PESCA ESPORTIVA OU PESCA SADOMASOQUISTA?
Para quem já está acostumado com os termos da psicanálise SADISMO e MASOQUISMO, os quais são aportados no linguajar popular quando queremos descrever uma relação de dor e prazer que um indivíduo inflige a si mesmo ou a outra pessoa, é fácil entender a expressão. Mas, o que tem isso a ver com a pesca desportiva ou pesca esportiva?
Para quem só ouviu falar, essa aberração descrita como esporte é uma atividade de pesca que se pratica como hobby, forma de lazer, em que o objetivo não é comer os peixes apanhados, mas sim olhá-los se debatendo no anzol, ver a agonia dos animais tendo um anzol de aço atravessado em suas bocas... e, depois de toda a luta desesperada, os praticantes se deliciam e ao mesmo tempo se punem não comendo os peixes, mas devolvendo-os ao rio ou mar. Que esporte sádico-masoquista perfeito é esse!
Tem até programa de TV tratando do assunto. Eles ficam horas e horas contando como foi lindo ver uma carpa gigantesca tentando escapar do poderoso anzol, enquanto giravam a carretilha presa ao molinete soltando e puxando o fio de nylon de um lado para o outro, até que o animal vencido era trazido à bordo do barco para ser visto, beijado, fotografado e depois jogado de volta à água. Curiosamente, os tais desportistas dizem que não ferem os peixes de modo algum. Dizem ainda que a pesca desportiva é ecológica, faz bem ao meio ambiente, já que não estão depredando nada, apenas curtindo o prazer da pescaria. Nada pode ser mais hipócrita e sem propósito. Os animais capturados sofrem estresse, são levados para longe de seu grupo e ainda podem ser contaminados durante os momentos em que estão em contato com seus algozes sádicos. Vejam o vídeo e os comentários deixados por pessoas que estão contra e a favor dessa atividade desumana e degradante.
http://www.youtube.com/watch?v=X9GrkKV_7-k
Afinal, quando é que nós humanos vamos nos conscientizar de que os demais seres vivos têm o direito à liberdade, à vida digna e que não devem servir aos propósitos sádicos dos chamados "seres inteligentes". Que inteligência infernal é essa que se compraz com o sofrimento alheio. Não bastam as touradas, os animais de carga, os cavalos de corrida, os rodeios, os pássaros engaiolados e os circos?
Fico imaginando como seria interessante se dentro de alguns anos aparecessem seres de outras galáxias, mil vezes superiores em armas e instrumentos de suplício que os humanos e ficassem se divertindo em laçá-los pelo pescoço (homens, mulheres, crianças ou velhos - indistindamente) e depois de dominá-los, os arrastassem em veículos pelas ruas por um longo período de tempo, para, ao final, soltá-los e deixá-los voltarem para suas casas, cheios de arranhões e ferimentos no pescoço. E, para completar, esses seres medonhos dessem gargalhadas de prazer, enquanto os bebês berrassem de dor tentando escapar do sofrimento. Seria bem interessante se os praticantes da pesca desportiva passassem por uma experiência dessas... ou os seus filhos e cônjuges.
Não sou um pseudo-ecologista ou ecobobo como se costuma rotular os que defendem os direitos dos animais silvestres ou domésticos. Procuro ser consciente das minhas atitudes e luto pela defesa dos mais fracos, sejam eles humanos ou não. Todos, sem exceção alguma, merecem vida digna. Tenho consciência de que vivemos em um planeta onde algumas vidas precisam ser transformadas em outras vidas. Existem uma inteligência ainda inesplicável por traz do fenômeno presa e predador. Nosso aparelho biológico ainda é dependente da tranformação bioquímica sofrida pelo alimento, seja ele ar, água, produtos vegetais ou animais. Mesmo uma planta que é arrancada, é uma vida. Temos o poder de ceifá-la, mas, que tenha ao menos um propósito digno e maior, que é a perpetuação da existência. Antes dos homens habitarem este planeta, os animais já conviviam com a "lei do mais forte" para garantir a sobrevivência das espécies. O homem não é diferente. Mas entre os animais ditos não-racionais, existe um código de ética natural. Eles caçam para sobreviver, não por diversão. Divertir-se com o sofrimento alheio é nojento, abjeto e desumano. Por essa razão, levanto minha voz para denunciar os praticantes dos esportes sádicos, das atividades degradantes que exploram a fraqueza de outros seres, por puro prazer e sadismo. Abaixo a pesca esportiva. Abaixo a pesca sadomasoquista.
(*) Mathias Gozalez é psicólogo e escritor.
http://mathias.gonzalez.sites.uol.com.br