A cosmovisão da sociedade para com o profissional intérprete e o seu papel na inclusão e cidadania.
Em vários países há tradutores e intérpretes de língua de sinais. Ao longo deste lento processo diacrônico (história da constituição deste profissional) originalmente surgiu de atividades voluntárias que foram sendo valorizadas enquanto atividade profissional na medida em que os surdos foram conquistando o seu exercício de cidadania. A participação de surdos nas discussões sociais representou e representa a chave para a profissionalização dos tradutores e intérpretes de língua de sinais.
Outro elemento fundamental neste processo é o reconhecimento da língua de sinais em cada país. Na medida em que a língua de sinais do país passou a ser reconhecida enquanto língua de fato, os surdos passaram a ter garantias de acesso a ela enquanto direito linguístico. Assim, consequentemente, as instituições se viram obrigadas por decretos de lei a garantirem acessibilidade através do profissional intérprete de língua de sinais.
Entretanto, qual a cosmovisão da sociedade em geral para com este profissional? O Intérprete de LIBRAS tem recebido o devido valor por sua colaboração no processo de inclusão social? Ele tem exercido plenamente os seus direitos garantidos pelo poder público e goza de satisfação inefável em exercer suas funções como cidadão?
Inicialmente, precisamos observar como o profissional intérprete é visto pela sociedade e não menos importante é a visão do poder público do mesmo. A primeira impressão que temos é que este nobre profissional ainda não tem sido ironicamente percebido aos olhos da sociedade e neste caso não estamos falando de deficientes visuais, mas de uma sociedade egocêntrica e hedonista preocupada apenas com seus interesses pessoais e pela busca frenética de seus prazeres.
Quanto à visão do poder público podemos afirmar com base na própria Lei nº 12.319 de 01 de Setembro de 2010 que regulamenta a profissão e o profissional reconhecidos que ela ainda é uma utopia. Podemos citar como exemplo positivo a iniciativa do estado do Rio Grande do Sul, que desde 1997 promoveu cursos de capacitação de profissionais intérpretes, mesmo antes de ela ter sido aprovada como lei:
[Em alguns estados brasileiros, surgiu a necessidade de regulamentar a atuação do profissional intérprete de língua de sinais. 0 estado do Rio Grande do Sul iniciou a capacitação de seus profissionais intérpretes em 1997 através de cursos certificados pela FENEIS/RS e pela UFRGS...]
(MEC, 2004, p.41)
[Ao longo da atuação dos intérpretes neste estado, surgiu a necessidade de uma regulamentação para atuação dos intérpretes, uma vez que foram observadas restrições comuns que deveriam ser consideradas. A seguir, apresentar-se-á o regulamento para a atuação como tradutor e intérprete de língua de sinais elaborado pelos intérpretes de
língua de sinais do estado do Rio Grande do Sul. Vale ressaltar que o objetivo da apresentação do mesmo restringe-se a exposição da experiência deste trabalho com o intuito de contribuir para o desenvolvimento do profissional intérprete em outros estados brasileiros que não disponham de nenhum tipo de regulamentação.]
(MEC, 2004, p.41)
Esta rara iniciativa do poder público ainda que no âmbito regional ainda é insuficiente para suprir a demanda recente de profissionais capacitados para exercer as suas funções. Ano após ano aumenta a carência destes profissionais que sem o reconhecimento de sua importante e porque não dizer; vital atuação no processo de ressocialização do deficiente auditivo. Aliado a isto salários injustos, raros incentivos, pouca valorização; tem sido fatores que contribuem ainda mais com a escassa procura nesta área de atuação:
[...] O Brasil é um dos países que menos paga aos seus professores. Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), apresentado, em Paris, durante as comemorações do Dia Internacional do Professor, realizado em 38 países, entre eles, o Brasil, revelou que um número cada vez menor de jovens está disposto a seguir a carreira do magistério. E uma das principais causas, senão a mais importante foi o baixo salário praticado. A pesquisa mostra ainda que, no Brasil, o salário médio de um professor em início de carreira é um dos mais baixos; precisamente, ele é o antepenúltimo da lista dos mais baixos entre os 38 países pesquisados.
(INEP/MEC, 2006, p.8)
Como vemos o futuro do profissional intérprete? Não podemos esperar que um governo que sofre de miopia ou está com deficiência visual crônica quando olha para os projetos de políticas publicas voltada para o deficiente auditivo terá um futuro brilhante. Enquanto os incentivos, os cumprimentos das leis que regulamentam a profissão de intérprete de LIBRAS não saírem dos decretos discordamos veementemente da posição do MEC:
[O intérprete de língua de sinais no Brasil é um profissional com uma carreira promissora. Considerando as conquistas em nível legal, o contexto sócio-histórico e o momento político atual, pode-se projetar um futuro brilhante para os futuros profissionais desta área.]
(MEC, 2004, p.87)
Vivemos uma realidade contrastante, as estatísticas mais realistas afirma que daqui a dez anos haverá escassez de professores na rede pública e privada, para que os futuros profissionais interpretes possam brilhar em suas carreiras se faz necessário rever alguns conceitos e prioridades educacionais.
Bibliografia:
O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa / Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos - Brasília: MEC ; SEESP, 2004. 94 p. : il.
Relatório sobre Professores Atuando em Disciplinas Específicas e a Adequação de sua Formação Inicial para o exercício do Magistério, INEP/MEC, Brasília (DF) 2006.