Professor: profissão-perigo
Na última semana, mais um caso de agressão dentro da escola estampou as capas dos jornais de Passo Fundo. Dessa vez, o protagonista foi um menino de apenas oito anos, que agrediu a professora na escola Fagundes dos Reis após ter sua atenção chamada pelo uso de um aparelho celular em sala de aula. Embora a utilização dos celulares seja proibida no ambiente escolar por uma lei federal, esse detalhe é só mais uma cereja no topo do bolo deficitário da educação brasileira, despencando em cada uma das suas camadas sociais, políticas e econômicas.
Não é de hoje que eu tenho uma profunda admiração por quem ainda se atreve a desbravar essa profissão de risco que é ser professor (a). De uma época quando o mestre era visto como uma plataforma para o conhecimento e, portanto, digno de respeito transgredimos para uma era de completa desvalorização dos profissionais da educação. As crianças e os adolescentes não veem no professor alguém mais do que o “chato” que implica com os erros de português, tenta ensinar a fórmula de báscara e faz de tudo para – com o perdão pela expressão – ferrar com a sua vida escolar. Uma pena – e um absurdo.
Não bastasse a péssima e injusta remuneração do magistério – enquanto nossos “representantes” votam com uma agilidade absurda em aumentos ainda mais absurdos nos próprios salários -, é preciso um verdadeiro jogo de cintura para aguentar a falta de respeito que tomou conta das salas de aula em todo o país. Isso sem contar as agressões físicas e verbais as quais os professores estão expostos diariamente, no próprio ambiente de trabalho – que deveria ser de aprendizagem mútua -, proporcionadas por uma juventude extremamente mal educada. Infelizmente, o caso de agressão envolvendo esse menino não é um fato isolado.
Mas, como já dizia a Lei de Murphy que nada está tão ruim que não possa piorar, ainda temos que assistir perplexos e embasbacados o apoio dos pais ao péssimo comportamento dos filhos. E, de quebra, ainda colocam a culpa no professor. Eles não percebem que não se pode cobrar da escola uma tarefa que é da família? Os estudantes entram em sala de aula para aprender matemática, português, geografia, história, ciências: os valores e os princípios vêm de casa! A escola não é e nunca foi um lugar para se ensinar aquilo que é dever dos pais.
É claro que não podemos tapar o sol com a peneira: existem muitas falhas na educação prestada pela escola. Alguns professores trabalham apenas para cumprir carga horária e se aposentar, sem um pingo de preocupação em preparar seus estudantes com uma formação escolar, no mínimo, adequada. Essa é uma realidade em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, no Brasil. Sei, por experiência própria, de professores que passavam cinco exercícios para serem feitos na apostila da disciplina, dedicavam o período inteiro para essa tarefa que poderia ser cumprida em 10 minutos, deixavam os alunos que estavam com preguiça copiarem as respostas e, no dia da prova, permitiam o uso do material. Sei também de outros que simplesmente largavam uma bola de vôlei ou futebol para os alunos e passavam a tarde toda tomando cafezinho na sala dos professores, sem se preocuparem em preparar uma aula decente ou realizarem alongamentos e aquecimentos. E eles continuam “trabalhando” até hoje.
Contudo, nada, e absolutamente nada disso dá direito a um aluno – ou a qualquer outra pessoa – agredir um professor. Muitos deles trabalham três turnos por dia, sem contar as madrugadas destinadas a preparação de aulas e correção de provas, para garantir a sua formação e aprendizagem. Você pode não gostar deles, discordar das opiniões que eles têm e achar que muitas das coisas que ouve não lhe serão úteis em momento algum da sua vida com exceção à prova no fim do semestre, mas respeito é a força motriz do relacionamento professor-aluno – ou, pelo menos, deveria ser. Afinal de contas, sem o professor não existiria outra profissão.