O Pior dos Inimigos
Há um inimigo que nos espreita as vinte e quatro horas do dia, tirando o nosso sossego; impedindo que vivamos plenamente. Ele nos persegue sem trégua; quando menos percebemos ataca-nos sem piedade, causando danos a nossa saúde, minando nossa energia, extraindo de nós o maior dom da vida: a felicidade.
Lutamos contra este inimigo e sentimo-nos derrotados ao vermos que o dia acabou e tudo ficou para trás; restou um cansaço extremo, aquele ânimo da manhã se desvaneceu por completo e só pensamos num sofá ou numa cama a fim de obtê-lo de volta. Torcemos para que o inimigo não ataque à noite, roubando as horas de sono; aí estaremos perdidos.
Falo da preocupação. Ela representa, para o homem moderno em especial, a causa de sua derrota, pois age diretamente em seus pensamentos, tolhendo a iniciativa, pois que paralisa as idéias claras e adormece a coragem. Qualquer interferência de um pensamento alheio à atividade da mente em determinado momento já pode ser considerada uma forma de preocupação, pois interfere negativamente no que estamos fazendo. A expressão “viajando” dá bem uma idéia do que a preocupação é capaz. Se somarmos todos os instantes em que a mente “viaja” durante um único dia ficaremos surpresos ao constatar o tanto de energia vital que fora sugado de nós e como conseguimos ainda nos manter de pé ao cair da noite.
Preocupação versus felicidade, este é um combate atroz travado incessantemente. Afirmo que não há espaço para as duas em nossas vidas; o predomínio de uma resulta no aniquilamento inexorável da outra. É impossível ser feliz sendo escravo da preocupação, da mesma forma que a felicidade não deixa brechas para a entrada da preocupação. Se me perguntassem qual é o segredo da felicidade, diria sem pensar: “livre-se das preocupações e viva o agora de sua vida”.
Se analisarmos a vida chegaremos à conclusão de que ela é feita de uma sucessão de momentos. Não temos meios de alterar o passado e o futuro ainda não chegou, logo a preocupação é inútil, pois não vai alterar outra coisa além do nosso estado de espírito, ainda podendo comprometer a saúde. Se procurarmos viver cada momento com alegria e intensidade, dando o máximo de nós em pensamentos e atos que geram a gratidão e o bem estar do outro, não sobrará tempo para nos preocuparmos; e nem motivos, porque o futuro não é outro que não o resultado das nossas ações no presente. Estamos construindo o futuro a cada segundo. Podemos, portanto, dizer que ele depende de nós. Então, mais uma vez, não há razão para se preocupar com ele. Dentro deste raciocínio criaremos também o nosso passado, posto que seja este o futuro já transcorrido.
Um dos efeitos mais imediatos do hábito de se preocupar revela-se no nosso desempenho, pois que há um desperdício de energia, o que gera a falta de concentração. Isto impede a chegada de boas idéias ao cérebro; ficamos prostrados e sem iniciativa. A vida necessita de ação constante seguida de foco contínuo no objetivo; a preocupação impede este foco ao fazer com que o pensamento gire para todos os lados, o que é altamente improdutivo. Não importa a capacidade ou a genialidade de uma pessoa, se ela se deixar dominar pela preocupação será infeliz, ao passo que o indivíduo comum e de inteligência mediana terá uma vida feliz se não deixar a preocupação dominar os seus dias.
Sinapses são impulsos elétricos gerados no cérebro cuja função seria manter vivos os neurônios o máximo de tempo possível, conservando nossa energia. O pensamento firme e centrado dá vida a esses neurônios ao ativar a função sinapse, mantendo-nos alertas, bem humorados; não nos cansamos facilmente, porquanto não desperdiçamos a energia do nosso cérebro em assuntos que não dizem respeito ao momento em que estamos vivendo.
Quando a preocupação nos ataca, o gasto de energia é imediato devido ao que foi explicado e isto não leva a nada a não ser um dia péssimo. Como a vida é feita de uma sucessão de horas, quando não aproveitamos de forma positiva e vigorosa cada momento dessas horas, tornamo-nos infelizes. Impossível ficar-se um segundo sequer sem emitir pensamentos enquanto estamos despertos. Que sejam estes então focados no momento presente, não importa o que estejamos fazendo. Se estivermos olhando para uma flor, que olhemos então para a flor; isto é amor.
Sentimos um banho de energia em todos os poros do nosso corpo e em cada escaninho da alma quando somos atenciosos. Se a atenção para o próximo é digna de louvor, por ser também uma forma de amar, o que não dizer então da atenção e cuidado com nós mesmos, com nossos próprios pensamentos? Chega a ser uma forma de ironia: viver sem se preocupar é esquecer que existimos, é lançar para fora de nós mesmos os pensamentos; é um ato de amor, pois preocupar-se é ser egoísta.
Tudo que aí está foi-nos legado por Deus para o nosso bem estar, para nossa felicidade. A saúde é a maior dádiva, pois que nos capacita a usufruir das benesses Divinas. Continuaremos a ter saúde o quanto quisermos enquanto vivermos agradecidos, sem nos preocuparmos com ela. Se olharmos ao nosso redor veremos quão felizes são os seres que vivem naturalmente gozando cada minuto da existência.
É perfeitamente natural que, como seres inteligentes e racionais, busquemos realizações; diria ser este o nosso principal objetivo, pois é para isto que fomos criados. Mas tudo tem o seu tempo e a sua hora. Lazer na hora que deve ser dedicada ao trabalho e preocupação atormentando o lazer pode ser uma forma lenta de suicídio. A preocupação constitui a antítese do bem viver e dissipa a existência. Não são as longas horas de um dia cheio de responsabilidades que esgotam as energias, mas a cabeça cheia de preocupações. Ao invés de se viver o momento, dar o melhor e esquecer o resto porque já está agendado e programado, fica-se sempre pensando no que se vai fazer em seguida; isto, além de trazer um cansaço desnecessário, faz com que o dia deixe de ser produtivo, porquanto, se somados os instantes que perdemos em procrastinação e a agilidade que diminui enormemente, representam um desperdício incalculável de energia.
Vivemos escravos do relógio as vinte e quatro horas do dia; é ele quem dita as nossas ações. Não perdemos tempo em horas, mas em minutos. Manter uma conversa agradável com um grupo de amigos faz muito bem; isto representa lazer e faz recuperar o ânimo porque afasta as preocupações. Todas as vezes em que travamos um diálogo interessante ou que focamos a atenção numa história, num bom filme ou em qualquer outra coisa que capture os nossos sentidos, é incrível como não vemos o tempo passar.
Às vezes perdemos a hora para o compromisso seguinte e sentimos uma sensação gostosa em todo corpo e na mente porque os hormônios da felicidade passam a exercer o seu papel. Não deixa de ser este exemplo uma prova incontestável do efeito salutar causado pela mente concentrada e livre de empecilhos. Não é novidade; nossa memória é estimulada e não esquecemos facilmente daquilo que prendeu nossa atenção; lembraremos com detalhes cada vez que tivermos necessidade. Aos que estudam e têm dificuldades em determinadas matérias, experimentem o recurso da atenção concentrada; entrem no assunto e na fala do mestre como se ouvissem uma história contada pelo melhor amigo. Verão que o fantasma da dificuldade tende a desaparecer e o assunto, antes traumático, passará a despertar gosto e interesse.
Aproveitar a vida é curtir os bons momentos, mas o que seriam estes bons momentos? Dirão uns: “viver da forma que nos agrada, fazendo aquilo que gostamos”. Bem, isto é relativo e pode ser até perigoso, dependendo da interpretação da frase. Não é preciso nem muita inteligência para entender isto. Se o que agrada a você não agrada ao outro, ou pior ainda, causa a ele transtorno e infelicidade, já pode ser considerado um mal.
Por que muitas preocupações são dificílimas de serem eliminadas? Porque têm a ver com atos passados que vivem martelando nossa consciência, tirando o nosso direito à paz de espírito e à felicidade. Isto é ruim porque influi negativamente sobre tudo, é o passado querendo interferir no presente e, pelo exposto, tirando as chances de um bem estar no futuro. A solução para isto é procurar viver o mais corretamente possível a fim de ter uma consciência limpa e tranquila; pode-se dormir em paz nestes casos. É praticamente a garantia de uma vida feliz, pois muito poucas serão as preocupações. Não é demais ressaltar que quase todas as tragédias humanas nascem do erro mental de se achar que a felicidade está dissociada do altruísmo, da filantropia e do amor ao próximo. Querer só para si é mais grave do que podemos pensar; não é uma questão de egoísmo apenas, mas de catástrofe humana. Não sou eu quem fala, é só analisar os males sociais que chegaremos às causas pessoais desses males. A falta de amor e o egoísmo vão estar por trás de quase a totalidade deles e isto vai gerar as preocupações que podem ocasionar desvios mentais ou de conduta, geradores de inúmeras tragédias.
E, se por acaso, o mal já foi praticado? Para tudo há uma solução nesta vida, inclusive para a morte, por ser ela uma chance a mais de aprimoramento. Sendo a preocupação a maior tragédia, a sua erradicação é o principal objetivo. Creio que no perdão está a solução verdadeira. Se orarmos a Deus, submetendo a Ele nossas máculas passadas e, com humildade, agradecermos, convictos de que nossa prece foi atendida e que já fomos perdoados, está solucionado o problema, mas para isto há duas condições imprescindíveis: A primeira é o perdão. Perdoarmos a nós mesmos pela falta cometida antes de perdoar a quem necessário for; isto é fundamental para o retorno da paz de espírito. E, em segundo lugar e mais importante, não reincidir no erro para que a felicidade venha de fato.
Como filhos de Deus que somos não precisamos reivindicar as qualidades humanas, mas apenas reconhecê-las, pois tendo sido gerados da perfeição, perfeitos já somos. A crença errônea de que somos seres maus e pecadores, advinda dos primórdios da humanidade com o pecado de Adão e Eva precisa ser eliminada e realimentada com uma nova crença: a de que Deus, nosso Pai Amoroso, só deseja o nosso bem e a nossa felicidade, pois é esta a ordem natural das coisas. Uma vida alicerçada nesta verdade já é, por si só, um motivo de felicidade perene e inabalável, onde as preocupações deixam de existir, pois uma semente não cresce sem terreno fértil para alimentá-la.