BIBLIOTECAS E BIBLIOTECÁRIAS(OS)
A origem das bibliotecas se perde nas brumas da história. Mas a arqueologia descobriu coleções de escritos, datadas entre 3400-3000 a.C, na antiga cidade de Uruk, localizada no atual sul do Iraque; e nos reinos da antiga Assíria, datadas entre 2600-2400 a.C. Coleções de escritos também existiam na antiga Babilônia já antes do ano 2000 a.C. Estas coleções se ampliaram, posteriormente. Do reino de Hamurabi (1792-1750 a.C.) chegou até nós o célebre Código de Hamurabi, cuja legislação repercutiu também nos escritos bíblicos. Muitas referências a fatos e lendas da Antiguidade estão relatadas nos cerca de 30.000 tijolos da biblioteca de Assubanipal (670-650? a.C.), descobertos na antiga cidade de Nínive. No tempo dos antigos gregos se organizaram coleções de escritos por diversas cidades mediterrâneas. Mas a primeira grande biblioteca, cuja memória ainda hoje nos fascina, foi a Biblioteca de Alexandria, cuja origem remonta a Alexandre Magno (356-323 a.C.). A Memória da grande Biblioteca de Alexandria é, em parte, história e, em parte, mito. O certo é que chegou a abrigar centenas de milhares de livros. Não só abrigava os escritos dos maiores escritores, filósofos e cientistas, mas nela também lecionaram matemáticos, astrônomos, geógrafos e filósofos da Antiguidade. Em Alexandria foi também traduzida a Bíblia hebraica para o grego. Muitos dos seus bibliotecários-chefes até hoje são mencionados na bibliografia especializada. Um batalhão de profissionais atendia aos usuários da biblioteca.
Pode-se, inclusive, afirmar que a profissão de bibliotecário nasceu em Alexandria. E esta profissão foi sendo dignificada até aos tempos atuais. Basta visitar bibliotecas no mundo ocidental civilizado para vermos a estima que se demonstra para com os bibliotecários e as bibliotecárrias nos centros educacionais e nas bibliotecas públicas das cidades. São eles e elas que dão acesso aos livros, à cultura, a obras de arte constantes nos acervos das bibliotecas. E entre nós? Pobre Brasil! De alguma forma já se fizeram progressos. Pois, nos formulários de avaliação de cursos superiores, o MEC manda verificar se as instituições em avaliação possuem biblioteca e, correspondentemente, bibliotecários(as) formados e contratados. Em algumas instituições esta exigência é cumprida, e constatada pelos avaliadores. Mas em muitas constata-se verdadeira falcatrua.
Se o MEC, de fato, fiscalizasse, e se os Conselhos de Biblioteconomia não fossem omissos e também fiscalizassem, se constataria, sem esforço especial, que muitas faculdades pelo país a fora, também em Pernambuco, onde há bibliotecárias desempregadas, compram o registro de algum profissional, que vai uma vez por semana ou mês à instituição, ou aparece apenas no período das avaliações do MEC. Fora disto, o atendimento e trabalho nas bibliotecas é feito por estagiários, com péssimo pagamento, e atendimento precário aos usuários, geralmente estudantes que pagam caro por seus estudos. Interessante é que, tais instituições, imitam, de certa forma, o costume que havia nas farmácias do Brasil, em que os farmacêuticos só apareciam de vez em quando. Mas não são somente as Faculdades de Ensino Superior que não respeitam a legislação, nem a ética, mas também alguns bibliotecários e bibliotecárias assim procedem. Pois, na hora da avaliação dos técnicos do MEC/INEP eles/elas aparecem nas Instituições, e se declaram contratados e responsáveis pelo atendimento nas Bibliotecas. Depois se sujeitam, como escravos(as), aos patrões, recebendo salário miserável, e aperecendo, de vez em quando, para disfarçar, enquanto estagiários, ou outros serventes, fazem o serviço.
Penso que está na hora de, também no Brasil, nos civilizarmos, valorizando e respeitando devidamente os profissionais das bibliotecas, inclusive com maior cuidado fiscalizador dos Conselhos de Biblioteconomia , e do MEC, quando avalia as bibliotecas dos cursos superiores, novos e antigos. Além disto, por que as Secretarias de Educação dos Estados e Municípios não olham com mais carinho para as bibliotecas de suas escolas, promovendo concursos para contratar Bibliotecários(as) formados(as)?
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Inácio Strieder é professor de filosofia - Recife/PE