A CULTURA DA PERMISSIVIDADE

Quando um professor abraça a carreira, sabe que a ela estão intrínsecos os baixos salários, mas espera alguma compensação, como o prazer de ensinar. Todavia, de repente, não mais que de repente, como dizia o poeta, as ilusões se esvaem. Ele descobre-se uma marionete dentro de estrutura repressora e antiquada, ativa fonte de alegorias do nada.

O ensino público, com demérito para todos os governantes, já de há muito passou a ser uma ficção de mau gosto. Na prática, implantou-se nos ensinos médio e fundamental um mecanismo enganoso que se pode definir como aprovação automática. Ninguém mais reprova, ninguém mais precisa de méritos, ninguém mais precisa de esforço e disciplina para aprender. Eu costumo dizer que um aluno, para não ser aprovado, precisa realmente querer muito isso e persistir nesse objetivo. Os tais conselhos de classe nas escolas desautorizam os professores e implantam a cultura do coitadismo, isso sob a inspiração das estruturas oficiais de educação, forjadoras de estatísticas.

Tais fatos igualam o alunado por baixo e lhe propicia os mesmos resultados, independentemente da existência de méritos. A maioria conclui o ensino médio sem saber ler e escrever de forma adequada ou realizar operações fundamentais da matemática. E para que aprender tudo isso se o diploma vem igual e se o paternalismo os torna imune a despender energias na melhoria de seus conhecimentos?

Apesar do entendimento de entidades representativas, o que mais angustia os mestres não é a questão salarial, mas sim o desprestígio da profissão, os desrespeitos cotidianos com que são brindados em sala de aula, a impossibilidade de desenvolver um trabalho de qualidade mínima. Também pesa o fato de serem vistos como elementos subsidiários da família em valores mínimos, como boas maneiras, quando, na verdade, são formados para ensinar conteúdos, e não assistentes sociais de famílias desestruturadas. O mais que fizerem com menos é espontâneo e não obrigação.

Vivemos uma era da permissividade e do assistencialismo. As responsabilidades devem ser terceirizadas sob pena de ficarem um fardo pesado demais sobre os ombros das vítimas de um sistema injusto. Assim, nada melhor que criar uma grande bolha onde elas estarão isentas de serem atingidas pelos males do mundo. Nisso pegam carona até mesmo os grandes banqueiros, numa impunidade que grassa para lados indistintos. Todos combatem os moinhos do mal, representado pelos que cobram valores e condutas. Nada mais anacrônico que essa cobrança num mundo em que até as aparências aparentam cada vez menos.

Correio do Povo - Porto Alegre-RS, Brasil.

Sexta-feira, 12 de setembro de 2008.

Veja também:

www.cursodeportugues.zip.net

(Curso de Português)

www.megalupa.zip.net

(Jornal Megalupa)

Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 08/03/2012
Reeditado em 10/03/2012
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