Sinopse sobre a dissertação de mestrado de Alessandra Xavier de Morais na UFRRJ( Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

IDENTIDADE PSICOSSOCIAL DOS ADOLESCENTES DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO (CAMPUS VITÓRIA DE SANTO ANTÃO) EM REGIME DE INTERNATO

“Alessandra” é psicóloga e atua no setor de orientação educacional (SOE) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco - Campus Vitória de Santo Antão. Ela iniciou o trabalho apresentando o internato, o seu funcionamento como modelo de escola fechada e que teria uma certa simpatia da elite do século XIX, pois esta, vez por outra, recorria a essa forma de educandário com a finalidade de colocar nele, os jovens que não se comportavam conforme as regras que aquela sociedade estabelecia. E nesse contexto, a autora vai encontrar na arte literária vários casos de internatos que foram narrados com tanta veemência que , em princípio, só poderia ser descrito por alguém que tivesse vivenciado aquela situação. Principalmente da forma com que expunha a identidade psicossocial do interno , relatando os seus dramas pessoais e as situações históricas ,nas quais, aquele jovem estava inserido. No caso do Ateneu , Raul Pompéia também aborda a questão, República; logicamente ,antes de sua proclamação- o Brasil vivia no regime monárquico-, e sabe-se que se trata de uma das principais obra da literatura brasileira, onde o protagonista Sérgio, na sua adolescência, depara-se com um ambiente totalmente diferente do que até então conhecera; e essa nova realidade o deixa confuso, fazendo com que ele procure caminhos que, pressupõe-se, não lhe seriam apresentados fora das paredes daquela escola que servia mais como uma punição do que uma alternativa para despertar nos jovens o interesse de construir um aprendizado mais eficiente. A sexualidade é umas das dúvidas que lhe causa, em alguns momentos, crises existenciais, e que vai dar àquele romance um clima de grande sensibilidade dentro de uma perspectiva social conservadora e repressiva.

E também José Lins de Rego com “Menino de Engenho”, embora com uma temática menos contundente , conclui-se, devido a uma facilidade nas relações apresentadas pelo autor, olhando-se pelo prisma tipicamente regional. Ainda assim ,também possui uma certa carga dramática, evidentemente , com menor intensidade ,comparando-se com a obra anteriormente citada. E é nessa linha de análise que a autora vai fazendo um parâmetro com as condições atuais das escolas com um regime de internato. No caso da escola pesquisada (Campus Vitória) que tem o propósito de atender uma clientela , em sua maior parte, rurícola. Ou seja, os filhos de agricultores que deixam sua família e ,obviamente, o seu habitat, para incluir-se em um novo convívio, onde as diversidades culturais e até mesmo hábitos individuais, podem se tornar um fator importante para determinar o comportamento do jovem interno. Há outros literatos em que a autora vai buscar inspiração para dar sequência ao seu trabalho. Itamar de Vasconcelos com “ A selva” , também é visto como um digno representante na discrição da realidade daquele sistema educacional tão representativo no Século XIX. E lembrando o historiador francês Philippe Ariés , que a autora ,apresenta-o como um competente relator das condições de vida daquela escola fechada , comparada como um depósito de jovens com poucas referências práticas e necessárias para viver em uma sociedade que insistia em preservar valores considerados ultrapassados pelas gerações que surgiam, e que , provavelmente essas gerações, tentavam derrubar esses paradigmas de forma pouco convencional, com ideias , tão pertinente a esse estado de espírito: a adolescência, onde o inconformismo e ações ‘agressivas’ , na maioria das vezes, prevalecem

E assim, como na literatura, a realidade dos alunos internos dos educandários atuais, possui elementos afins, evidentemente, levando-se em conta a questão epocal. No entanto, quando a autora parte para um processo investigativo personificado encontra as emoções negativas e os conflitos que por vezes faz-nos reportarmos aos personagens fictícios dos romances daquela época .Porém, admitindo-se uma subjetividade; é essa subjetivação que que vai dar suporte para a compreensão desse estado psíquico, provocado pela relação - internato x interno-, e sendo assim, as resoluções podem aparecer com uma maior facilidade. Essa subjetividade é defendida pelos principais pensadores da educação estudados pela a autora . E na entrevista com os internos, a autora constata problemas, às vezes ,considerados de pouca relevância, como o de alunos evangélicos que não podem ir às festas, e recebem a solidariedade dos colegas não evangélicos que deixam de ir às referidas festas. Porém, também aparecem outros casos ; e pode-se dizer que possui uma certa complexidade, como a saudade da família, por exemplo. E nesse caso, exige-se uma atenção especial por parte dos dirigentes, dos profissionais, enfim de todos que estão envolvidos naquele ambiente escolar cujas características administrativas é um ponto que requer um cuidado maior, como fora citado por um determinado autor sobre a problemática do autoritarismo.

E a autora sai da literatura e entra no universo dos pensadores da educação, os mais expressivos após aquele período que deu um novo rumo à história humana, motivados por acontecimentos como a revolução industrial que dava sequência à revolução francesa, no sentido de trazer para a luz da razão um mundo que estava dominado por convicções consideradas obscuras e sem compromissos humanísticos, e era lançado um novo olhar para as questões educacionais e que a partir daquele momento ganhariam um contorno diferente .Michel Foucault foi um dos grandes estudiosos citado nesse trabalho e percebe-se facilmente a admiração de ”Alessandra” por esse filósofo francês que revolucionou a maneira de pensar a educação, contribuindo fortemente para um avanço, não apenas no sentido de se expressar ideologicamente as mudanças no campo social, mas também, o comportamental, e que foi um dos objetivos focado por esse intelectual que participou ativamente dos movimentos que influenciaram definitivamente as relações políticas e sociais apoiadas pela evolução educacional do século XX.

Além de Foucault , mais pensadores da educação, envolvidos nos estudos do comportamento da criança e do adolescente fazem parte desse trabalho, Fonseca, Benelli, Knobel, Kimmel ,Muss, Vygotsty...E outros . Vale salientar que é através desses estudiosos que “Alessandra” faz um panorama da civilização ocidental e o tratamento dispensado pelo adulto a essas duas fases da vida, e é com muita propriedade, (ternura) que a autora recorre à Grécia antiga, e claro, a sua filosofia:

“A adolescência vem sendo objeto de estudos desde a Antiguidade, quando Platão citava os jovens como apaixonados e emotivos em seus Decálogos. Já Aristóteles se referia ao período de 14 a 21 anos como o estado mais alto da alma”.

E, em se tratando da infância, o tema fora destacado com bastante ênfase; sobretudo abordando a situação da criança na idade média que era relegada a um plano secundário ou inferior. Há até os que achavam que a criança era um quase adulto. Ou seja, a infância não existia. E esse é o ponto em que “Alessandra” foi muito oportuna em trazer a tona uma passagem histórica pouca conhecida pelas gerações subsequentes.

Finalizando , eu destacaria a sensibilidade da autora em pensar o internato ou a escola com regime de internato como uma proposta viável, no contexto do ensino e do mundo do trabalho; poderíamos dizer, imprescindível para o desenvolvimento dos estudos agrícolas em nosso país. Tanto pela questão geográfica, política e social; como também, fundamentada pelos argumentos técnico-pedagógicos que os teóricos citados nesse trabalho apresentaram , e que foi constatado na prática. E “Alessandra” foi muito feliz quando ressaltou:

(... Particularmente para o ensino agrícola essas mudanças tiveram um significado maior uma vez que o mesmo possui particularidades, como a necessidade de o aluno permanecer na escola o dia todo, receber uma clientela de um nível social mais baixo e oriunda de cidades distantes ou ainda de zona rural. Esses elementos requerem a formatação de uma matriz curricular integrada que possibilite a aquisição pelo aluno de uma formação humanística, científica e técnica, preparando-o para o enfrentamento das questões e desafios contemporâneos. Estudar em horário integral é uma condição para a obtenção dessa formação. Nessa nova perspectiva, o regime de internato voltou a ser um elemento essencial. Então, o governo federal, por meio de medidas legais, passou a defender o internato como um direito do aluno e como uma forma de promover a inclusão social. Para isso, incentivou as escolas a adotarem medidas importantes como: ampliar a oferta de vagas no internato, melhorar as instalações para possibilitar um maior conforto aos internos, extinguir todas as taxas cobradas e oferecer bolsas estudantis para favorecer o acesso dos filhos dos agricultores aos cursos agrícolas. Nitidamente, o regime de internato nessa perspectiva passa da função de correção e de enclausuramento para uma função social de inclusão das classes menos favorecidas...)"

Soleno Rodrigues
Enviado por Soleno Rodrigues em 31/08/2012
Reeditado em 11/01/2014
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