DEZ LEMBRANÇAS DE INFÂNCIA.
Por Carlos Sena
Por Carlos Sena
Em Bom Conselho-PE, nos nossos tempos de infância, as brincadeiras beiravam a ingenuidade, se comparadas com as de hoje. Hoje a juventude incendeia índios, mata mendigo, faz todo tipo de maldade em companhia do crack e outras drogas. Na nossa época o que se cheirava era como diz hoje Reginaldo Rossi, o xibiu das meninas, não necessariamente nessa mesma ordem. Além disto, nossa liberdade era posta a toda prova e a gente esnobava disto. Por isto selecionei dez passagens ou citações interessantes e que, de alguma maneira, todos que hoje tenham entre 40 e 60 anos podem ter conhecimento. Se não na integra, mas na condição:
01 – UMA LERA quando alguém dava o dedo:Quem dá o dedo dá o cu dá a chave do baú...
02 – UM REFRÃO para quando um colega nos chamava de PORRA:
Porra, não corra, vá no compasso, pinguela da mãe caiu leve debaixo do braço...
03 – MINHA PRIMEIRA PIADA:
Sabe por que a mata é virgem? – Porque o vento é fresco.
04 – BRIGA DE MENINO DE INTERIOR:
Quando dois amigos queriam brigar, logo apareciam os alcoviteiros: tiravam um pouco do cabelo de um e do outro (figurativamente) e estimulavam um dos dois a ir buscar “seu cabelo”. Nisto, o cacete comia no centro.
05 – IDEM:
Na mesma linha do anterior: quando dois amigos queriam brigar, passava-se um risco no chão (com o pé) e se dizia: mãe de um e em outro risco mãe do outro. Se um dos dois apagasse o risco que significava a mãe do outro, o cacete comia no centro.
06 – LINGUAGEM PECULIAR:
Quando os meninos brigavam alguém dizia que estavam numa “buia”.
07 – PAU DE MERDA – Uma brincadeira suja, mas sem maldade:
Um bando de garotos da mesma turma saia às ruas, de preferência à noite. Quando chegava a outra rua diante de uma turma rival (hoje é gang) simulavam uma briga. Na discussão, um dos membros com um pau na mão ameaçava o outro. De repente, um deles (combinado) dizia que ele só era valente porque estava com um pedaço de pau na mão. “Por isso não, eu entrego o pau, dizia”. De repente o pau era entregue a outro garoto da gang rival que logo se dispunha a ficar com ele para ver quem iria levar o cacete no couro. Quando o pau era entregue que o outro segurava na extremidade, puxava-se o pau e deixava o outro com a mão melada de merda. Todos saiam em desabalada carreira com os demais da outra turma correndo atrás. Nem sempre dava certo, mas a gente corria o risco.
08 – MALDADE DO BEM:
A gente costumava ir ao convento das freiras colocar um uma fita adesiva na campanhinha. Quando as freiras iam ver quem diabos estava ali tão sem paciência, nada. Não viam ninguém por perto. Distante, a gente por trás do cruzeiro ficava morrendo de rir... Na mesma linha: bater na porta do povo e sair correndo. Ainda na mesma linha: bater palma e gritar “quer comprar banana”? Quando a pessoa vinha não tinha ninguém na porta.
09 – PALHAÇO DE PERNA DE PAU:
agente adorava “gritar” com o palhaço pra ganhar a entrada no circo à noite. Só que nossos pais diziam que isto era coisa de moleque, não da gente, pois nós éramos tidos e havidos como “de família”. Mas a gente ia. O importante era que à noite a entrada no circo estava garantida. Contudo, não sabemos até hoje quem, mas sempre alguém ia dizer aos nossos pais e, de repente, eles chegavam e nos arrastavam pelas orelhas debaixo de pau... Resultado: nada de circo à noite. Mas muitas vezes a gente conseguia “gritar” com o palhaço sem ser denunciado. No final, o palhaço colocava em nosso braço uma marca de cinza – ela a credencial para entrar no circo. Só que quando a gente chegava em casa, nossas mães logo nos conduziam pro banheiro e... Debaixo do chuveiro, lá se ia a nossa marca de cinza e, mais uma vez, nosso circo ia pro beleléu...
10 – PALHAÇO PERNA DE PAU 2:
Certa tarde, ao “gritar” com o palhaço, um colega nosso por nome FERNANDO DE NAZARÉ aprontou com o palhaço. Em determinado momento do trajeto, ele (o palhaço) simula que vai cair. A gente corria e segurava ele deitado em nossos braços e ele, com toda picardia cantava: “o palhaço morreu” e a gente respondia: “o couro é meu”. Certa hora o palhaço gritou: “o palhaço morreu” e Fernando respondeu: “ o cu é meu”. Pronto. O palhaço saiu correndo atrás dele, mas por conta das pernas de pau não deu certo. Novamente a gente não ia ao circo à noite.