HISTÓRIA DE REALENGO - CAPÍTULO I
ORIGEM DO BAIRRO DE REALENGO
CAPÍTULO I
TERRAS REALENGAS
O Rio de Janeiro de Estácio de Sá
Para falar sobre terras Realengas é necessário compreender que este assunto teve seu início no ano de 1532 com a chegada de Martin Afonso de Souza que aqui chegou com a missão de fundar uma vila no sul do litoral brasileiro em São Vicente, fundou na Baía de Guanabara e aqui permaneceu por meses.
Nicolau Durant de Villegaignon chega em 10 de novembro de 1555 na Baía da Guanabara com a finalidade de estabelecer no novo mundo uma colônia francesa - a França Antártica, onde pudesse acolher os protestantes calvinistas combatidos e perseguidos pelos católicos em toda a Europa. Tanto Martin Afonso, como Villegaignon conquistaram a confiança dos Tamoios.
Jean de Lery que tinha boa cultura e sólida formação religiosa, veio em auxílio a Villegaignon comandando uma esquadra juntamente com o Almirante Bois - le Conte em 17 de março de 1557, e juntamente com seus missionários muito se dedicaram a catequese dos Tamoios, que deles tinham total confiança. O Jean de Lery publicou um livro " viagem à terra do Brasil " onde relatou a vida dos Tamoios, seus costumes, relacionamentos, tipos de alimentação, ervas, língua, religião e ele também relacionou 22 aldeias nas margens do rio Guanabara, três delas estavam dentro do termo da cidade que seria fundada por Estácio de Sá : Pavuna, Inhaúma e a da Sapopemba.
A palavra Piraquara foi dita pela primeira vez por Jean de Lery, que era o nome de um vegetal abundante na região. Após a missão de Jean de Lery, passado oito anos foi fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Estácio de Sá, após delimitado seu território, tratou de nomear um conselho de vereadores e funcionários e criou o brasão da cidade, e preocupou -se em ocupar e povoar a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, distribuindo terras ( sesmarias ) aos jesuítas e a câmara Municipal.
Pedro da Costa tomou posse e foi nomeado escrivão das sesmarias e tabelião de notas, então, foram concedidas sesmarias a quem solicitasse da Câmara no Campo Grande, que era situado para além dos campos do Irajá. As sesmarias da Câmara atingiram até a Piraquara que era o rio que corre no Campo Grande.
O SISTEMA SESMARIA – ( ALDEIA SAPOPEMBA E AS TERRAS DOS AFONSOS )
As sesmarias concedidas a particulares eram doadas sem ônus, apenas o pagamento do dízimo à ordem de Cristo, pois, eram destinadas ao povoamento e desenvolvimento econômico da região. Já as sesmarias patrimoniais dependiam de ordem para suas criações.
As terras da aldeia Sapopemba com o tempo se tornaram sítios e fazendas dos Afonsos, que recebeu este nome devido aos quatorze filhos de Antônia Coelho de Assunção com João Afonso, e esta tradição perdurou por muito tempo. As terras dos Afonsos íam de Tapera até próximo à Piraquara. Passado muitos anos, no local das terras de Sapopemba se formou o Bairro Campo dos Afonsos, onde hoje abriga a Viação brasileira. A partir de 1906, estas terras foram desapropriadas para a construção da estrada Rio - São Paulo e as terras dos Afonsos
foram parar nas mãos do Ministério da Justiça.
Rumo ao progresso, as mudanças seguiram seu percurso, daí surgiram a Escola brasileira de Aviação em 1914, o museu Aéro Espacial, a Escola da Aeronáutica, a escola de Recrutas da Polícia Militar - formação de oficiais, que está situada na antiga fazenda dos Afonsos.
O JARDIM SULACAP- CAMPO DOS AFONSOS E DEODORO
Com o passar dos anos, outros bairros foram se formando como é o caso de Sulacap, construído em meados do século XX e formado por sua maioria de militares, este se situa em frente ao Campo dos Afonsos, entre a antiga Estrada Real de Santa Cruz, atual Intendente Magalhães e a encosta do maciço da Pedra. Antigamente, nas terras onde hoje pertencem a Sulacap, existia uma grande extensão de canaviais o qual era absorvido pela fazenda dos Afonsos e aos Carmelitas.
Além do Campo dos Afonsos, o atual bairro Deodoro foi formado e em 1858, inaugurou - se a Estrada de Ferro D. Pedro II que ligava a corte à Queimados, com o tempo surgiram o alongamento das estações Matadouro, Realengo, Campo Grande e Santa Cruz, graças a determinação da lei Imperial. Com a nova estação de Sapopemba foram criadas a Usina Elétrica " o paiol " em 1906, a fábrica de brinquedo, a fábrica de tecidos de linho.
A VILA MILITAR E MAGALHÃES BASTOS
A Vila Militar abriga a maior e mais importante zona militar do Brasil e foi inaugurada em 1908, construída sob o comando do Coronel Inácio de Alencastro Guimarães. O bairro Magalhães Bastos, abrigou os militares que trabalhavam na Vila Militar, inaugurada em 1914 e recebeu este nome em homenagem ao Coronel António Leite Magalhães Bastos Junior e que também ajudou na construção da Vila Militar.
PIRAQUARA
O nome Piraquara surgiu de um grande condomínio rural chamado " fazenda Piraquara " que se situava às margens de um rio cujas terras eram férteis e tal rio situava - se entre o maciço da Pedra Branca e as serras do Barata e a de Bangu, onde também existiam índios mansos.
A fazenda Piraquara foi adquirida por dois irmãos da família Fernandes Barata, isto ocorreu no ano de 1770, onde então esses irmãos reformaram toda a fazenda e fez dela uma das mais produtivas. Um grande engenho foi feito, como já tinham feito um canavial, produziram aguardente e criaram gados.
Um dos filhos de Fernandes Barata, Manoel Fernandes Barata, sugeriu ao presidente da Câmara dos Municípios da Corte a divisão da Freguesia em quatro distritos fiscais, sendo que o primeiro começava na ponte da Piraquara até o engenho do Lameirão, compreendendo as fazendas do Lameirão, Coqueiros, Viegas, Bangu, Piraquara, Retiro e Realengo.
A fazenda Piraquara foi registrada no livro de registros de terras da Freguesia de Nossa Senhora do Desterro do Campo Grande e em 1854, o Alferes Procópio Nunes de Mello registrou - se como possuidor da quarta parte das terras da fazenda Piraquara. O nome fazenda dos Baratas assim chamada pois, lá residiu por dois séculos e meio a família e herdeiros de Manoel Fernandes Barata.
A FAMÍLIA FERNANDES BARATA
A família Fernandes Barata se originou na França no século XII, o termo Barata era o nome dado a um antigo título de dívida. Chegaram ao Brasil por volta de 1770, estabeleceu – se na Freguesia do Campo Grande e adquiriram a fazenda Piraquara onde montaram um grande canavial e um alambique de aguardente, uma olaria e criaram um rebanho de gado bovino. Manoel Barata sugeriu a divisão da Freguesia em quatro distritos fiscais.
CAMPOS DO GERICINÓ
Essas terras foram dadas pelo tabelião Gonçalo de Aguiar, como dote para a ordenação do Padre Martins Fernandes, mais tarde vigário da Sé. Onde também receberam sesmarias outros tabeliães: Pero da Costa e Belchior Tavares. A António Annes ( sacura ) e Gonçalo Gil, primeiros povoadores de Sapopemba e das margens do rio Piraquara, seguiram – - -se outros que optaram pelas terras situadas entre os rios Mirití, o Pavuna e o rio Guandumirim, que ficaram conhecidas como sesmarias de Gericino.
Padre Martins Fernandes foi o mais importante membro eclesiástico da freguesia de São Sebastião do Rio de Janeiro ( Sé ) no início do século XVII e ele erigiu o primeiro templo no Campo Grande , a ermida de São Lázaro.
MANOEL DE BARCELLOS DOMINGOS
É uma figura quase lendária, pois muito pouco foi escrito sobre ele suscitando muitas dúvidas, diz ter sido ele um dos primeiros conquistadores do distrito do Campo Grande a ter mandado erigir uma capela em devoção ao Desterro da Virgem Mãe de Deus, onde ali foi criado a freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande. A capela Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande foi construída onde existiu a fazenda Bangu e não em Campo Grande.
ANTÓNIO VAZ VIÇOSO
Um dos maiores proprietários do distrito de Campo Grande no século XVII, segundo documentos que comprovam entranhados no processo de medição das terras de Gericino solicitou que suas terras fossem medidas e demarcadas em virtude de muitos herdeiros de Gonçalves D Aguiar e do padre Martin Fernandes terem comprovado seus direitos.
REALENGO
Em 02 de outubro de 1878 foi inaugurada a estação de Realengo da Estrada de Ferro Central do Brasil. O primeiro balão dirigível Bartholomeu de Gusmão foi construído no Angar entre o prédio da Escola Militar de Realengo e a linha de trem por Augusto Severo de Albuquerque Maranhão encomendado pelo Presidente da República Marechal Floriano Peixoto. Em 1894 foi realizada a primeira experiência com o balão no campo de Tiro de Realengo sem alcançar êxito. Em 1898 ocorreu a inauguração da Escola de Tática de Tiro, depois preparatório de cadetes do exército, Escola de Artilharia e engenharia, depois a Escola militar de Realengo e da fábrica de cartuchos do Exército. Em1902, o “ paix “ sobe sob aplausos do público , mas acaba explodindo e com isso acaba de maneira trágica a vida das primeiras vítimas brasileiras da conquista do espaço iniciada no Campo de Marte , em Realengo.
A REVOLTA DOS 18 DO FORTE DE COPACABANA
Repercutiu na Escola militar de Realengo, onde o Comandante João Maria Xavier de Brito Junior, considerado uma figura de grande sabedoria e virtude era incumbido da difícil tarefa de controlar, conduzir e manter a ordem daqueles momentos difíceis.
A FAZENDA DO RETIRO
Limitava – se com a fazenda Bangu, pertencia a família de Francisco Gomes de Almeida e seus herdeiros, passava – se por uma ponte sobre a estrada geral que vai da corte a Santa Cruz.
FAZENDA BANGU
A Fazenda Bangu dividia – se por um lado com as terras Realengas do Campo Grande e as da Água Branca, cujos herdeiros eram de Francisco Gomes de Almeida. Por outro lado, dividia - -se com as Terras do Engenho Piraquara de João Fernandes Barata e seus herdeiros, e por outro lado com as terras do Engenho de Viegas que pertencia a dona Helena Januária de Campos Suzano e por outro com a fazenda do Retiro (Sargento Mor Manoel Joaquim de Souza e pelas águas vertentes da ” Terra do Bangu “.
A FÁBRICA BANGU
Construída em 06 de fevereiro de 1889 pela companhia “ De Morgado Snell “ com sede na Inglaterra. Em 1889, inaugurou – se a Estação Bangu da Estrada de Ferro Central do Brasil. Os equipamentos e maquinaria que vinham da Europa saíam diretamente dos navios para os vagões da ferrovia, que os levavam diretamente aos seus locais de destino. A fábrica de Bangu foi muito importante para a vida social , esportiva, política e econômica do Brasil e em 2002 cedeu lugar para a criação de um shopping Center.
MOÇA BONITA E O PADRE MIGUEL
O Padre Miguel se originou do lugar da antiga fazenda da Água Branca, iniciou se ali o bairro de Padre Miguel, com a inauguração do conjunto habitacional do IAPI ( Instituto de aposentadoria e pensões dos industriários ), onde contava – se com um precioso e completo
ambulatório médico – odontológico, farmácia e ali ao redor floresceu um comércio varejista.
O ESTÁDIO MOÇA BONITA ( GUILHERME DA SILVEIRA )
Inaugurado em 15 de novembro de 1947 com o nome Estádio Proletário Guilherme da Silveira. Famoso pelos desfiles e as comemorações do dia do trabalho ali realizado, além de importantes partidas de futebol. O nome Moça Bonita passou a se chamar Guilherme da Silveira, essa mudança ocorreu por determinação da diretoria da estrada de ferro Central do Brasil e Padre Miguel, em homenagem ao padre que marcou a história de Realengo com sua exemplar vida sacerdotal e Guilherme da Silveira que foi um exemplar homem de indústria e finanças que chegou ao ministério da fazenda.
MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL
Em 10 de novembro de 1955 eis que nasce a Mocidade Independente, oriunda de um grupo de sócios de um pequeno clube de futebol. Seus fundadores são: Silvio Trindade, Renato da Silva, Djalma Rosa, Olímpio Bonifácio ( Boquinha ), Ganhaldi Lima, “ o pavão “, Felipe de souza “ o cambalhota “, Altamiro Menezes , o Alfredo do Biggs. Campeã pela primeira vez em 1979 com o enredo “ O descobrimento do Brasil “, cujo carnavalesco era Arlindo Rodrigues e a bateria do mestre André, grande símbolo da Mocidade Independente de Padre Miguel.
A FAZENDA DOS COQUEIROS
Fundada em 1720, seus limites iam da fazenda do Viegas até a serra do Mendanha, as do Lameirão e Santíssimo. Ali foi erecta a capela Nossa Senhora do Desterro e São José do Arnado em 1728. Em tais terras estão situados parte do bairro de Bangu, Senador Camará, Viegas , bairro Jabour e Rio da Prata.
A FAZENDA LAMEIRÃO
Foi criada tal como a dos coqueiros, por Manoel Antunes Suzano que ali construiu a capela do Senhor Bom Jesus do Arnado e Nossa Senhora da Conceição, com provisão de 12 de março de 1743.
O BAIRRO SANTÍSSIMO
O mais antigo bairro da zona oeste criado em 03 de dezembro de 1750 e é o Monsenhor Pizarro que afirma tal data. Santíssimo era um importante e estratégico ponto de passagem obrigatória para quem se dirigisse a fazenda Santa Cruz, Itaguaí e litoral da Baixada de Sepetiba e para as províncias de São Paulo e Minas Gerais. Os viajantes que ali passavam encontravam boa venda e um barracão de pouso confortável. Até as décadas de 50/60 a venda do Santíssimo podia ser visto por quem passasse pela estrada Santa Cruz, mas desabou os seus dias históricos como oficina de borracheiro. Um doutor de nome Clemente Marques, nascido no ano de 1890 de família possuidora de muitas terras, passou a dar atendimento médico e fornecer medicamentos grátis a todos os que o procurava. Após sua morte, seu trabalho foi muito reconhecido e registrado com as homenagens que lhe foram conferidas com a denominação “ gabinete médico Dr. Oscar Clemente Marques que funcionou durante muitos anos na E.M. Almirante Saldanha da Gama e da Biblioteca Dr. Oscar Clemente Marques, organizada na E.M. Charles Péguy ambas em Campo Grande. Em 1943, foi fundada as “ Indústrias Reunidas de Ferro e Aço ( IRFA ), tendo por objetivo a fabricação de motores, elétricos e a diesel, locomotivas, carros e vagões de aço, chassis para caminhões e vagões tanques para transportes. Em 1949 a IRFA mudou – se para Santíssimo.