Analfabetismo, problema só governamental?
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2007, aponta que 10% de nossa população se declaram analfabeta absoluta, ou seja, não sabe ler ou escrever um bilhete simples. Este percentual representa 14,1 milhões de brasileiros, e sua marca é mais acentuada entre os nordestinos, negros, de baixa renda e com idade entre 40 e 45 anos. No meio rural essa marca se acentua mais ainda, refletindo as nossas desigualdades sociais.
Além do analfabetismo absoluto temos o analfabetismo funcional, representado pelas pessoas que possuem menos de quatro anos de estudos completos. Esse tipo de analfabetismo parece mais difícil de ser combatido, pois e mais difícil manter uma pessoa em sala de aula do que ensiná-la a ler e a escrever.
O analfabetismo vem diminuído no país, principalmente a partir do estabelecimento da política nacional de educação para jovens e adultos. Entretanto, de forma lenta que ainda não se traduziu em números que permitir a esses cidadãos buscar, de forma democrática, seus direitos mais elementares como saúde, educação, moradia e transporte dignos, alimentação e lazer, ou seja, qualidade de vida.
Sabemos que tem sido difícil para os nossos governantes atender a todas essas necessidades, seja por negligência, falta de vontade política ou até mesmo manter o status quo, em proveito dos interesses de classes que nos dominam.
É certo que nenhuma ação individual resolverá o problema do analfabetismo no Brasil. Devemos ter comprometimento consciente e participativo nesse processo, unindo esforços para minimizar essa situação, que se constitui ação de cidadania e responsabilidade social
Nossa primeira preocupação tem que ser com a eleição de governantes e legisladores comprometidos com a educação. São eles os responsáveis pela elaboração e aplicação de políticas públicas possíveis de imprimir mais seriedade e celeridade aos programas de alfabetização, que pouco tem resolvido.
Precisamos exigir mais e melhores escolas públicas, aprimoramento, condições de trabalho e remuneração digna para os professores, a criação de bibliotecas nas escolas, o barateamento dos livros escolares etc. É nosso dever, também, participar de audiências públicas que envolvam a educação e não deixá-la na responsabilidade exclusiva da escola e de seus professores.
Gilberto Carvalho Pereira
(Publicado nos nºs 35 a 38, edição de janeiro a dezembro de 2009, do Jornal Tudo@Ler, Centro de Educação da Universidade Estadual do Ceará.)