Educação e a crise econômica
A desregulamentação do mercado e a implementação do estado mínimo iniciadas nos anos oitenta por Margaret Thatcher, Primeira Ministra da Inglaterra e Ronald Reagan, Presidente dos Estados Unidos, deu partida ao trem da globalização. Em sua caminhada sobre trilhos supostamente bem fixa em dormentes protegidos das intempéries, percorreu quase duas décadas e meia sem parar, transportando seus ocupantes da primeira classe em ambiente de luxo e de gastança. Já os passageiros das outras classes, por não contarem com as facilidades postas à disposição dos primeiros, e nem mesmo janelas que lhes permitissem, pelo menos, desfrutar a paisagem, foram tomados por um estado de revolta tal que passaram a praticar atos inconcebíveis às mentes humanas, caso 11 de setembro.
Parece, entretanto, que uma curva mais fechada e a alta velocidade imprimida pelos operadores desse trem causaram o seu descarrilamento, provocando um acidente de proporção global, com vítimas fatais e outras tantas em estado bastante precário. Os responsáveis pela companhia de trem procuram prestar socorro, mas como não têm noção da dimensão do desastre não estão conseguindo aplacar os ânimos daqueles que ainda se encontram sob o efeito do desastre.
Esta tropologia procura mostrar a situação vivenciada pelas nações em decorrência da crise econômica que se espalha pelo planeta terra, como processo de metástase, culpa do mercado financeiro global.
O Brasil, inserido no contexto, vem sofrendo as consequências de sua dependência global. As previsões de calmaria e crescimento para os anos que seguem estão sendo revistas pelos nossos dirigentes e economistas de plantão.
Seremos afetados pelo fundamentalismo do mercado, onde está em jogo, sempre, a posse, a riqueza, a demanda do mercado, não importando as necessidades reais dos mais pobres, que continuarão observando a abundância, mas sendo forçados a seguir com fome ou alimentarem seus filhos com os restos de comida que conseguem encontrar.
As consequências dessa crise: recessão, mais fome no mundo, mais ganância, aumento da violência, do desrespeito ao outro e ao ambiente, mais emissão de carbono, mais poluição e doenças. Baixa taxa de crescimento, menos emprego, menos dinheiro para a saúde, para a educação, mais analfabetos, professores desempregados, universidades em processo contínuo de sucateamento, escolas não serão construídas, menos aprendizagem, mais crianças/alunos nas ruas, droga, assalto, seqüestros. Sombrio é o tempo que nos aguarda.
Ou mudamos o jogo financeiro e corrigimos as omissões dos custos sociais e ambientais desse processo desenfreado de busca por mais riqueza e mais poder ou nos tornaremos protagonistas das histórias que saem das mentes doentias de roteirista de filme ‘‘trash”
Gilberto Carvalho Pereira
(Publicado nos nºs 33-34, edição de julho a dezembro de 2008, do Jornal Tudo@Ler, do Centro de Educação da Universidade Estadual do Ceará).