DESABAFO

Por Gislaine Tavares (professora do IEED - Instituto de Educação Euclides Dantas Vitoria da Conquista-BA)

O texto é longo, escrito por mim e devido à emoção deve conter alguns erros perdoáveis. Só preciso que me leiam.

Eu raramente mando algo para meus amigos, mas quando envio é do tamanho do que sinto na hora de escrever e hoje, véspera de 02 de julho – Independência da Bahia – acordei particularmente inspirada e com vontade de colocar meus amigos para ler minhas “bobagens”.

Por que este “Brasil Carinhoso” é tão malvado com seus educadores?

Estamos há mais de 70 dias em greve, 3 meses sem receber salário e nenhuma perspectiva de ver este governo cumprir a lei e o acordo feito com a categoria. Diante desta situação eu fiz algumas reflexões:

(observem que minhas razões estão expostas didaticamente – sou professora ...rs)

1º. Logo de início tivemos os salários cortados e representantes do governo já espalhavam que a greve era ilegal. Engraçado como a justiça é ágil contra trabalhadores que só têm a palavra sincera para se defender. Vejo políticos, traficantes e bicheiros disfarçados de políticos e mais uma fileira de pseudos qualquer coisa desviarem dinheiro com tal quantidade de zeros que a minha parca matemática não dá conta de esclarecer o valor e como se pronuncia. Isto sem contar com a série de crimes cometidos em nome do dinheiro alheio e o que acontece nestes casos? Gasta-se mais uma tonelada de verbas públicas para encobrir os meliantes, que continuam com seus gordos salários, roubando em outras cercanias.

2º. Os diretores das escolas públicas baianas são eleitos através do voto direto da comunidade estudantil (ou será que eu fui acometida por alguma enfermidade mental e brinquei de votar nas eleições para direção?) Ai que alívio, eu estou normal, o DEPUTADO ESTADUAL ROSEMBERG PINTO, do PT, disse isso na Assembleia “ordinária” (no sentido pejorativo mesmo), do dia 12/06, que este governo Jacques Vagner nos premiou com a eleição para Diretores, então porque estes colegas eleitos com o nosso voto agem como se cargos de confiança fossem? Medo? Vício? Alguma fantasia secreta?

É muito fácil dizer: eu estou Diretor, mas sou professor e agir como algoz ameaçando os colegas de perderem a carga horária ou moleques de recado do governo, tentando colocar os alunos contra os professores. Vejam que coisa interessante, a escola é a primeira instância onde o bullying - toda a violência não física, todo o tipo de agressão e condutas verbais, desde os simples insultos, a fazer piadas e gozar com o outro, o uso de alcunhas cruéis, ridicularizar, etc.. (que agora fará parte do novo código penal) deve ser combatido com veemência, tem sido àquela que o incentiva através de alguns de seus representantes, que afirmam que nossa greve é ridícula, que estamos morrendo de fome pelo corte de salário e por isso voltaremos logo, que queremos aparecer, que somos vagabundos. Estas criaturas se esquecem de que retornarão, num tempo não muito longo, para a posição de origem, a não ser que os conchavos sejam bem amarrados e dali passem para, enfim, um cargo de confiança de verdade.

3º. Eu aprendi desde o berço, com minha família, que mentir é uma falta gravíssima e muitas vezes ouvi da minha mãe: “Gila, fale a verdade, porque quem não mente não merece castigo e quem mente não merece confiança”. Este ensinamento eu passei para meus filhos, meus alunos e ainda repito a frase de minha mãe, textualmente, sempre que a ocasião pede. Daí eu me pergunto: como podem ser veiculadas mentiras deslavadas em nome do Governo do Estado, no intuito de jogar a comunidade contra os professores e nada acontecer? Será que só a Lei do Retorno está do nosso lado e por isso teremos que esperar que ela atue?

4º. Os REDA e PST foram convocados a assumirem nosso lugar, caso não retornemos dia 03/07, mas apenas para “darem” aulas nos 3º anos. Fico impressionada com a preocupação do governo, para não dizer abestalhada. Quer dizer que só quem está no 3º ano é importante? Eles perderão um ano e os outros? Não perderão um ano também? Se for para fazer bonito em tempos de disputa de votos, os outros alunos podem não ter título de eleitor em função da idade, mas suas famílias votam. Será que estes colegas aceitarão esta situação? Se aceitarem, começam mal na profissão, ocupando o lugar de alguém que está na luta por melhores condições de trabalho. Ao invés de fortalecer o movimento, tentam destruí-lo.

Não entendi direito como funcionam os tais aulões, já iniciados em Salvador. Coloca-se em cima de um palco professores (professores????? Eu li direito? Eles, professores, ajudando a furar a greve da categoria que se dizem pertencer?) que se revezam no uso do microfone para uma plateia de 400 alunos e assim minimizam os efeitos da greve. Hãããããããã... como assim? A gente corta um dobrado para ensinar 40 alunos, onde se tem que conhecer cada um, saber os seus nomes (para não baixar sua autoestima), valorizar suas aptidões, respeitar suas diferenças individuais e sua origem, caso contrário, somos monstros que massificam os jovens, mas eles podem? E o atendimento individual? E as dúvidas como são esclarecidas? E fato de que não posso só falar, mas tenho que diversificar a forma de apresentar os assuntos? Estão fazendo dinâmicas também?

Estão previstos 384 "aulões" em Salvador e no interior do Estado. Para organizá-los, o governo assinou contrato emergencial (sem licitação) de R$ 1,5 milhão com a empresa Abais Conteúdos Educativos & Produção Cultural Ltda. A empresa fechou outro contrato com o governo, de R$ 1,9 milhão, para fazer 175 programas de TV com temas do Enem e de vestibulares. (fonte Folha de São Paulo). Hã de novo... como assim de novo.... este dinheiro saiu de onde? Não há dinheiro para o cumprimento da Lei do Piso e há dinheiro para enganar o povo? Fingir que ensinam?

5. Penso naqueles que estão furando o movimento e recebendo seus salários. Suas consciências estão tranquilas? Estão fazendo suas compras e pagando suas contas sem nenhum remorso? Se tivermos algum ganho, quem não fez greve vai abrir mão? Como podem olhar para seus alunos e dizerem que eles têm que lutar pelo que acreditam, que nunca devem desistir do sonho, que trair é um ato nojento? Que tipo de modelo estes colegas são para seus alunos? (lembrei-me do pai que diz para o filho que drogas fazem mal, enquanto degusta uma bebida de álcool ou fuma um cigarrinho).

A greve perdura por conta, também, dos que insistem em permanecer nas escolas, furam o movimento, enfraquecem nossa luta. Se a greve fosse 100% já teríamos obtido os resultados esperados, mas, infelizmente, como em toda a categoria, existem aqueles pseudo-colegas que não gostam de quem gosta da educação, que não respeitam os alunos como nós respeitamos, que não se respeitam como nós. Furam a greve alegando que estão pensando nos alunos... se envergonham de assumir que estão lá para receberem os seus salários e prolongarem o sofrimento de quem luta por uma educação melhor.

Nossos alunos da rede pública não são prejudicados apenas nas greves, mas desde que se matriculam nas séries inicias. Se seus professores adoecem, saem para fazer um curso ou morrem, eles ficam sem aulas, até por semanas e quando o substituto chega, geralmente, é alguém despreparado, sem nenhuma experiência de sala de aula, só para “acalmar os pais”.

6. Brinquei algumas vezes que a Bahia sofre do mal da cabeça branca (que gerou um forró gostoso feito pelo colega Davino), pois quando vim morar aqui, saindo do Rio Grande do Sul, só se falava no Toinho Malvadeza – o Cabeça Branca – mas este já foi assombrar em outras dimensões, agora veio este outro que dispensa comentários e como dizia o próprio Malvadeza: “o erro de um dia paga-se em 4 anos”, ainda bem que o tempo não para e a memória é boa.

Estamos em greve porque amamos a Educação e amamos nossos alunos.

TRAIR A EDUCAÇÃO? NUNCA NA GALÁXIA (como diria meu amigo Raphael, de Petrolina)

nardobelchior
Enviado por nardobelchior em 01/07/2012
Código do texto: T3754940
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