QUEM É DONO, CUIDA

“Cada sociedade tem a educação que quer. A nossa é péssima, antes de tudo, porque não fazemos a nossa parte”.

Claudio de Moura Castro

Os resultados dos diferentes processos de aferição da aprendizagem em execução atualmente no Brasil não deixam dúvidas: onde o verdadeiro responsável pela educação básica, a família, exerce seu papel de forma consciente e competente, o saldo é sempre positivo.

Assim tem sido com os resultados de exames e concursos como: Professor Nota Dez, Prêmio Gestão Escolar, Provinha Brasil, IDEB, ENEM, Aluno Nota Dez, PROERD entre outros. Em todos esses exemplos, o sucesso de alunos e escolas melhores ranqueados não se deve diretamente a nenhum milagre ou poder sobrenatural. Sem exceção, o diferencial é o mesmo: a participação ativa e consciente da família.

Segundo Moura Castro, “fala-se do milagre educacional coreano. Mas fala-se pouco do esforço das famílias” Lá, explica o autor, as avós têm como rotina ficar na janela da sala de aula, observando se os netos, de fato, estão estudando, tamanha é a obsessão por bons resultados e a importância fatal que as famílias orientais dão à educação.

No Brasil, acontece exatamente o contrário. Via de regra, para comparecer à escola muitos pais precisam ser intimados – alguns, pela Justiça. O Estado monopolizador e manipulador brasileiro se prevalece da ignorância dos mais pobres e do desleixo da classe média para desenvolver seu modelo laisser-faire e manter a escola estilo casa de mãe Joana porque isso lhe convém. Essa é uma equação simples: quanto mais deficitária for a educação de um povo, mais fácil será mantê-lo sob controle e permanente exploração.

Jamais deveríamos ignorar ou subestimar o fato de que o Estado defende os interesses do próprio Estado. Quem tem que defender os interesses do aluno é quem, de fato, é o principal responsável por ele: a família. “Estado, escola e professores têm sua dose de culpa. Mas não são os únicos merecendo puxões de orelha” (Moura Castro. Veja, nov./2004).

Falando em culpabilidade, ressalte-se que a gritante negligência das famílias brasileiras com a educação dos filhos deve-se, em grande parte, a visão estrábica e dogmática da atual geração de educadores que, em geral, se assumem como tutores, avocando a si atribuições que são de exclusividade de qualquer outra instituição (inclusive da própria família), menos da escola – como se esta fosse a única instituição e o professor o único agente responsáveis pela formação do indivíduo em todos os aspectos.

Pelo visto, as vovós coreanas, há muito, entenderam o valor prático de um dito que, ironicamente, é muito popular entre nós: “A vista do dono é que engorda o gado”.

Uma curiosidade nesse drama é que normalmente na cultura tupiniquim, tratando-se de coisa pública, ser dono significa, entre outras coisas, usar quando quiser e sem pagar nada, reclamar muito quando não funciona a contento, usar para fins particulares, quebrar, pichar, danificar, etc.; mas jamais participar, fiscalizar, proteger, zelar... “É pra isso que pago impostos” – redargui, cheio de empáfia, o incauto, justificando, do alto de sua ignorância, a desobrigação de sua participação na gestão da coisa pública – e isso é tudo que o Governo quer ouvir.

Enquanto isso, cá em nossa aldeia, há escola que passa o período letivo inteiro sem funcionar e, no ano seguinte, funciona em meio expediente por falta de merenda escolar; enquanto noutras, alunos são ameaçados de despejo por falta de pagamento de aluguel, outras adiam ou interrompem aulas para fazerem reformas, além do absurdo número de servidores em desvio de função e outros que assinam ponto num determinado local e andam sabe-se lá por onde.

Aos pais/mães à Lady Kat [eu tô ‘pagano!’], uma dica: quem é dono(a), cuida. Jamais esqueça que não importa quão bem você pague o gerente de sua empresa; se ela entrar em crise ou fali, quem arcará com os ônus será sempre você, o(a) proprietário(a).