Educação ambiental: lendas e conhecimentos
Neste artigo proponho uma reflexão sobre a educação ambiental que acontece em espaços não escolares, uma educação cujos ensinamentos são repassados as futuras gerações (Brandão, 2007). Uma das formas encontradas por essas comunidades estavam nas lendas e mitos de um povo. Pare por um momento e pensei como as pessoas que vivem nas comunidades rurais de seu município ensinam seus filhos, filhas, netos e netas a plantarem, a colherem, a pescarem. A escola era a floresta e o rio, as cadeiras o chão e a canoa que os levavam ao desconhecido. Os professores e professoras aqueles que tinham o prazer em ensinar e aprender.
Busque em sua memória, uma lenda ou um mito que ensinem sobre como cuidar da natureza, as suas origens e o significado do seu nome. Pensou? Faça uma pesquisa básica sobre lendas amazônicas e com certeza você encontrará os grandes mistérios e ensinamentos. Assim como, a lenda da mandioca que conta a sua origem cuja maneira de plantar no solo está relacionada à morte de uma criança. A lenda do curupira, o guardião da floresta, retrata o respeito que os povos indígenas tinham com a vida dos seres humanos e não-humanos. Esses mitos contados por povos indígenas e comunidades na Amazônia da mesma maneira que os mitos gregos, segundo Brandão (1987):
[...] além de agregarem padrões de comportamento humano, para vivermos criativamente, permanecem através da história como marcos referenciais através dos quais a Consciência pode voltar às suas raízes para se revigorar. (BRANDÃO, 1987, p. 10)
Ao desenvolver os projetos e pesquisas sobre as espécies ameaçadas de extinção como, por exemplo, o pirarucu (Arapaima spp ) é necessário investigar o conhecimento das comunidades, seus mitos e lendas. Assim, as comunidades e os povos possuem diferentes “visões de mundo da cultura indígena” (COELHO, 2003, p. 129) que ajudam a compreender a partir da fenomenologia de Bachelard (1989) o imaginário destas pessoas na região da Amazônia.
Esses conhecimentos transpassam as questões científicas e nos ajudam a entender as relações culturais. Desta maneira é preciso um mergulho nas pesquisas em educação ambiental, considerando a identidade destes sujeitos (Hall, 2006). As lendas, os mitos fazem parte da identidade de um povo de uma nação. Entretanto, com um devido cuidado para o olhar aos sujeitos e suas relações locais. As mulheres e homens que vivem na Amazônia têm contribuído para a conservação destes recursos naturais. A educação ambiental atrelada à educação popular caminha com as comunidades e com os movimentos (Brandão, 2002). Portanto, exige que façamos uma educação ambiental com as pessoas e não para as comunidades. As pessoas que vivem nessas regiões conhecem os sistemas naturais e ecológicos, ao contrário os conhecimentos populares e científicos devem caminhar juntos.
Sejamos curupiras prontos a proteger o nosso mundo!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACHELARD, G. A poética do espaço. 1ª Edição. São Paulo, Martins Fontes, 1989
BRANDÃO, C.R. A educação como cultura. Campinas. SP. Mercado de Letras. 2002.
BRANDÃO, J. S. Mitologia grega. Vozes. Petrópolis. 1986.
BRANDÃO. C. R. O quê é educação popular. São Paulo. Brasiliense. Coleção Primeiro Passos. 2006.
COELHO, M.C. P. As narrações da cultura indígena da Amazônia: Lendas e histórias. Pontifíca Universidade Católica de São Paulo. Tese de Doutorado. São Paulo. 2003.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. DP&A Editora. 1ª edição em 1992. Tradução: tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro. 11ª edição em 2006.