A educação contra Auschwitz
Auschwitz foi o nome de um grupo de campos de concentração localizados no sul da Polônia, símbolos do Holocausto perpetrado pelo nazismo. A partir de 1940 o governo alemão comandado por Adolf Hitler construiu vários campos de concentração e um campo de extermínio. O número total de mortes produzidas em Auschwitz-Birkenau ainda é controverso,estima-se que morreram mais de 1 milhão de pessoas.
No início de 1940 Auschwitz era apenas uma pequena cidade com aproximadamente treze mil habitantes na Alta Silésia alemã. Porém, no mês de maio desse mesmo ano iniciaram-se em suas cercanias as edificações de um "campo de trânsito" para receber dez mil prisioneiros poloneses.
Dessa forma, o holocausto foi um tema caro para a reflexão do filósofo alemão Theodor Adorno (Frankfurt am Main,11 de setembro de 1903 – Visp, 6 de agosto de 1969), principalmente no campo referente a educação. Segundo Adorno, o que deve nortear questões sobre metas educacionais é que Auschwitz não se repita, pois está foi considerada a maior expressão de barbárie já vista. Seria de fundamental importância à educação investir contra isso.
O autor retoma as teses de Freud no que se refere ao conflito entre o individuo e civilização, onde esta fortalece o que é anti-civilizatorio. O preço para o desenvolvimento da civilização é a repressão dos instintos individuais e o autocontrole tem como consequência a neurose. A consciência do autocontrole seria, segundo o Adorno, o fortalecimento do ego, do individuo autônomo.
O fato de Auschwitz ter ocorrido foi, segundo o autor, tendência social imperativa. A partir do fato de que é muito limitada à possibilidade de modificar os pressupostos sociais e políticos, contrapô-los levaria, então, ao lado subjetivo do sujeito.
“É preciso buscar as raízes nos perseguidores e não nas vitimas, assassinadas sob os pretextos mais mesquinhos. Torna-se necessário a esse respeito o que denominei de inflexão em direção ao sujeito. È preciso conhecer os mecanismos que tornaram as pessoas capazes de cometer tais atos, é preciso revelar tais mecanismos e eles próprios, procurando impedir que se tornem novamente capazes de tais atos na medida em que se desperta uma consciência geral acerca desses mecanismos” (ADORNO: 1997P. 121). Nesse sentido, para Adorno é preciso ir contra a ausência de uma consciência, o que leva a pensar a educação válida, sobretudo quando se propõe a uma auto-reflexão critica.
Levando em consideração os pressupostos da psicologia profunda que analisa que todo o caráter do sujeito se forma já na primeira infância, Adorno propõe que a repetição de Auschwitz deve ser evitada realizando um processo incisivo educacional já nesse estágio. Além disso, também a fim de evitar a repetição. Adorno fala a respeito de um esclarecimento geral que permitiria o surgimento de um novo clima cultural, intelectual e social. É nessa direção que as motivações que conduzem ao horror se tornam conscientes ao individuo.
Adorno nos diz que: “o único poder efetivo contra o principio de Auschwitz será a autonomia para usar a expressão kantiana, o poder para a reflexão, a autodeterminação a não participação (ADORNO: 1997 P.125).
Considera que o mais importante para enfrentar a repetição é se contrapor ao poder de todos os coletivos ao fortalecer a resistência frente a ele por meio do próprio esclarecimento do problema da coletivização. Segundo o autor, a pessoa que se enquadra de forma radical em coletivos, dissolve-se como seres autodeterminados. O que leva a tratar os outros como massa amorfa. Para definir isso, utiliza o termo “caráter manipulador”. “O caráter manipulador se distingue pela fúria organizativa, pela incapacidade total de levar a cabo experiências humanas diretas, por certo tipo de ausência de emoções, por um realismo exagerado.” (ADORNO: 1997 P.129)
Consequentemente, o que é de fundamental importância na tentativa de atuar contra a repetição do horror seria, segundo Adorno, produzir antes de tudo, certa clareza no que se refere ao “poder manipulador”, em seguida, impedir sua formação, pelas transformações das condições para se chegar a isso. O conhecimento dos mecanismos subjetivos e a conscientização em relação à realidade e seu conteúdo é uma necessidade que conduz a resistência.