"Irai-vos e não pequeis; consultai com o vosso coração em vosso leito, e calai-vos." – Salmos, 4:4
Na tradução hebraico-esperanta da Bíblia, ao invés de "Irai-vos", tem é "Tremei", ou seja, desestruturai-vos, tremei na base, desequilibrai-vos ou algo semelhante, com um fator sísmico externo qualquer (como o que está sofrendo a própria pessoa Terra, por exemplo, nestes dias correntes).
Ira, nesse contexto salmítico, é um abalo emocional, algo que nos tira do sério, que tenta nos afastar da nossa rota.
Ser chacoalhado, ser atingido, ao ponto de sofrer um abalo sísmico emocional circunstancialmente, é normal. Só não devemos é reagir negativamente a esse abalo. Só não devemos é revidar o tremor sofrido com outro tremor contra o tremedor nem contra nosso próprio íntimo, perpetuando o tremor em forma de ódio, rancor etc. É uma possível exegese da antiga lei.
De qualquer forma, naquele tempo do Ancien Régime da legislação moral mosaica (reproduzida no Velho Testamento[1]), o conceito de pecado era muito atrelado a ação maligna, a fazer efetivamente o mal objetivo. Era tomar o caminho do alvo errado a partir de um fator ou motivação negativa qualquer. Alguém podia, pois, até se irar, ou seja, subir no tamanco, tremer na base, mas não deveria agir nem reagir convertendo essa ação/reação em resultado negativo, em caminho direcionado para as trevas. E por aí afora.
Jesus, quando chegou, ao implantar o Nouveau Régime (a Boa Nova, O Evangelho), ampliou o conceito de pecado, também, para a ação negativa originada do “coração”, porque é partir dele que “procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” (Mateus, 15:19). Na linha crística de raciocínio, irar-se já é pecar, especialmente se considerarmos que a ação negativa da ira já provoca abalo ou tremor na própria alma do irado, gerando neuropeptídeos de alto poder destrutivo ou até cancerígenos. Há também os caminhos internos, inclusive aqueles que direcionam para o alvo das trevas que ainda existem na nossa própria alma.
A epístola de Paulo aos Efésios, 4:26-27[2], repete e avança um pouco mais na ideia, assim: "Irai-vos, e não pequeis; não deixeis se pôr o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo."
Não devemos permitir que a ira permaneça no nosso íntimo, idealmente nem um minuto, porque só isso já a transforma num pecado, considerando que o ódio ou o rancor guardado faz mal contra nosso próprio corpo. Mais importante do que botar uma ira para fora, em forma de explosão, é não permitir chegar a ira. Se ela chegar, que não permaneça. E uma ira que não chega, consequentemente, não é uma ira.
Nos dias de hoje, o custo é muito alto. Jesus nos libertou do rigorismo legislativo da antiga lei, mas nos obrigou a nos manter num padrão de sensibilidade mais elevada. Principalmente agora, nesta fase delicada de acerto de contas com a consciência cósmica, recair para uma ação mental anacrônica semelhante à dos tempos antigos implica um salto para baixo proporcionalmente muito maior do que naqueles próprios tempos antigos. Temos que lutar para nos manter firmes na faixa da relativa altitude emocional e moral que nos foi legada com a passagem do Cristo fisicamente entre nós. O período A. C. e o período D. C. não são apenas referências de tempo no calendário. Representam também duas faixas vibratoriais da evolução humanitária terráquea, uma densa, vingativa e opiniosa, vinculada às paixões e valores do corpo e da personalidade, e outra, suave, amorosa e pacífica, vinculada aos valores do espírito e do eu profundo. [Também a moral pregada por Jesus tem a ver com a justiça divina, mas como instrumento de amor, não com a ideia de vingança, impiedade ou castigo.]
Portanto, hoje, entendemos que, ao sermos abalados emocionalmente (“tremidos”, “irados”), não podemos metabolizar nem internalizar nem manter em nosso íntimo os efeitos desse sismo. [Ademais, a ira é antes de tudo um sinal de orgulho, de se achar superior, melhor que o outro, sem falhas, sem dívidas morais do passado a adimplir. Atualmente, é uma perigosa ilusão. Até há algum tempo, ela servia para muitos como carapaça, como defesa (até certo ponto). Hoje funciona mais como alvo das energias escuras.]
Ademais, os tempos atuais já são melindrosos por si mesmos. Estamos numa travessia psicofotomagnetovibratorial, que nos deixa mais vulneráveis, mais a flor da pele, mais sensíveis. Uma batalha espiritual tem sido travada no plano espiritual, com balas vibratoriais perdidas toda hora sendo disparadas em nossa direção.
Hoje o bem é visto não só como um gesto do coração, mas como um dever. Acabamos ficando reféns de fazer o bem, inclusive ao nosso próprio ser. Doravante, nesta fase mais aguda e tensa da transição, quem não se engajar no bem, assumirá consequências negativas, imediatamente ou a qualquer momento, ou pelo mal que fizer ou pelo bem que não fizer. [Que dureza!]
Muitos ainda estão sendo chamados para um trabalho mais à frente das mudanças, embora poucos sejam os escolhidos. Mas entre os não chamados e entre os não escolhidos, todos têm de fazer coisas positivas, onde quer que se esteja, no mínimo para suportarem melhor os impactos fotônicos que vêm por aí. A rigor teórico, o risco de se usar o livre-arbítrio como bem se queira é altíssimo. O seguro contra abalroamento da alma exige, como cláusula pétrea, que o segurado esteja diuturnamente vinculado às ações benfazejas, portando permanentemente o colete luminoso da fé e da caridade, inclusive para encobrir seu próprio lado escuro, muito mais frágil e vulnerável a avarias e perdas totais. Isso não quer dizer que devamos dar grandes saltos de qualidade moral de uma hora para outra, não. A ideia é exercermos justiça e amor incessantemente no nível evolutivo em que nos encontramos mesmo. Se quisermos subir demais pelo entusiasmo da fé, aumentamos também o risco de uma queda muito mais traumática em caso de recaída, o que nos levará muito mais ao sofrimento consciencial, do que a um maldoso que continua fazendo o mal (inclusive com iras explosivas) ou até que aumenta um pouco mais a dosagem das suas maldades.
O ideal é não pretendermos mais nada, não sonharmos com mais nada, não ambicionarmos mais nada, a não ser entregar nossas vidas e nossas personalidades aos cuidados de Deus, doando-nos de corpo, alma e emoção ao trabalho luminoso do bem, em movimento uniformemente gradativo, de acordo com nossas limitações e jeitões “irados” de ser.
Isso inclui perdoar sempre, o que não implica ser concessivo e complacente com as ações negativas alheias. Devemos ajudar sempre, inclusive, se necessário, através da denúncia às autoridades competentes contra as eventuais ações criminosas do outro que estejam causando prejuízo ostensivo ou objetivo, só não olvidando que ele, assim como todos nós, é mais um corréu perante o Tribunal da Justiça Divina.
Contudo, julgar emocionalmente, muito menos condenar, nunca. Sempre fica dentro de nós mesmos um pouco das farpas que lançamos no outro sob nosso julgamento condenatório. Ademais, pelo menos com base na legislação penal cósmica, “quem é o criminoso, senão um de nós que foi descoberto”[3]?
[O certo é que muita gente não tem a mínima noção de psicofísica; não tem o entendimento de que o ódio (e seus derivados: ressentimento, rancor, distresse, orgulho, amor próprio exacerbado, arrogância, certismo (ou hipercorreção), preconceito, inveja, susceptibilidade, toxinas materiais e emocionais, etc etc etc) hoje em dia não é mais sentimento, mas passou a ser uma substância corrosiva, trevosa, da que circula e sai devastando todos os corpos sutis, principalmente daquelas pessoas que não são do ramo da briga de rua, Precisamos nos unir em campanhas da paz diária, em todo lugar, rogando a proteção do Cristo. Isso se considerarmos que há no ar espiritual sobre as nossas cabeças coletivas de tudo um pouco na atual contemporaneidade, tais como nuvens de insetos miasmáticos, filigranas de luzes alcioninas, arrastões espirituais trevosos e ondas de amor e demais sentimentos verdadeiramente evangélicos. Precisamos nos posicionar do lado do bem, fazendo o bem, independentemente de qualquer bandeira religiosa que ostentemos. Até ateus ou niilistas que vivem a fazer o bem estão em situação mais firme e iluminada do que crentes de título que nada fazem para contribuir com as tarefas do Cristo nesta fase delicada da transição planetária.
[Lembremo-nos de Paulo de Tarso, em sua epístola aos Romanos, capítulo 2, versículos 12 a 15: “Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados. Pois não são justos diante de Deus os que só ouvem a lei; mas serão justificados os que praticam a lei (porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem por natureza as coisas da lei, eles, embora não tendo lei, para si mesmos são lei, pois mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os).”
Em resumo a hora é de amarmos positivamente os outros que estão em nosso derredor ou que vêm em nossa direção, ainda que com uma pedra mental para nos jogar. [A questão, como ressaltamos, é a substancialidade dos sentimentos. Aqueles que julgamos não merecerem o nosso amor (e o amor é também uma substância), são justamente os que mais aparecem em nosso raio de percepção rogando nossos melhores sentimentos-substâncias, ainda que essa rogativa seja em forma de uma mão estendida para pedir uma esmola ou para nos apontar um revólver. O que nós mobilizamos na direção deles, seja em forma de pensamentos, palavras ou ações, deixa também rastros dentro de nós mesmos. Amar, pois, é estratégico. É urgente. Medida final. É pegar ou largar. Amando, amamo-nos. Odiando, odiamo-nos.]
Amar geral, com todo sentimento crístico, é o nosso dever para com os outros, da mesma forma que para conosco. [Agindo assim, de forma iluminante e sempre imbele, ativamente pacíficos e não indolentemente passivos, com muito otimismo, amor e esperança, vamos contribuir para reduzir a médio prazo a grande movimentação nos setores de câncer, AVC e infarto nos hospitais.] Agora, o que os outros estão fazendo neste grande barco dos iguais em que todos navegamos, não deve nos interessar muito. O setor de julgamento é mais acima.]
É vero. Devemos amar a todos indistintamente, inclusive aqueles que se apresentam como inimigos. É o dever fundamental de todo aquele que, ainda arrastando atrás de si a sua inseparavél sombra, se propõe a seguir os passos luminosos do Nazareno.
Preservar a saúde emocional e a saúde espiritual doravante é essencial. Vamos precisar delas nos próximos anos de muita turbulência.
Enfim, já estamos obrigados hoje, não tanto a evoluir, mas a amar, como uma decisão liminar antes do veredito final. Quem não cumprir essa decisão interlocutória antes dos autos ficarem conclusos para o veredito final, pode correr o risco de ser mais frequentemente procurado pela justiça, para acerto coercitivo de contas, a qualquer momento.
Parece um tom ameaçador contra a liberdade de ser, mas nunca existiu liberdade absoluta, nem de ser, nem de estar, nem de fazer. A felicidade não é deste mundo e suas ilusórias paixões, orgulhos, arrogâncias, prepotências e ódios, cujas manifestações agora estão custando muito mais caro do que no período A.T. (Antes da Transição). Esses defeitos de caráter se opõem à mansuetude e pacificidade dos herdeiros do novo mundo, e só fazem ampliar o número de entradas em setores de emergência dos hospitais.
Já é sabido, a partir de experiências feitas com mentalizações direcionadas para substâncias, que as energias mentais negativas desarranjam e enegrecem a estrutura molecular, causando predisposições doentis, primeiro na estrutura corporal de quem produz tais energias, por questões de proximidade com o centro gerador (a mente). Foi justamente quando Pedro avançou, irado, e cortou a orelha de um dos servos do sumo sacerdote que prendiam Jesus, que este alertou “todos os que lançarem mão da espada, pela espada perecerão” (Mateus, 26:52). Tal advertência não é uma consagração da pena de Talião, não é uma cominação de pena, posto que Jesus foi avesso a qualquer violência e à vingança e foi o pregador divino do perdão. Mas Ele deu uma lição de físico-química, reportando-se a uma lei da natureza, à lei de causa e efeito.
Ademais, o livre-arbítrio sempre foi uma concessão cósmica para uso subliminarmente obrigatório em favor da evolução individual e coletiva, principalmente agora, na fase de salto evolutivo inadiável da própria pessoa Terra. Ou acompanhamos o ritmo dela, ou ficaremos estacionados (ou para trás, ou até para baixo).
Vale, contudo, lutarmos sempre para nos libertamos, sim, mas dos nossos atavismos, crises de consciência, passados de culpa, e olharmos para a frente, seguirmos na direção da luz, fazendo alguma coisa de útil, sempre. Vale também para quem já se ache no fundo do poço. Lembremos que também o poço está diretamente voltado para a luz, no extremo superior, nos permitindo ver alguma claridade, provando que Deus nunca nos abandona e sempre nos deixa algum ponto de referência, para quando quisermos procurá-lo novamente.
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Temos que impedir o alvejamento e, principalmente, o adentramento na nossa alma, das energias densas e malignas. E a melhor forma de barrar esse impacto é devolver uma reação em sentido oposto na direção da fonte agressora, com pensamentos, palavras e ações anódinas, anulatórias ou benfazejas, isso permanentemente, antes mesmo de sermos mirados pelo inimigo-vítima da ignorância.
O choque negativo geralmente vem pela lateral (quase sempre pelo lado circunstancialmente menos claro ou mais escuro do sujeito-alvo), na tentativa de desviá-lo na direção de um objetivo-alvo errado (para o pecado). Porém, se o andante estiver suficientemente focado no alvo de luz que pretende atingir, ele vai se balançar um pouco, vai tremer, mas não vai mudar o seu rumo-alvo, ou seja, não vai pecar no sentido étimo-histórico do termo[4].
Muitas vezes, contudo, ocorre o contrário: um choque negativo serve mesmo é para retificar, alinhar ou ajustar o rumo positivo da vítima, ou para fazê-la se mover para o alvo certo. [De qualquer forma, ai daquele que engendrar esse choque com sinal de menos.]
[2] Frise-se que, embora convertido ardorosamente como divulgador da Boa Nova, Paulo de Tarso não se desprendeu totalmente da linha de raciocínio baseada na moral mosaica.
[3] Frase atribuída a Francisco Cândido Xavier.
[4] Pecar é errar o alvo, na conceituação antiga do termo.