuros e a maquiagem tem que ser discreta!
Em quase 17 anos de trabalho e de convivência com os estudantes de Laranjal do Jari, pude comprovar que grande parte deles, principalmente daqueles que moram na periferia da cidade, não tem sonhos nem objetivos. Se uma pessoa não tem um alvo, qual seria então a razão de ela se preocupar em traçar metas? Felizmente, tenho observado que de forma muito gradativa essa situação vem sendo revertida, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido, pois ainda existe uma grande quantidade de meninas que acreditam que dando o “golpe da barriga” ou simplesmente se relacionando com homens de melhor poder aquisitivo estarão com o futuro garantido! O resultado disso é o que temos hoje: grande parte dos nossos estudantes são filhos de pais separados e muitos nem conhecem os seus pais, pois são frutos de relações efêmeras com forasteiros que dormiram e não amanheceram na cidade das palafitas. Quantos filhos de ninguém não ficarão à mercê da própria sorte depois que a Isolux, a construtora da UHE Santo Antônio e outras empresas concluírem seus trabalhos por aqui? Só o tempo dirá, mas alguns dados já são preocupantes e eles são só a ponta do iceberg!
Numa pesquisa realizada com estudantes da 4ª série, constatei que 100% deles afirmaram que não tinham o hábito de assistir a telejornais. Apenas 6% deles disseram que faziam leituras de livros esporadicamente. E o mais impressionante é que apenas 4% sabiam a escolaridade dos seus pais, ou seja, podemos concluir que o assunto “educação” não é algo muito apreciado nos lares da nossa população, principalmente daqueles mais carentes e que mais deveriam confiar na aquisição de conhecimentos como forma de ascensão social e financeira. Outro dado interessante é que dentre 23 estudantes com idade de 9 a 15 anos, somente 5 já tiveram a oportunidade de conhecer outras cidades.
Os dados colhidos sobre a aprendizagem são igualmente desanimadores! Imaginem que nenhum desses estudantes com essa faixa etária conseguiu acertar o ponto cardeal em que o Sol nasce, mesmo dando-lhes as quatro opções: Norte, Sul, Leste e Oeste. Nenhum aluno conseguiu falar de forma certa sobre o sentido da palavra páscoa. Uns disseram que a palavra lembrava chocolate, outros fizeram referência ao coelho e outros falaram sobre o nascimento de Cristo! É interessante destacar que quase metade destes alunos que errou a questão se disse evangélica e todos afirmaram pertencer a alguma denominação cristã.
A relação entre aluno e seus familiares realmente está em ruínas. Querem uma comprovação disso? Perguntamos aos alunos para quem eles contariam o maior segredo da vida deles, e pasmem! Apenas 4% deles disseram que contariam para a mãe, irmãos ou tios, enquanto que a maioria esmagadora afirmou que contariam apenas para o melhor amigo. Nenhum deles fez menção aos pais, provando que realmente o genitor não costuma ser a pessoa mais confiável para eles. A pesquisa citada pode não ter o rigor que um trabalho científico exige, mas pode servir de uma profunda reflexão, inclusive para que se comece a analisar até que ponto os pais tem influência sobre os seus filhos. E até que ponto a presença desses pais dentro da escola trarão os resultados educacionais que a gente tanto sonha!