Resposta a Rubem Alves
Caro Rubem Alves,
Em seu texto “Meu coração fica com o coração dela...”, você termina pedindo ajuda para encontrar um modo de ensinar compaixão. Por muitos dias pensei sobre esses modos. Qual seria o método para ensiná-la? Você colocou mais uma caraminhola nas minhas “caraminholices”. Você me provocou para chegar a uma conclusão que sei que você também chegou: compaixão se ensina do modo como Camila fez, sentindo, praticando..
Há muitas coisas na vida que não se ensina, verdadeiramente, através dos métodos didáticos. Elas são ensinadas com o exemplo e com a coragem de abrir o coração e se declarar sensibilizado diante de uma situação. De não negar a essência de ser humano. De não negar o sentir...
Muitas vezes buscamos respostas para coisas que não se explicam, pois são sentimentos vivenciados: poesia, amor, Deus, compaixão. Explicá-los é simplificação, redução. Se o fizermos, perderemos a beleza da complexidade.
Mas creio que posso ensinar compaixão quando me disponho a ouvir uma aluna chorosa porque brigou com a mãe ou com o namorado. Coisas que todos adolescentes passam... Eu sei, mas eles ainda não. Precisam ser ouvidos.
Paro tudo, ofereço um copo de água e escuto o que tem a falar. Ajudo a enxugar as lágrimas, compadeço-me de seu sofrimento, não finjo que sinto. Sinto e entristeço-me porque sei que, naquele momento, realmente dói e juntas tentamos achar uma forma de diminuir a dor. Questiono sobre os motivos que a levaram àquela situação e se não há outro modo de encarar esse problema. Brinco dizendo-lhes que só tem dor de cabeça quem tem cabeça e isso é bom, mas podemos solucionar usando a nossa cabeça ou cortando-a. Ofereço-me para serrá-la... Percebo o esboço de um sorriso. Lanço sementes...
Não é raro, no dia seguinte nos encontrarmos pelos corredores do colégio e a sofredora do dia anterior, um tanto envergonhada por estar com os colegas, me dizer: “Valeu!” ou “Deu tudo certo”. Limito-me a aquiescer e sorrir.
Fico feliz porque logo vejo a jovem abrir um sorriso e continuar animada sua conversa. Meu serviço ficou atrasado e algumas horas a mais serão necessárias, mas acredito que a semente lançada germinará em outro gestos de compaixão, de coração para coração.