AVALIAÇÕES
Avaliações
DIR/valdirfilosofia@hotmail.com
Muitas pessoas, na época escolar, já temeram o termo “avaliação” e até ficaram doentes na véspera da prova. E isso não é por acaso, já que esse instrumento educacional tem sido aplicado de forma punitiva, em vez de formativa.
Punitiva porque os alunos que não iam bem nas provas eram taxados de preguiçosos, indisciplinados e, até mesmo, burros. Antes das mudanças trazidas pelo “Programa Progressão Continuada” (não vou entrar no mérito da questão) e da “Recuperação Paralela” os repetentes eram até mesmo segregados às salas dos mais fracos. Geralmente em salas que correspondiam as letras D, E, F.
Essa cultura autoritária e repressiva, apesar dos avanços dos estudos acadêmicos, ainda está presente na maioria das escolas.
FORA DO MURO DA ESCOLA
O medo da avaliação não ficou só dentro das escolas. Depois de formar uma cultura autoritária e repressiva em milhares de mentes, disseminou-se por toda sociedade.
Trabalhando em uma fábrica, o operário já estará ciente que será avaliado por um superior, constantemente.
E muitas vezes quando surpreendido por um erro, até mesmo intencional, torna-se alvo de recriminações e ameaças. Sujeito a assinar advertência, que, por sua vez, será motivo para o trabalhador não participar da progressão salarial.
Numa loja de departamento, outro exemplo, sempre há quem esteja de olho na falha do outro. Não para socorrer e corrigir, mas para surpreender e punir. Assim, tem condições de subir (seja lá pra onde) no emprego.
E O TIRO SAI PELA CULATRA
Se a intenção de uma avaliação dessa era reformar o comportamento da vendedora, do empregado ou do aluno, para que desenvolvam um trabalho melhor, na verdade produz baixa autoestima, aversão contra o avaliador e contra a instituição ou empresa, desprazer em realizar as atividades, diminuição da autoconfiança, inimizade. E daqui em diante inúmeras situações negativas.
Um péssimo sinal para uma empresa, porque esse estado de coisa é contagioso. A qualidade da produção cai, a relação humana fica insustentável e, logo, corre o risco de demissões ou greves.
Para a escola, o mesmo estado negativo provoca desmotivação nos alunos, falta de autoconfiança no processo de ensino-aprendizagem. Os alunos começam a manifestar irritabilidade e desprazer com as atividades pedagógicas e com a escola.
DAS AVALIAÇÕES FORMATIVAS
Todas as avaliações deveriam ser formativas e diagnósticas. Isso significa que o momento avaliativo serve para identificar dificuldades, buscar soluções. Encontrar aprendizado e competência dos alunos e planejar ações diante resultados obtidos.
Se por acaso um aluno não consegue fazer operações multiplicativas, com a avaliação o professor deverá ser capaz de planejar meios para efetivar o aprendizado da criança.
Numa fábrica, o supervisor deverá usar as avaliações rotineiras para identificar pontos problemáticos e propor soluções para eles. Culpabilizar nunca solucionou problemas de produção. No entanto, uma equipe motivada, organizada e coesa, com um supervisor capaz de comunicação e relação afetiva pode, juntos, buscar soluções e aumentar a eficiência.
Já um professor capaz de usar a avaliação formativa e diagnóstica terá condição de entender seus alunos, se aproximar deles e ajudá-los o quanto for necessário. Aumenta, assim, a confiança que o aluno tem pelo professor. E também a admiração e respeito.
SARESP/PROVA BRASIL/ENEM
Já ouvi muitos professores preocupados com as pontuações que a escola recebe no SARESP ou na PROVA BRASIL como se estivessem numa competição entre escolas.
Muitas vezes os dados dessas provas não são trabalhados com os professores para adequar planejamento escolar e o Projeto Político-Pedagógico. Conheço, até, escolas que não têm um Projeto Político-Pedagógico.
Pode até ser que essas provas sejam classificatórias, como o ENEM, para que o candidato alcance uma vaga desejada. Mas o SARESP, a PROVA BRASIL e, até mesmo, o ENEM trazem dados ótimos para nossa autoavaliação. Com esses dados podemos identificar nossas dificuldades e buscar meios de solucionar. Não para ganhar uma competição que não existe. Mas para ser cada dia melhor do que antes.
A RELAÇÃO HUMANA NA ESCOLA
Paulo Freire muitas vezes em seus textos denunciou as instituições escolares tradicionais e repressoras, de uma educação bancária, pautada numa relação hierárquica e autoritária.
Num exemplo bem simples, o diretor é intransigente com o professor. O professor é rude com o aluno. E em quem os alunos irão descontar? No cachorrinho?
Há climas de medo entre funcionários e vendedores com supervisores que muitas vezes usam seus cargos para oprimir e até tirar vantagem de seus trabalhadores.
Na escola, educadores acabam retraídos com uma gestão repressora. E muitas vezes a gestão utiliza de avaliações tendenciosas para punir funcionário que não se enquadram com os princípios da direção.
AUTORIDADE NÃO É AUTORITARISMO
Muitas pessoas, principalmente educadores, confundem AUTORIDADE com AUTORITARISMO. E acredito que essa confusão é base dos principais problemas presente nas relações humanas e educacionais.
Enquanto AUTORITARISMO é uma força violenta de alguém para subjugar outra pessoa, AUTORIDADE é o poder dado a alguém, pelos seus companheiros, por causa do conhecimento e competência demonstrados.
Exemplificando: Na escola, o professor só tem autoridade sobre os alunos, se os alunos reconhecerem que o professor tem conhecimento e competência para fazer o que se pretende.
Já o professor é autoritário, pois precisa impor uma força de coerção sobre os alunos. Os alunos, como percebem a incapacidade do professor, não concedem a autoridade.
O mesmo acontece com o Prefeito e os vereadores eleitos. O poder que eles têm não é propriamente deles, mas concedidos pelas pessoas que reconhecem o conhecimento e a competência dos representantes.
É isso!
Originalmente publicado em http://www.cidadedepenapolis.com.br/2012/09/avaliacoes.html