A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E A FORMAÇÃO DO SUJEITO CRÍTICO
A sociedade contemporânea marcada pelo capitalismo e pelos avanços tecnológicos tem imposto aos sujeitos uma nova forma de viver e agir que traz a necessidade de uma nova postura desse sujeito na sociedade, postura esta que deve corresponder à dinâmica social e estar assentada no exercício da razão e do método. Além disso, é necessária a compreensão de que a escola se constitui como espaço formador do sujeito crítico para essa realidade social.
A lógica da sociedade contemporânea tem submetido às pessoas a disciplina de tempo e de controle, pois com as mudanças ocorridas na conjuntura social, isto é, alterações no ritmo de trabalho, o processo de globalização de produtos, de comportamentos e informações, o tempo social determinado pelo relógio, levaram ao processo de transformação social, no qual o homem passa a não subordinar-se mais ao tempo natural e biológico.
Além disso, é importante ressaltar que foi a partir da Revolução Industrial com a introdução do relógio que houve a constituição dessa nova lógica social, pois com o surgimento de máquinas e grandes empresas, as relações sociais e de trabalho foram modificadas e o homem passou a ser visto como uma máquina, que deve executar determinadas tarefas em um tempo pré-estabelecido. Desse modo, a sociedade foi se configurando em consonância com essa nova realidade, ditada pela lógica capitalista de produção.
As transformações decorrentes desse processo, também atingem a maneira como se constrói e dissemina conhecimento. O avanço nos meios de comunicação e na tecnologia, principalmente com a utilização do computador e da Internet, trazem a chamada “era da informação” que proporciona ao ser humano o maior e mais rápido acesso as informações, ao conhecimento. É válido ressaltar que com o advento da Internet, também criou-se um tempo virtual que possibilitou a consolidação dessa “era da informação” na atualidade.
Diante dessas transformações na dinâmica social, em que a vida humana passou a ser condicionada pelas determinações do tempo e da máquina, emerge a necessidade de adaptação do sujeito a essa realidade, pois ele precisa viver de modo condizente com o mundo globalizado e suas exigências.
Nesse sentido, está a chamada razão prática, que se traduz na necessidade do indivíduo de realizar opções racionais tendo como base o custo-benefício, e sendo realizada em um tempo pré-determinado. Desse modo, é através do exercício da razão prática, que o sujeito busca se adaptar aos ditames da sociedade, pois ao utilizá-la ele entende e age de acordo com o que lhe é requerido. Um exemplo disso é a necessidade de saber manusear os equipamentos eletrônicos, pois a sociedade informatizada exige do indivíduo a habilidade de utilizar esses equipamentos, tendo em vista que na ausência dessa habilidade, o indivíduo pode ser excluído até mesmo do mercado de trabalho.
É válido ressaltar a necessidade do exercício da razão crítica em meio a todo esse turbilhão de transformações e exigências que a dinâmica da sociedade traz ao sujeito. Essa razão crítica permite ao indivíduo compreender o meio em que vive e estabelecer o seu método, a sua metodologia para viver e agir sobre o mundo, mas o direito de exercer essa razão só é garantido quando a razão crítica não vai de encontro a razão prática da sociedade atual. Por isso é que se pode afirmar que a razão prática, acaba por comprometer o exercício da razão crítica, ou seja, compromete a autonomia do sujeito em tomar decisões tendo como base seus valores, desejos e compreensão de mundo.
Sob essa perspectiva, o desafio apresentado ao sujeito na sociedade atual é o de conviver com essa dupla determinação: utilizar a razão prática sem, no entanto perder a capacidade da racionalidade crítica. Para isso é necessário a utilização do método, ou seja, estabelecer uma metodologia para se viver no contexto social de modo a utilizar a razão prática direcionado pela razão crítica.
Neste contexto surge a necessidade de se oferecer aos sujeitos condições para que eles se construam enquanto atores sociais capazes de criar sua metodologia para viver em sociedade, exercendo sua razão prática sem comprometer sua razão crítica. È nesse momento, que se pensa na escola como o espaço no qual esse sujeito irá se formar enquanto um ser crítico.
Todavia, faz-se necessário que a escola esteja preparada para possibilitar ao indivíduo todo o aparato para a sua formação, e para isso a escola deve ter uma concepção de educação condizente com a necessidade dessa formação crítica e uma prática contextualizada que de fato permita ao sujeito a construção de uma racionalidade crítica.
Nesse sentido, a escola precisa também estabelecer a partir de projetos uma metodologia contextualizada, de acordo com as diferentes realidades que a sociedade atual apresenta, buscando dessa forma, se tornar um espaço de discussão em que o aluno entra em contato com as nuances de sua realidade, mas buscando compreendê-la de forma crítica e também prática. Levando em consideração que para que a metodologia elaborada pela escola se concretize e favoreça essa compreensão do aluno, o professor bem como toda a comunidade escolar, deve buscar também uma formação que o capacite a uma ação pedagógica efetiva e atualizada a realidade.
Para obter essa formação, a escola pode promover cursos de formação continuada, criar grupos de estudos sobre temas específicos da atualidade que precisam ser trabalhadas em sala de aula, incentivar a participação dos professores em congressos e seminários que possam enriquecer sua formação etc. No entanto, vale salientar que para buscar essa qualificação, o professor como os demais profissionais envolvidos no processo escolar, como gestor, coordenador pedagógico, professores de áreas específicas como Informática, devem conscientizar-se da importância da metodologia científica, isto é, da pesquisa para sua formação e no caso do professor, para a sua ação pedagógica, pois através da pesquisa, é que se busca soluções para os desafios existentes do cotidiano escolar, sobretudo quando se fala no desafio de formar um aluno crítico e participativo em sua realidade.
Diante de uma sociedade globalizada em rápida e constante transformação, o que se impõe a cada sujeito é necessidade de se adaptar e corresponder a todos os aspectos dessa dinâmica social, mesmo que adaptar-se possa significar perder sua autonomia e seu direito a pensar o mundo em que vive. Mas o que de fato se interpõe, é o desafio de se constituir um sujeito perspicaz, que utiliza a razão para compreender e dialogar com sua realidade criando métodos para facilitar o seu viver nesse meio social. E por considerar a importância de formar esse sujeito crítico, é que a escola não poderá em nenhuma hipótese deixar de ser constituir em um espaço de construção e formação desse sujeito.