Desafio e Superação. A família como suporte e alienação de uma deficiência.

DESAFIO E SUPERAÇÃO:

A FAMILIA COMO SUPORTE E ALIENAÇÃO DE UMA DEFICIÊNCIA.

Giana Franco de Andrade (Unicentro-PR)

e-mail: gianna_andrade@hotmail.com

Como unidade básica de integração, o seio familiar é o local onde se processam conhecimentos e experiências, sendo que exerce uma influente força social. Sabemos contudo , que sendo apenas uma unidade da sociedade, é dentre as outras a maior e mais diversa, o fato decorre de sua variabilidade histórica, uma vez que a instituição constantemente se modifica de acordo com o tempo, cultura, região, etc.

A mudança na sua estrutura organizacional, é decorrente de vários fatores, fatos históricos trazem como marco

(...) no século XX, com as duas Grandes Guerras; a maior participação da mulher no trabalho fora do lar; a possibilidade de as mulheres exercerem o controle da natalidade; a declaração dos direitos humanos; o abandono da tradição; a ênfase dada a individualidade; a migração da população rural para áreas urbanas; a grande influencia da mídia, principalmente da TV, que invade os lares e sobrepõe seus valores, nem sempre verdadeiros, aos das famílias. (ALMEIDA, MARINA, 2004. p. 73)

A multiplicidade de estruturas familiares originárias desses acontecimentos, é portanto resultante de um reflexo da sociedade flexível, que tenta adequar-se ao rítimo acelerado das mudanças sociais. Assumpção (1993,p.47), afirma isso através de sua constatação : ocorrências sócio-patológicas dentro da sociedade mais ampla também exercerão efeitos sobre a família; entretanto esta deverá assumir parte da responsabilidade, pois é dentro dos limites desta unidade social que a criança aprenderá a ser o tipo de pessoa que a sociedade determina como normal. É na família que se aprende a ser único, a desenvolver a individualidade e a tornar-se uma pessoa criativa, em busca da auto realização.

Cumulado a isso, a base constituinte familiar também é afetada pelas determinantes vigentes, os valores e costumes aceitos e disseminados por um dado contexto social, tende a exercer influência direta e pode ser alvo dos preconceitos, o que traz dor e sofrimento a determinados grupos. De acordo com Buscaglia (1997,p.80) “O preconceito pode ser dirigido á raça, cor, religião, condição, ao status social e até mesmo a diferenças físicas e mentais e se constituirá em uma força potente e influente no comportamento da família”.

Dessa forma , a melhor coisa que uma família pode fazer por seus filhos é expressar a sua condição humana em todas as acepções do termo. Seres humanos que buscam e lutam pelo seu próprio crescimento, uma vez que a palavra chave para o processo de crescimento encontra-se na oportunidade que a família oferece á criança de ter um lugar seguro para descobrir a si mesma e as outras pessoas no seu mundo. (ASSUMPÇÃO JUNIOR,1993)

Num âmbito geral, o nascimento de uma criança deficiente, seja qual for o tipo de deficiência traz à tona uma série de complicações advindas de sentimentos de culpa, rejeição, negação ou desespero, modificando as relações sociais da família e sua própria estrutura (BLASCOVI-ASSIS,1997) .

Por vezes, a própria família, imprime o preconceito e as negações. As reações do nascimento de uma criança deficiente podem trazer à tona vários tipos de comportamentos, como encarar o problema de um modo realista; negação da realidade da deficiência; lamentações e comiseração dos pais para com a sua própria sorte; ambivalência em relação à criança, ou seja, rejeição e projeção da dificuldade como causa da deficiência; sentimentos de culpa, vergonha e depressão e padrões de mútua dependência (TELFORD,1976)

Porém , como menciona Almeida (2004) a família tem o papel de preocupação com as crianças, e deve-lhes dar segurança, afeto, alimento, educação informal etc. Situação por vezes contraditórias, pois algumas famílias ao se depararem com o nascimento de uma criança deficiente, tendem a negligenciar os cuidados essenciais por uma possível negação do problema em evidência. Ribas (1985,p.52) acredita que parte dessas familias ou integrantes das mesmas, não estão preparadas para receber um membro deficiente, pois receberam toda uma carga ideológica cultural, que consequentemente geram as reações mais diversas como: rejeição, simulação, segregação, superproteção, paternalismo ou mesmo piedade. Que atrelando-se as considerações de Almeida (2004), impedirá o desenvolvimento das próprias potencialidades e autonomia do individuo em questão.

Entretanto, nenhuma dessas reações é peculiar aos pais em geral, ou aos pais de crianças deficientes, são atitudes comuns de pessoas ditas “normais” á frustação e ao conflito. Almeida (2004), menciona ainda que várias são as fases pelas quais essas famílias terão que passar para a aceitação e compreensão das limitações de um membro familiar deficiente, e cabe à elas também saber lidar com as pressões externas, fazendo valer na sociedade a igualdade de direitos, objetivando-se compreender que a deficiência é uma questão humana, que se não bem tratada condiciona a pessoa a segregação social.

O impacto que uma criança deficiente causa sobre a família fará com que o próprio grupo familiar, desconstrua esses modelos condicionadores de pessoa. Neste sentido, a superação do conceito de doença e visão patológica é um dos primeiros desafios a serem ultrapassados.

Quando a criança com deficiência deixa de ser vista pelo seu déficit e passa a ser entendida como uma pessoa integral plena de significado, decorrer desse novo olhar, atitudes e posturas que possibilitarão o desenvolvimento global da mesma (BATISTA-FRANÇA,2007, p.01)

Deve-se contudo, considerar o sujeito e não marginalizar o deficiente. Pois, como qualquer outro cidadão a pessoa com deficiência possui os mesmos direitos à educação, saúde, assistência social, acessibilidade, lazer, esporte, cultura e trabalho.

É vital que os pais sejam conscientizados, da importância desses direitos. Devem ser informados de sua responsabilidade e dos efeitos profundos e duradouros de suas ações ou omissões sobre o crescimento e desenvolvimento de seus filhos, pois é nesta tenra idade que os pais deverão iniciar a estimulação e buscar o apoio e serviços de profissionais de habilitação e reabilitação, com o objetivo de detecção precoce de processos que poderão tornar-se altamente incapacitantes, de avaliação integral da criança e do ambiente, assim como de um programa de intervenção onde considere principalmente a família como co-terapeuta do processo de diagnóstico e intervenção (AMARAL,1994)

Em suma, a família como grupo social de maior participação deve se constituir como elemento essencial na promoção e garantia de equidade, o que implica respeito ás diferenças, seja por meio de atuação direta com a pessoa com deficiência, seja exigindo junto à sociedade organizada políticas eficazes na promoção do bem- estar de todos. E de modo particular, que no seu acolhimento no seio familiar, o deficiente possa conviver em harmonia, o que implica em aceitar e assumir e não em se sentir infeliz, envergonhada, diminuída ou diferente das outras famílias por possuir um deficiente dentro de casa, assumindo uma postura ativa e participativa em todo o processo da deficiência (regressão, evolução), não deixando que a verdadeira identidade dessa família, seja comprometida com a situação. (ALMEIDA, MARINA, 2004)

É importante frisarmos, que cada indivíduo independente de possuir uma deficiência, possui possibilidades ilimitadas e que através dos relacionamentos intrafamiliares, cada qual tem o poder de criar, compartilhar, descobrir novas alternativas e trazer a realidade novos exemplos, seja por vivência de uma limitação ou por experiência de uma superação.

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, Marina. Caminhos para uma inclusão humana. 1 ed. São Paulo: Didática Paulista, 2004

AMARAL, L. A. Pensar a diferença/deficiência. Brasília, DF: CORDE, 1994.

ASSUMPÇÃO JUNIOR, F. B. Deficiência mental, família, sexualidade. São

Paulo: Memnon, 1993.

BATISTA, Claudio Roberto. Autismo e Educação. Porto Alegre. Artmed, 2002.

BLASCOVI-ASSIS, S. M. Lazer e deficiência mental. Campinas, SP: Papirus,

1997.

BRASIL. Ministério da Educação. Deficiência múltipla. Brasília, DF, 2000.

BUSCAGLIA, L. Os deficientes e seus pais. Rio de Janeiro: Record, 1997.

DINIZ, Débora. O que é deficiência. São Paulo. Editora Brasiliense – Coleção Primeiros Passos: 2007, p.96.

MANSINI. Marcos. É possível prevenir causas da deficiência. Disponível em : www.pugnus.com.br/.../124-e-epossivel-prevenir-causas-dadeficiencia.htlm. ( Fonte : Ministério da Saúde)

RIBAS, J. B. C. O que são pessoas deficientes. São Paulo: Nova Cultural, 1985.

ROSA, SUELY PEREIRA DA SILVA. Fundamentos teóricos e metodológicos da inclusão – Curitiba: IESDE, 2004. 176 p.

TELFORD, C.; SAWREY, J. M. O indivíduo excepcional. Rio de Janeiro: Zahar,

1976.

Giana Andrade
Enviado por Giana Andrade em 22/04/2012
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