Como Encarar?
O que fazer para se acostumar com a morte? Acho que tenho a resposta: nada. Definitivamente, nada. Não importa se vamos morrer um dia; não há problema saber que isto será inevitável. Em cima de toda essa certeza, de toda essa realidade só nos resta, como remédio para esse mal, vivermos cada dia de nossa existência como se fora o derradeiro, já que não temos como saber em que momento e de que forma o fantasma da morte virá nos surpreender. Viver intensamente, sublimar as dádivas contidas no universo sem que seja indispensável a renúncia delas. Entender o que seja vida e o que seja morte. É quando estamos saudáveis e cheios de vida que tendemos ao esquecimento de que este estado é apenas passageiro; não pela possível vinda da doença que é em si, uma anormalidade, mas pela inexorável aurora do existir, inevitável. A fraqueza do velho o predispõe à morte, mas a agilidade e o viço da juventude engana o espírito menos evoluído e o predispõe à vaidade, à intemperança; essas, sim, porta larga para a decrepitude. Portanto, é preciso cuidado no viver o dia a dia sem esquecer e sem se descuidar de cada passo que levará fatalmente ao fim da estrada. O velho que se arrepende de não ter feito o que deveria está propenso a uma morte triste. O ancião amargurado foi o jovem incapaz de amar e de se dar à vida sem esquecer a morte. Viver é portando alegrar-se por saber que não existe morte para quem viveu plenamente.