Pára com isso! Ou seria “para com isso”?
Este ano (2008), teremos de resolver mais um problema de língua portuguesa. E não estou falando de separar em sílabas, classificar o verbo quanto à predicação ou dar a função sintática e morfológica, mas sim, de nos acostumarmos com as mudanças que a reforma ortográfica trará. Entre elas, o fim do trema e de vários acentos gráficos, além de mudanças para se utilizar o hífen.
Qual a razão disso? O motivo oficial seria que o português é a terceira língua ocidental mais falada e, com mais de uma maneira de escrever, fica difícil usá-lo em eventos internacionais. Em um ano – prazo estabelecido para a reforma - a unificação do português é claramente impossível.
Para que a língua seja uma só, nós brasileiros deveremos chamar os sandubas de cacetes e as filas de bichas, ou os portugueses é que devem usar as palavras diferentes? Isso ainda não foi discutido – e talvez nunca seja -, mas, ainda assim há quem acredite que a língua vai ser uma só até o fim de 2008.
Agora vamos pensar se, de fato, a escrita do português fosse unificada, a língua seria uma só? E quanto às variações da fala? Não devemos esquecer que o jeito de falar o português do Brasil é muito diferente do de Angola, de Portugal e de todos os outros países onde a língua é usada. Um exemplo simples é que em diversos lugares do Brasil, a segunda pessoa, dos pronomes “tu” e “vós”, está quase caindo em desuso, enquanto em Portugal ela é muito usada.
E mesmo dentro do Brasil não há uma unificação. Não é raro vermos pessoas de diferentes estados tendo alguns problemas para conversar devido às diferenças de sotaque e de certas palavras.
Outro argumento favorável à mudança seria a maior facilidade para se compreender a ortografia, com acentuação mais simples e menores chances de erro. Em vez de uma reforma ortográfica, poderíamos nos preocupar com uma reforma educacional: melhor estrutura para escolas, melhor salário para os professores. Isso sim ia fazer com que o português fosse melhor aprendido.
Além disso, nem tudo vai ficar mais fácil com a nova escrita. O acento de diferenciação entre o verbo “pára” e a preposição “para”, que está para ser extinto, pode muitas vezes ajudar na hora de compreender um texto, muito mais do que atrapalhar na hora de escrevê-lo.
Quanto ao retorno ao alfabeto das letras “K”, “Y” e “W”, que também irá acontecer, podemos chamá-lo, no mínimo, desnecessário. Para palavras e expressões estrangeiras ou vindas de nomes estrangeiros, o uso dessas letras ainda era permitido, mesmo estando fora do alfabeto. Por que elas estão aqui de novo se não poderão ser usadas em mais nenhum caso? Para legitimar o estrangeirismo? Queremos favorecer o uso do português, mas não nos importamos que ele tenha expressões de outras línguas em vez das suas próprias. Um tanto controverso.
Há muitas reformas que o Brasil precisa com mais urgência, e mesmo assim ele foi um dos primeiros países a assinar o acordo de unificação. E no fim, a nação será a mesma: terá os mesmos problemas, a mesma desigualdade social. A reforma ortográfica é algo que vai mudar a vida do povo brasileiro sem melhorá-la. Definitivamente, não é deste tipo de mudança que precisamos.