Breve reflexão sobre a greve nas universidades

Já se arrasta por mais de vinte dias a greve nas universidades federais brasileiras, o que traz irreparáveis prejuízos ao País.

Como se sabe, as universidades públicas mantêm colégios de aplicação, em que se ministram o ensino básico e o ensino médio, funcionando essas escolas como laboratórios para os cursos de licenciatura.

É do conhecimento público, também, que esses colégios oferecem ensino de altíssima qualidade, sendo a conquista de vaga em um deles motivo de esfuziante comemoração por parte dos contemplados... Como ficam os pais agora vendo seus filhos parados, interrompendo as atividades escolares, que exigem sobretudo continuidade? É evidente que, embora tenha sempre havido uma recomposição de calendário, as perdas são sempre enormes, e a frustração é grande, até porque as greves arruínam muitas vezes os projetos de férias.

Frustração maior talvez seja ainda a dos alunos desses mesmos colégios de aplicação e de escolas técnicas federais que se dirigem a essas instituições também na expectativa de usufruir de excelente preparação para os vestibulares, e veem agora seus estudos subitamente interrompidos. Como aprender Física, Matemática, Química... sem a âncora dos mestres? E o aluno, sozinho na sua tentativa de decifrar conteúdos, sabe que os concorrentes desfrutam de cursos particulares especializadíssimos, o que, certamente, haverá de tornar a disputa por uma vaga na universidade pública extremamente desigual e injusta.

Frustração também é o sentimento daqueles que estão concluindo seus cursos e esperam entrar no competitivo mercado de trabalho, mas veem essa perspectiva ameaçada pelo inevitável atraso na obtenção dos diplomas acadêmicos.

Frustração, talvez essa seja a palavra adequada para definir o sentimento que paralisações escolares tão longas geram em todos aqueles que têm consciência das graves perdas envolvidas.

O retorno às aulas, nesses contextos, haverá de ocorrer num clima de naturais ressentimentos não só da parte de alunos, aborrecidos com os danos sofridos, mas também da parte dos educadores, cujo embate, ainda que vitorioso, enseja sempre a reflexão de que tudo se poderia resolver sem tantos prejuízos.

Justa, justíssima é a luta dos professores, que certamente não é apenas por salários, mas também por verbas para a educação pública. É preciso sonhar...e lutar por universidades públicas à altura da nossa juventude, universidades ricas, bem instaladas, bem conservadas e com mestres e funcionários recebendo com a dignidade que suas funções merecem. Se não conseguirmos conciliar o mais breve possível esses objetivos, certamente que o Brasil corre o risco de se tornar um país educacionalmente frustrado...