ANALISE E INTERPRETAÇÃO DE CHARGE COM BASE NOS ESTUDOS DA SEMIÓTICA

Ângela Maria Pereira da Silva

Raimunda Oliveira e Silva

Thaís Mendonça da Silva *

Universidade do estado do Pará UEPA

RESUMO

Este Artigo tem como objetivo analisar a Charge publicada em um blog no qual o chargista, faz-se uma crítica referente ao governo de São Paulo com a expulsão dos dependentes químicos de crack, que viviam na chamada cracolândia região central da cidade. A análise será fundamentada através dos estudos da semiótica presente no livro: Semiótica, Informação e Comunicação, de Coelho Neto. Num primeiro momento, fez-se a conceituação do gênero “charge”, e o que leva uma pessoa a usar drogas, para melhor compreensão do assunto.

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PALAVRA CHAVE: Semiótica, Charge, Leitura, Sentidos.

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• Discentes do 4º ano do curso de Licenciatura Plena em Língua Portuguesa Letras na Universidade do Estado do Pará (UEPA) Campus VII de Conceição do Araguaia-PA.

INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é mostrar, como se dá a analise e leitura da charge através da teoria da semiótica, é importante destacar que a charge, além do seu caráter humorístico, e, embora pareça ser um texto ingênuo e despretensioso, constitui uma ferramenta de conscientização. Pois, ao mesmo tempo em que diverte, informa, denuncia e critica, constitui-se um recurso discursivo e ideológico.

Segundo Barros (2007 p.7) “A Semiótica tem por objeto o texto, ou melhor, procura descrever e explicar o que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz”. Dessa forma nos propõe a pensarmos e analisarmos sobre mínimos detalhes existentes em um texto, uma propaganda, charges e outros diversos tipos de imagens que estejam implícito, dessa forma nossos pensamentos se expandem buscando e adquirindo novos conhecimentos.

A semiótica é uma ciência que se preocupa com o estudo dos textos, ou com a construção dos seus sentidos, cujo objetivo é estudar os signos e suas manifestações, seja visual, gestuais ou verbais.

Peirce identifica como sendo a acepção do signo, sua mera definição – sua estrutura mecânica, enfim. A passagem para segundo nível possibilita a captação do Significado, fornecido pela intenção constante do signo, mas somente com a chegada ao nível de Significação é que se pode dar por dominado o signo, isto é, a Chegada ao nível do Interpretante Final. (PEIRCE, apud, NETTO, 2003. p.88).

Considerando que a linguagem humana surge da interação dialética entre o homem e seu meio- cultural, concebemos esse estudo relevante, uma vez que a perspectiva semiótica dá conta dos vários níveis de leitura de um texto. Com base nestas considerações o presente artigo abordará os mecanismos da construção de um texto chargístico, examinado para além da aparência.

A charge a ser analisada traz uma crítica dos acontecimentos sociais e políticos referentes às drogas, tornando assim, um grande problema para a população que vive em tamanhas circunstâncias. Por outro lado nos remete a pensar, o que fazer diante de situações que deveriam ser discutidas e analisadas buscando uma forma para ajudar centenas de dependentes químicos que vivem nas ruas.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para que essa análise tivesse fundamentos científicos fez-se necessário uma pesquisa sobre teorias lingüísticas e semióticas, baseadas em leituras realizadas e discussões para que as mesmas fossem compreendidas.

Tendo em vista que se tratando de semiótica não é um assunto de fácil entendimento, mas quando se fala o termo teorias lingüísticas nos remete a algo ligado a língua, e na verdade é, o estudo que consiste a teoria da língua e da linguagem.

Entendemos que o signo por sua vez é composto de um significante e significados, intimamente ligados um dependendo do outro sabendo que o significado é o que corresponde um conceito ou o seu conteúdo, e o significante é a parte que nos remete a imagem psíquica ou gráfica do conceito, além do signo existe outras formas de linguagem como a pintura, a mímica, o código de trânsito, a moda, as linguagens artificiais, etc.

Percebe-se que o texto chargístico é um tipo de gênero textual bastante interessante, pois associa aspectos da linguagem verbal e não-verbal, despertando uma curiosidade no leitor, tornando um campo fértil para análises distintas, de acordo com os estudos da semiótica.

Para que haja um entendimento do texto, requer um conhecimento de mundo, e dos acontecimentos atuais, sobre tudo o leitor ter a capacidade de identificar os personagens descritos nesse cenário. Para Koch (1992 p.43) “Se não levarmos em conta conhecimentos de mundo, como, então, compreender o enunciado”. Assim esse conhecimento é essencial para a produção de sentidos que cada leitor dá ao texto.

METODOLOGIA

Neste artigo, iremos apresentar uma análise ilustrativa de uma charge retirada do blogsport do chargista Bruno, buscando uma compreensão através do livro de Coelho Neto Semiótica, informação e Comunicação. Num primeiro momento, fez-se a conceituação do gênero “charge” para melhor compreensão do assunto, logo em seguida faz se a leitura semiótica da charge, fazendo uso de várias possibilidades que a semiótica oferece.

Entre as vantagens de um texto constituído por imagens, de acordo com alguns teóricos, destaca-se o fato de ele ser universal, pois vence a barreira da linguagem, podendo, através de um entendimento imediato, ser compreendido por pessoas de língua e cultura diversas. No contexto semiótico, figuras são termos que fazem remissão aos elementos do mundo. Cabe, portanto, mostrar a organização do sentido, priorizando os mecanismos que os enunciadores utilizam para construir e instituir o texto, comunicando-o aos enunciatários (leitores das charges).

A semiótica é entendida, em termos gerais, como a ciência que estuda os signos, os quais são sinais que representam algo, podendo ser objetos perceptíveis ou apenas imagináveis.

A CHARGE

Crítica humorística de um fato ou acontecimento específico. É a reprodução gráfica de uma notícia já conhecida do público, segundo a percepção do desenhista. Apresenta-se tanto através de imagens quanto combinando imagem e texto.

A charge absorve a caricatura em seu ambiente Ilustrativo, e constitui um tipo de texto visual e desenhado, cujo objetivo é focalizar uma determinada realidade, geralmente política, sintetizando esse fato. A charge faz menção aos fatos e acontecimentos no momento em que está acontecendo, daí sua efemeridade.

Por ser um tipo de texto eclético, a charge propicia a interdisciplinaridade e pode tornar-se um excelente recurso de conscientização no exercício da cidadania.

O QUE LEVA UMA PESSOA A USAR DROGAS?

Os principais motivos que levam um indivíduo a utilizar drogas são: curiosidade, influência de amigos, vontade, desejo de fuga dos problemas, ou até mesmo para tomar coragem para enfrentar as dificuldade, ou pela busca por sensações de prazer, etc. O uso de drogas em nosso país vem aumentado a cada dia que passa, cidades grandes como São Paulo e o Rio de Janeiro é um exemplo nítido dessa realidade, onde jovens, adultos adolescentes e até mesmo crianças estão se tornando cada vez mais dependentes dessa droga que é tão temida pelos pais.

As drogas são substâncias naturais ou sintéticas que ao serem penetradas no organismo humano, independente da forma, ingerida, injetada, inalada ou absorvida pela pele, entram na corrente sanguínea e atingem o cérebro, alterando todo seu equilíbrio, podendo levar o usuário a diversas reações podendo ser agressivas ou não.

Os dependentes químicos são vistos como uma ameaça para a população, ninguém quer chegar perto de um viciado pelo fato de transmitir medo e insegurança, causando um preconceito contra essas pessoas que perdem toda a noção do problema que a droga faz,destruindo famílias e vidas.

CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO

A charge foi divulgada no dia 17 de Janeiro de 2012, em chargesbruno.blogsport.com.br, quando ocorreu a expulsão pelos policiais, dos dependentes químicos que viviam numa área dominada por traficantes e usuários de drogas, a chamada Cracolândia, no centro de São Paulo.

Toda esta leitura e compreensão sígnica da charge só ocorrerá se o receptor da mensagem realmente estiver a par de tudo que está acontecendo ao seu redor, ou seja, a enunciação e a recepção desta charge dependem das condições de produção. Sem conhecer o momento histórico, o leitor pode sim fazer a interpretação, só que ela será bem diferente.

Fonte: http://chargesbruno.blogspot.com.br/ Terça - Feira, Janeiro 17, 2012

Podemos observar nesse texto que o chargista usou a linguagem verbal e não verbal, assim certamente os leitores ao lerem atribuirão sentido através dos seus conhecimentos atuais e de mundo, usando certamente a sua concepção de leitura. De acordo com Freire (2003). “A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre texto e o contexto” (FREIRE, 2003, P.11). Assim o leitor precisa estar atento a tudo que acontece no mundo a cada momento, pois as charges vêm com essa ligação com o contexto social, político e etc.

A charge analisada tem como titulo “Ação contra o crack”, faz uma critica ao poder dos governantes de São Paulo, mas precisamente na pessoa do prefeito José Kassab que expulsou os usuários de Crack no centro da cidade, na região das históricas estações da Luz e Julio Prestes. Onde hoje também se encontram a Pinacoteca do Estado e a Sala São Paulo, o local é a mais nova e almejada menina dos olhos do setor imobiliário, verdadeiro mandante da Paulicéia e seus respectivos políticos.

Dessa forma, com vistas a dar vazão ao contestado projeto do prefeito Gilberto Kassab de revitalização da área, batizado de ‘Nova Luz’ e contestado pelos próprios moradores e comerciantes da área. O governo e a prefeitura de São Paulo deram início à operação “Sufoco”, sugestiva por si só, com vistas a combater o ostensivo tráfico e uso do crack, a droga mais consumida pelos miseráveis e moradores de rua, cujos efeitos são reconhecidamente os mais nefastos dentre todos os itens do varejo das drogas.

Aplaudida de pé pela mídia e seu público alienado, a operação contou apenas com a presença da Polícia Militar, e seu braço de elite, a Rota, no combate e dispersão dos usuários, no caso da charge as imagens demonstram a violência e o preconceito do prefeito em relação aos viciados.

A charge apresenta algumas pistas textuais que nos levam a interpretação, uma delas é a representação dos cachimbos utilizados para a queima do crack. O braço de uma pessoa usando um terno o que leva a entender que tal medida foi tomada pela elite do poder, a vassoura simboliza a idéia de que a medida tomada pelo prefeito foi apenas de adiar o problema, daí se faz menção ao ditado popular, “varrer a sujeira pra debaixo do tapete”. O que mostra os usuários sendo varridos pra debaixo do tapete.

A ação da polícia não resolveu o problema, apenas varreu para áreas próximas da cidade, daí a imagem da vassoura na charge, o signo que representa um objeto que utilizado para varrer a sujeira de algum lugar, nesse caso analisado o objeto varrido representa os viciados em Crack. Levando a acreditar que foi uma ação precipitada, mal planejada, onde o estado não tinha estrutura para abrigar e tratar todos os viciados.

Ou seja, essas pessoas vão continuar dependentes, vagando como zumbis pela cidade, e os traficantes vão encontrar outros locais para comercializar as suas drogas. E com isso surgirão pequenas cracolândias que só tem tendência a crescer. Não trataram o problema, apenas adiaram a situação, para o projeto "Nova Luz" poder ser implantado, percebe-se a critica, feita pelo chargista Bruno dando a idéia de que varreram a sujeira pra debaixo do tapete.

A produção de sentido existente na charge se dá através da compreensão do signo charge e suas imagens e enunciados. Pode-se perceber que os discursos produzidos nela representam ideologias, e estas ideologias são mostradas através de referências sociais que nos fazem refletir sobre os seus posicionamentos e nos influenciam ao ponto de refletirmos sobre os nossos comportamentos.

O Humor se dá nesta charge pelo fato de que alguém está varrendo os viciados em crack pra debaixo do tapete. Esta charge vai muito além do humor, seus implícitos, do ponto de vista do discurso, ativam uma memória discursiva que remete a questões ideológicas de poder, de autoritarismo e violência.

As cores apresentadas como se tivessem embaçado é uma forma de mostrar como é a vida dessas pessoas que vivem na rua, mostra também um fundo cinza, enfumaçado, retratando a sujeira e fumaça que os dependentes químicos deixam nas ruas por onde eles vivem.

O que podemos observar é que o objetivo dessa charge é ironizar e desmascarar valores que se colocam como únicos e verdadeiros, denunciar problemas e acontecimentos sociais, políticos e históricos. O chargista mostra o aspecto negativo e vergonhoso em que se encontra o Brasil, através de críticas e denúncias, mostradas na charge em analise.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta analise serve para se pensar na forma como a semiologia insere o signo dentro das charges, pintura e cartuns, fazendo com que os leitores possam vê aquilo que está implícito podendo interpretar e analisar de acordo com seus conhecimentos de mundo e concepções de leituras, sabendo identificar a linguagem verbal e não verbal.

O que levou a entender que através da semiótica é possível analisar todos os aspectos no que se refere a signos e símbolos dentro de um texto.

BIBLIOGRAFIA

BARROS, Diana. L.P. de. Teoria Semiótica do texto. São Paulo: Ática. 2007.

FREIRE, Paulo. A importância do Ato de Ler. Moderna. São Paulo, 2003.

KOCK, Vilhaça de Ingedore. ELIAS Vanda M. Coerência textual: um princípio de interpretabilidade. In Ler e compreender os sentidos do texto. Editora: Contexto, 1992.

NETTO, J.T. Coelho: Semiótica: informação e comunicação. São Paulo: Perspectiva, 2003.

FONTE: http://chargesbruno.blogspot.com.br/ Terça - Feira, Janeiro 17, 2012

Raimunda Oliveira, Angela Silva e Thaís Mendonça.
Enviado por Raimunda Oliveira em 20/04/2012
Código do texto: T3623553
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