A importância da Psicopedagogia no âmbito Escolar
Para SISTO (1996) é uma área de estudos que trata da aprendizagem escolar, quer seja no curso normal ou nas dificuldades. CAMPOS (1996) considera que os problemas de aprendizagem constituem-se no campo da Psicopedagogia.
A Psicopedagogia é vista por SOUZA (1996), como área que investiga a relação da criança com o conhecimento.
O Código de Ética da Psicopedagogia, no Capítulo I, Artigo 1 º, afirma que "A Psicopedagogia é campo de atuação em saúde e educação o qual lida com o conhecimento, sua ampliação, sua aquisição, distorções, diferenças e desenvolvimento por meio de múltiplos processos" .
A Psicopedagogia é uma área de estudos nova que pode e está atendendo os sujeitos que apresentam problemas de aprendizagem. Segundo BOSSA (1994), a Psicopedagogia nasce com o objetivo de atender a demanda - dificuldades de aprendizagem.
Segundo FERREIRA (1982, p. 1412), Psicopedagogia "é o estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que daí decorrem, para regular a ação educativa do indivíduo". Neste sentido, a Psicóloga e Psicopedagoga Nádia A. BOSSA (1995) considera que o termo Psicopedagogia parece deixar claro que se trata de uma aplicação da Psicologia à Pedagogia: por isso esta definição não reflete o verdadeiro significado do termo.
De fato, a Psicopedagogia vai além da aplicação da Psicologia à Pedagogia, pois ela não pode ser vista sem o caráter interdisciplinar BORGES (1994) e SOUZA (1996), o qual implica na dependência da contribuição teórico prática de outras áreas de estudos para se constituir como tal. Por outro lado, a Psicopedagogia não é "o estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que daí decorrem,..." , visto que ela não se limita à aprendizagem da criança, mas abrange todo processo de aprendizagem. Conseqüentemente, inclui quem está aprendendo, independente de ser criança, adolescente ou adulto.
Com a reformulação do Código de Ética em 1996, a conceituação de Psicopedagogia sofre alteração, passando ser a seguinte: "... campo de atuação em Educação e Saúde que lida com o processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio - família, escola e sociedade - no seu desenvolvimento, usando procedimentos próprios da Psicopedagogia".(Cap.I;Artigo1º).Continua afirmando que a Psicopedagogia é uma área de atuação que engloba saúde e educação, também limita o campo de atuação à cognição, destacando que envolve os padrões normais e patológicos da aprendizagem, ainda, enfatiza a influência do meio (família, escola e sociedade).
A definição de Psicopedagogia apresentada pelo Código de Ética do psicopedagogo, portanto, uma decisão tomada em consenso pelos membros da Associação Brasileira de Psicopedagogia enfatiza que esta é um campo de atuação. Se a Psicopedagogia é conceituada como campo de atuação e não como profissão, qual é sua validade?
São crescentes os problemas referentes às dificuldades de aprendizagem no Brasil. A Pedagogia embasada em teóricos conceituados como Piaget, Vygotsky, Freinet, Ferreiro, Teberosky e outros, tem sido insuficiente para prevenir ou intervir nas dificuldades de aprendizagem. Para tanto, a Psicopedagogia surge para auxiliar na intervenção e prevenção dos problemas de aprendizagem.
BOSSA (1994) afirma que os problemas de aprendizagem possuem origem na constituição do desejo do sujeito. As explicações para o fracasso escolar têm sido dadas com justificativa na desnutrição, nos problemas neurológicos e genéticos. Poucas são as explicações que enfatizam as questões inorgânicas, ou seja, as de ordem do desejo do sujeito.
Contudo, para entendermos os problemas de aprendizagem realizar diagnósticos e intervenções tornam-se necessário considerarmos os fatores tanto internos quanto externos desse sujeito, não devendo ser ignoradas as causas exógenas e endógenas.
Durante o estagio foi possível relacionarmos a formação teórica com a prática, e aprendemos o caráter interdisciplinar desta atuação, pois este enfoque exige a integração de profissionais de diversas áreas, tanto para o enfoque preventivo quanto para o terapêutico.
Ressalta BOSSA (1998,p8) que "os psicopedagogos têm construído sua teoria a partir do estudo dos problemas de aprendizagem. E a clínica tem se constituído em eficiente laboratório da teoria".
Tanto na clínica quanto na instituição, o psicopedagogo atua intervindo como mediador entre o sujeito e sua história traumática, ou seja, a história que lhe causou a dificuldade de aprender. No entanto, o profissional não deve fazer parte do contexto do sujeito, já que ele está contido numa dinâmica familiar, escolar ou social da qual o profissional deve manter-se ciente do problema de aprendizagem, fazer a leitura e a intervenção no mesmo. Assim, com o auxílio do psicopedagogo, o sujeito pode reelaborar sua história de vida reconstruindo fatos que estavam fragmentados e retomar o percurso normal de sua aprendizagem.
Neste ângulo, o trabalho clínico do psicopedagogo se completa com a relação entre o sujeito, sua historia pessoal e a sua modalidade de aprendizagem. Já o trabalho preventivo objetiva "evitar" os problemas de aprendizagem, enfatizando a instituição escolar, os processos didáticos e metodológicos, a dinâmica institucional com todos profissionais nela inseridos.
Para Psicopedagogia é fundamental que o profissional faça uso do trabalho interdisciplinar; pois os conhecimentos específicos das diversas teorias contribuem para o resultado eficiente da intervenção ou prevenção psicopedagógica. Por exemplo, a Psicanálise pode fornecer embasamento para compreender o mundo inconsciente do sujeito; a Psicologia Genética proporciona condições para analisar o desenvolvimento cognitivo do sujeito; a Psicologia possibilita compreender o mundo físico e psíquico do sujeito; a Lingüística permite entender o processo de aquisição da linguagem, tanto oral quanto escrita
Em nível preventivo, segundo BOSSA (1994), a Psicopedagogia tenta detectar perturbações no processo ensino - aprendizagem, conhecer a dinâmica da instituição educativa, orientar a instituição quanto à metodologia de ensino utilizada. Isto, através de orientação de estudos e apropriação dos conteúdos escolares
Pode-se concluir que o campo de atuação do psicopedagogo é a aprendizagem, sua intervenção é preventiva e curativa, pois se dispõe a detectar problemas de aprendizagem e "resolvê-los", também, preveni-los evitando que surjam outros.
No enfoque preventivo, BOSSA(1994), enfatiza que a função do psicopedagogo é detectar possíveis problemas no processo ensino-aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, objetivando favorecer processos de integração e trocas; promover; realizar orientações metodológicas para o processo ensino-aprendizagem, considerando as características do indivíduo ou grupo; colocar em prática processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional em grupo ou individual.
Segundo Noffs (1995) a tarefa do psicopedagogo na escola é de:
• administrar ansiedade e conflitos;
• trabalhar com grupos – grupo escolar é uma unidade em funcionamento;
• identificar sintomas de dificuldades no processo ensino-aprendizagem;
• organizar projetos de prevenção;
• clarear papéis e tarefas nos grupos;
• ocupar um papel no grupo;
• criar estratégias para o exercício da autonomia (aqui entendida segundo a teoria de Piaget: cooperação e respeito mútuo);
• fazer a mediação entre os subgrupos envolvidos na relação ensino-aprendizagem (pais, professores, alunos, funcionários);
• transformar “queixas em pensamentos” (Alicia Fernandéz)
• criar espaços de escuta;
• levantar hipóteses;
• observar, entrevistar e fazer devolutivas;
• utilizar-se de metodologia Clínica e pedagógica, “olhar clínico”;
• estabelecer um vínculo psicopedagógico;
• não fazer avaliação psicopedagógica clínica individual clínica dentro da instituição escolar, porém, pode fazer sondagens;
• fazer encaminhamentos e orientações;
• compor a equipe técnica-pedagógica;
• para tanto, necessita de supervisão e formação pessoal.
Carberg propõe ao Psicopedagogo Institucional Assessor um modelo de diagnóstico semelhante à proposta de Jorge Visca:
• queixa, contrato, enquadramento;
• Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (E.O.C. A);
• primeiro sistema de hipóteses;
• seleção dos instrumentos de pesquisa;
• segundo sistema de hipóteses;
• seleção de instrumentos de pesquisa complementares (quando necessário);
• linha de pesquisa para anamnese;
• informações complementares;
• terceiro sistema de hipóteses ou hipótese diagnóstica com indicações e prognóstico;
• devolutiva;
• informe psicopedagógico.
O modelo diagnóstico descrito anteriormente foi organizado para o trabalho clínico sofrendo algumas adaptações para o diagnóstico institucional, aproxima o profissional do seu objeto de estudo sem “contaminar-se”, pois a intenção não é a pesquisa isolada mais sim a articulação e seu significado.
Para o trabalho de diagnóstico Institucional, devido ao um número de pessoas envolvidas, são necessários três profissionais: o coordenador (apresenta ao grupo pesquisado a consigna e faz as intervenções necessárias facilitando a entrada do grupo na tarefa); o observador de temática (observa e registra o que é verbalizado pelo grupo) e o observador de dinâmica (observa toda a ação do grupo). Assim, as informações levantadas no decorrer das tarefas serão analisadas pela equipe buscando as possíveis hipóteses e os instrumentos de pesquisa para prosseguir o diagnóstico.
A psicopedagogia se apresenta como mais uma ciência que pode auxiliar a escola a enfrentar o fracasso, muitas vezes devido a uma dispedagogia, escolar.