Sobre o apagão da leitura
Sobre o apagão da leitura
Li recentemente um artigo que trata da leitura em nosso país e que me chamou a atenção por apresentar dados lamentáveis. Divulgado na revista Língua Portuguesa, da Editora Segmento, edição de setembro/2012 o “O apagão da leitura” atesta que somos um país sem leitores. De acordo com a articulista, Adriana Natali, “o Brasil vive prosperidade mendiga na leitura”; isso quer dizer que a qualidade da leitura alcançada por nós é de uma precariedade alarmante – não compreendemos o que lemos, nem mesmo nós, a parte privilegiada – num país emergente - que ascendeu à formação superior. Acreditem, leitores, lemos minimamente.
Vejamos os dados. Segundo pesquisa realizada pelo Indicador do Alfabetismo Funcional 2011-2012, do Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa, apenas 1 em cada 3 brasileiros com ensino médio completo é alfabetizado, o que representa 35% desse povo que sobrevive apesar das falcatruas dos “mensalões” – novela que aparenta estar próxima do fim - e, o que nos deixa mais perplexos, 2 em cada 5 com formação superior, são 38%, têm nível insuficiente em leitura. Como assim? O que dizer desses acadêmicos? Alguns são os professores de nossos filhos, outros advogam em favor dos assassinos, estupradores de menores (boa parte, não consegue ser aprovada nos exames da OAB) e tantos outros são maus profissionais nas diversas áreas.
Há, pois, uma crise. Uma crise da escrita e da leitura que parece anestesiar a todos e põe em xeque o ensino brasileiro. Os índices da pesquisa nos indicam que 26% dos brasileiros são, de fato, alfabetizados; os analfabetos funcionais representam 27%, e apenas 47% da população tem nível de alfabetização que pode ser considerado básico. Esses dados representam uma vergonha e a crise, está claro, tem relação direta com o sistema de ensino que vigora em nosso país.
Publicados em agosto passado pelo MEC, os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica 2011 (IDEB) - considerado o termômetro do ensino e que vem revelando dissabores sobre a sala de aula brasileira - demonstram que há uma pequena melhora nos anos iniciais da escola, mas em relação às séries finais e ensino médio ocorreu uma estagnação. A média cai de 5,0 no 5º ano para 3,7 ao fim do ensino médio. Em entrevista a Veja (edição 2283 de 22 de agosto/2012) João Batista Araújo e Oliveira, renomado educador presidente do Instituto Alfa e Beto (ONG dedicada à educação), tece comentários sobre a estagnação dos resultados. Segundo o educador, os gastos em educação aumentaram e programas foram criados, mas ou estes programas não foram bem executados ou eram desnecessários.
Batista aponta cinco caminhos para uma reforma educacional premente. O primeiro deve ser atrair pessoas de bom nível para o magistério, dado que essa profissão deixou há anos de ser reconhecida pela sociedade e vista como promissora. O segundo é a necessidade de uma gestão eficaz e eficiente – saber fazer, aplicar e melhorar aquilo que já existe. O terceiro faz parte de uma discussão antiga no meio acadêmico, diz respeito a um programa de ensino estruturado e detalhado contendo tudo o que os alunos devem aprender em cada série. Um sistema de avaliação que meça a evolução do aprendizado é o quarto, e o quinto é um sistema de premiação e punição. Premiar quem faz direito é sempre um fator determinante para quem deseja continuar fazendo bem-feito.
Apresentados os dados e comentários dos especialistas, somados às nossas impressões e vivências, podemos reconhecer que o ensino público nacional é um desastre, opinião também do entrevistado de Veja. Isso dói, é claro, em todos nós e soa como um fado. No entanto, caminhos existem, os especialistas estão aí todo o tempo – criticam, avaliam, apontam estratégias. Se haverá mudanças significativas, bem, isso exige de todos uma postura de gente que se sente incomodada com o quadro apresentado, noticiado nas mídias – embora de forma sutil, na maioria das vezes.
A educação de qualidade é um direito que todos devem reclamar. Mas, se não há leitores, quem se sentirá incomodado?
Findo o meu texto, lembrando os versos de Vinícius de Moraes, que confirmam esse sentimento de indignação.
“A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.”