O Homem e a Sombra
Penso alguma coisa qualquer sobre o homem e a sombra e escrevo alguma coisa sem nexo, na intenção de prová-la, a qualquer custo. Escrevo, mais para incomodar do que pelo prazer de compor. Por isso, não me detenho nos detalhes, não refuto os argumentos a exaustão. Acaricio a frase, sem conhecê-la na intimidade.
Nas oficinas onde se arrancam um dedo por cada homem, as sombras furam a fila, manipulam de todas as formas, na ambição de perderem os cinco dedos da mão, desde que contem com certa vantagem sobre os demais.
Há homens que não se incomodam e até se deleitam em ficar de pé, horas a fio, sobre a fria arquibancada, torcendo pelo time do coração ou assistindo a um show do seu artista preferido. Sobram lhes energia suficiente para trocar socos e ponta-pés com a torcida rival. Esticam a noite entre bares e boates, sem demonstrar nem um sinal de cansaço - nada contra, desde que, não me provoques a razão -. Entretanto, depois de um dia de trabalho disputam aos empurrões e cotoveladas com idosos, mulheres e criança um assento no transporte coletivo. De posse do troféu que conquistaram com tamanha bravura e coragem, serram os olhos como se pudessem dormir com um barulho desse na consciência. Esta é a atitude que predomina entre os covardes e os idiotas: não ousam olhar as vítimas nos olhos.
Seriam dois homens diferentes? Aqueles que pulam e dançam; destes que parecem dormir o sono dos justos, feito os anjos do céu?
São duas personalidades: uma, não é de homem; a outra, é de uma sombra. Ambos, são uns enbustes, disfarçam-se de homens para consumir o oxigênio a sua volta. Se pudessem, reteriam em seus pulmões o gás carbônico, para que outras formas de vida jamais existissem. Se possuissem a água do planeta, acomodá-la ia em potes de egoísmo e os esconderiam nos porões do coração, onde comungam com os ratos os mesmos sonhos.