Dados de semiose e conhecimento
O termo semiose pertence à área da ciência dos signos (semiologia e semiótica), que foi introduzido por Charles Sanders Peirce para designar o processo de significação, a produção de significados. Peirce e Saussure desenvolveram a ideia de semioses para relacionar linguagem com outros sistemas de signos (Wikipédia, a enciclopédia livre). Diz respeito ao que é usado como signo ou sinal.
Tomemos a seguinte situação para exemplificar o termo semiose. Imagine que você esteja interagindo com um grupo de vinte alunos, uma turma inteira. E você solicita para o primeiro aluno da chamada, que ele faça uma manifestação de amizade para o aluno seguinte e assim, sucessivamente, um a um até o último aluno da turma. Embora algumas manifestações se repitam, haverá os mais diversos tipos de manifestações, desde um simples aperto de mão, um abraço, um beijo, um gesto qualquer, algo escrito, um olhar, um sorriso e assim por diante. Esta forma diferenciada com que cada aluno expressa a sua amizade é um dado de semiose. Cada pessoa expressa diferentes elementos de sua vida por diferentes dados de semiose. E haverá dados de semiose específicos para expressar elementos específicos, que dependerão das relações, das vivências e das circunstâncias.
Muitas vezes quando a pessoa está entre conhecidos, ela usa dados de semiose para se expressar que não usaria se estivesse entre estranhos. E certamente as pessoas próximas a ela compreenderiam de um jeito totalmente diferente daquele que compreenderiam as pessoas estranhas, isto devido à aplicação de diferentes dados de semiose. E a forma como a pessoa expressa seus dados sempre será significado por ela. Se ela ama alguém, a forma como ela manifesta isso, se é estando junto, se é beijando, se é abraçando ou sorrindo ou se é tudo isso ao mesmo tempo, todos são dados de semiose definidos por ela. Os dados de semiose servem para dar sentido àquilo que a pessoa deseja expressar.
Ciente dessas questões, o professor passa a ter um olhar diferenciado e mais qualificado sobre seus alunos. Ele poderá se perguntar o que faz com que determinado aluno utilize uma forma ou outra para se expressar. Como, de hábito, aquele aluno se expressa? Faria alguma diferença se o aluno se expressasse de outra forma? A mudança da expressão alteraria o significado do conteúdo? Certamente que estas perguntas e outras, com suas respectivas respostas, dariam ao professor uma condição de interação bem mais eficiente com seu aluno. Importante que o professor tenha consciência de que diferentes formas de expressão do aluno podem expressar diferentes conteúdos e significados, que nem sempre ele consegue demonstrar pela escrita e pela fala, que são as duas formas de expressão mais utilizadas em sala de aula.
Muitas vezes o professor organiza uma aula maravilhosa, com metodologia e objetivos bem planejados, mas não considera os dados de semiose preponderantes naquele grupo de alunos. Não significa que isso garantiria a aprendizagem, pois o processo envolve pessoas singulares e diferentes, o que demonstra que a recepção por parte dos alunos não é padronizada, mas certamente o professor estaria bem mais perto de atingi-los. Uma situação bem emblemática e exemplar para se entender essa situação é imaginar um aluno que tenha como dado de semiose relevante, por exemplo, dado cinestésico, ou seja, ele através da expressão corporal tem habilidades para construir conhecimentos e resolver problemas, mas a escola determina que ele tenha que ficar várias horas por dia, sentado, tendo que resolver problemas objetivos, sem significados, levados pelos professores.
O professor precisa acreditar e buscar conhecer as mais diversas nuanças que fazem parte do processo de aprendizagem. Tornar-se um “expert” naquilo que ele precisa fazer bem, isto é, ser um mediador competente no processo de construção de conhecimento de seus alunos. O professor não precisa se sentir culpado por não possuir tais conhecimentos, mas tem obrigação de buscá-los.
Mauro Feijó