Trechos do meu  trabalho de Língua Portuguesa.
 
   
    A linguagem insere o homem em seu contexto de modo que  possa agir e reagir, interagindo e se comunicando. É por meio dela que ele mostra suas ideias e  crenças, ampliando sua visão de mundo. Para que isso aconteça é essencial que haja o respeito ao outro, às diferenças, à diversidade cultural que caracteriza todo processo de ensino/aprendizagem. 

    
    Apesar da grande variedade de dialetos encontrados no Brasil, só é considerada correta a língua que se aprende na escola, oriunda das gramáticas e dicionários. O conhecimento que o aluno traz consigo é inútil. O que importa é apenas o que ele aprender a partir do dia que adentrar uma sala de aula. Assim sendo, as pessoas que nunca frequentaram uma escola, apesar de terem muita bagagem de conhecimento são menosprezadas.


     Nasci e cresci na zona rural e tenho orgulho disso. Hoje em dia faço questão de preservar o modo de falar  que aprendi com meus pais e avós, por isso mantenho uma página no Recanto das Letras, onde escrevo muitas histórias usando a linguagem regional. Quando entrei na escola já tinha nove anos de idade. Inúmeras vezes fui excluída e vi colegas sofrerem com esse preconceito. Alguns não suportaram a pressão e desistiram antes de concluir os primeiros quatro anos. De certa forma aquele ambiente ignorava crianças de classes mais humildes, porque não falávamos de acordo com o padrão cultural das pessoas de classe social mais elevada. O pior é que, mesmo depois de décadas isso ainda acontece e hoje em dia muitas crianças fracassam na escola, pois, tudo é planejado e elaborado a partir de pressupostos próprios do universo cultural das classes dominantes.
 
    Infelizmente a maioria das escolas brasileiras ainda não estão preparadas para reconhecer que, crianças das classes menos favorecidas têm apenas um jeito diferente das demais e não uma deficiência. Isso devido ao lugar em que vivem ou ao nível cultural dos pais, que muitas vezes nunca frequentaram uma escola. É preciso saber respeitar as diferenças e abandonar a ideia de que o português de um lugar é melhor ou pior que o outro. É necessário que os alunos conheçam a gramática, para adequarem a fala de acordo com o contexto no qual estão inseridos, mas é importante também mostrar ao aluno que na língua escrita deve-se seguir algumas regras, mas não é obrigatório falar da maneira que se escreve.

     
Bagno* afirma que: é preciso garantir a todos os brasileiros, o conhecimento da variação linguística, mas a escola não deve estar restrita a isso, é preciso favorecer o acesso aos bens culturais, à saúde, à habitação, ao transporte de qualidade à vida digna de cidadão merecedor de todo respeito” (1999, p.71).
 
     Para desenvolver um processo de reflexão e conscientização sobre os fenômenos de variação linguística, dentro e fora da sala de aula, é preciso ter em mente que isso  é um processo contínuo e sistemático de trabalho. O importante é que o aluno entenda que todas as variedades linguísticas são legítimas e próprias da história e da cultura humana. Assim, não somente estamos conscientizando os nossos alunos, enriquecendo os seus dialetos, mas também aumentando o leque de suas possibilidades linguísticas tornando esses alunos muito mais conscientes e competentes quanto aos diversos usos da língua. 

 
 
     
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* Marcos Bagno: É professor do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da Universidade de Brasília, doutor em filologia e língua portuguesa pela Universidade São Paulo, tradutor, escritor com diversos prêmios e mais de 30 títulos publicados,entre literatura e obras técnico-didáticas.

 

Maria Mineira
Enviado por Maria Mineira em 21/10/2012
Reeditado em 24/10/2012
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