O que se passa pela cabeça de um professor de escola pública.
Sou docente há catorze anos.
Quando comecei a lecionar na cidade de Ibiúna, nas escolas E.E.P.S.G.Prof.Roque Bastos, E.E.P.S.G.Maria Angerami Scalamandré e E.E.P.S.G.Profª Laurinda Vieira Pinto, ainda percebia-se nos alunos muito mais respeito e dedicação à escola. Os alunos ainda estudavam para as provas que nós marcávamos, eles (alunos) nos ouviam mais e a sala de aula era sim um santuário do saber.
Como era gostoso lecionar e, sentir-se respeitado e sentir nas mãos um pequeno poder que fosse, pois, a palavra proferida, era tida e acatada como uma lei a ser obedecida e, que nunca deveria ser desobedecida.
Tenho lembrança que lia de forma compartilhada com os alunos, extensos textos de teoria literária, de textos poéticos, fragmentos de obras. Comentava e pedia com calma a participação dos alunos, que não hesitavam em participar das aulas. Aprendi a realmente ser um bom professor no Roque Bastos e no Scalamandré.
Como era bom falar e ser mais compreendido pelos educandos. Ainda não tínhamos sala de informática com internet banda larga, com vários computadores.Não existiam celulares que tocassem durante as aulas e, os alunos não perdiam tempo com "mexer" com tais aparelhos nos momentos de explicação.
Nossos cérebros eram condicionados a prestar mais atenção e a ouvir com mais paciência uns aos outros. Não tínhamos tanta pressa talvez ao comer ou a falar. A vida sempre teve lá os seus rítmos, mas ainda se sentia o sabor das coisas.
Porém, com o passar dos anos,com o avanço tecnológico e a mudança da sociedade, nas formas de viver e de educar nossas crianças, com a plena acessibilidade às escolas e , assistencialismos em doses cavalares, transformaram intensamente nossos alunos.
Sofreram uma geração de crianças , jovens e professores, muitos ainda, que pertenceram à geração antes-de celulares, que estavam habituados a falar com calma e serem ouvidos,a desenvolverem com autoridade suas funções.
Os jovens e crianças que ora estão em nossas escolas, são geradas e nascidas em plena era da alta tecnologia, dos mega celulares, dos not, net, híperbooks, tablets, i-pads e etc, que são habilidosos com as máquinas inventadas do que com a sua próprias máquinas pensantes.
Em muitos momentos de aulas, não somente das tradicionais expositivas, mas das aulas com inserção pesada da tecnologia, esses alunos ignoram os esforços empreendidos pelo professor e, ficam a mexer em seus maravilhosos celulares, desprezando leis e autoridades docentes.
Nestes momentos, a mente do professor se confunde numa alta mistura de sentimentos, revolta e desprezo, medo e frustração e outros, que atrapalham o desempenho no trabalho e fazer pedagógico.
Costumo falar para os meus alunos, que quando vejo desinteresses de parte deles, conversas paralelas, em sua maioria de assuntos particulares nos espaços da sala de aula, sinto que alguém puxa da tomada o meu fio cerebral e, corta a energia dos meus pensamentos.
Desta forma a estratégia intelectual é fragmentada e a qualidade da aula fica prejudicada.
Sem contar que grande parte dos docentes lecionam uma carga horária altamente estressante.São jornadas de até cinquenta e seis aulas com alunos, mais as reuniões de HTPCs.Não ainda se pode esquecer dos cursos de aperfeiçoamentos e reciclagens a que nós participamos por necessidade profissional, nos fins de semana.
Passam sábados e domingos e o professor não possui tempo para se re-organizar mentalmente e viver uma vida social dígna junto à sua família.Começam semanas e passam dias, a voz do professor pouco é ouvida em sala, antes recebe uma alta carga de gritos e barulhos de seus alunos, cada vez mais inquietos e imediatistas.
De quem é a culpa das transformações radicais das nossas crianças e jovens e aumento do sofrimento do professor em sala de aula? Pergunta difícil esta!
Mas o que mais chama a atenção da sociedade, menos dos governantes, é que o professor mesmo revoltado, mesmo desvalorizado e altamente desconsiderado pela grande maioria das pessoas, ainda mantém a sua ideologia, seus objetivos e prossegue em frente com os seus alunos.
Quando parte de seus aprendizes dão um pequeno valor e ouvem a sua voz, circula na cabeça do professor a esperança e a vontade de ensinar cada vez mais.
Mas para que mais candidatos à docência sigam esta valiosa carreira há mister que os docentes que ainda estão na ativa possam ser mais reconhecidos e valorizados, pois, não se constrói nada sem o professor, nada se muda e nada se transforma.
O docente da escola pública sonha trabalhar em um único lugar e ganhar melhor para viver com dignidade,vive em profunda esperança e espera de melhores tempos, pois , do jeito que anda a Educação, faltarão mestres capazes de pensar e de mudar algo neste Brasil de muitas e muitas desigualdades.