O comentário do Professor Jacir Venturi serve de partida para a discussão da crise do ensino básico brasileiro que jaz no esquecimento dos que se dizem educadores e pedagogos. O articulista manifesta com justeza preocupação com a evasão escolar, reprovação e a escola atrativa que necessitamos. As conclusões perigosas surgem quando sua metralhadora intelectual se volta contra os conteúdos e a grade curricular, aí, além da superficialidade, o fim pode não ser promissor. Uma disciplina deveria ser obrigatória em todo espectro do ensino médio, História da Educação, nos mostra que a escola brasileira já ensinou de fato e a partir da década de 1980 se desencaminhou, tanto pela desvalorização do professor, de sua autoridade e dos conteúdos das pedagogias. Qualquer exame acurado nos livros didáticos produzidos da década de 1940 a 1980 demonstram o que os nossos alunos aprendiam. Em Aritmética o que os programas dos últimos anos do ensino fundamental e médio ensinam atualmente, eram do conhecimento e prática nas primeiras cinco séries escolares. Naqueles bons tempos a educação primária capacitava futuros professores e tinha isto em vista. Portanto, a redução de conteúdos e grade curricular é tese insustentável do viés qualitativo. Revindicar modelos externos e alheios à nossa realidade se constitui em empreitada arriscada e antinacional. Se as escolas públicas não estão preparando para a vida profissional, segmentação que não se justifica no sistema escolar, a verdade é também que, os concursos não correspondem a justa formação humanista que carece o trabalhador nacional. Se parcialmente seja desejável que a escola e o conteúdo sejam atraentes, vale considerar, ainda que pese a posição de Piaget, que o ato de aprender e ensinar é uma necessidade vital, imprescindível, existencial e que não pode ser submetida ao expontaneísmo da pessoa em formação psicológica, da mesma forma como se toma remédios indesejáveis. Precisamos voltar nossos olhos para o nascedouro dos problemas que maculam e destroem a escola e a educação em nosso país. A universidade, pedantemente, chamou para si a formação dos professores do ensino básico, mas pendurou-se somente no bacharelismo e na diplomação. As licenciaturas são extensões constrangidas dos cursos de bacharelado. Os pesquisadores não possuem coragem suficiente para catalogar ou dissertar a respeitos dos projetos de pesquisa nas agências de financiamento científico voltados à educação, ao cotidiano da escola brasileira, ao trato com o conteúdo da sala de aula dos colégios, as relações e problemas que o futuro professor enfrentará quando for aprovado no primeiro concurso. A maioria dos professores que se pretendem formadores de professores, tem toda sua trajetória acadêmica voltada à pesquisa fragmentada, em sua área específica de ensino, as denominadas disciplinas, e não consideram a possibilidade de olhar com a escola. Eles foram aprovados por bancas toscas, nos departamentos receberam disciplinas das licenciaturas, mas nunca pisaram numa sala de aula, não gostam de educação, odeiam lidar com a clientela do ensino pré-universitário. Além disso, a vaidade acadêmica impede os docentes universitários de receber instrução dos que estão atuando no cotidiano escolar.

(16/06/2012)