PROJETO "MÚSICA NAS ESCOLAS"

Não é a primeira vez que aqui escrevo sobre "música" e sobre a sua importância como meio, tanto para o desenvolvimento do "ser" individual bem como para a manutenção das saudáveis relações sociais do meio.

Já "cronificando" meu artigo, lhes escrevo que lá nos meus remotos tempos de menina, eu me lembro perfeitamente de que a "música" fazia parte do vasto currículo de matérias da escola pública, escolas disputadíssimas por todos, vejam só, lá na fase educacional que correspondia aos ensinos fundamental e médio de hoje em dia.

A professora, bem pequenina, entrava com um livrão de capa preta maior do que ela, e com uma batuta na mão o abria já solfejando, com os lábios em bico e com a voz em soprano, a lição do dia sempre "majestosamente" empossada a nossa frente. Nem um pio!- que não fossem as notas ecoadas pelo ar...impulsionadas por pulmões caprichosamente insuflados...

Confesso que aquela cena muito me assustava e os alunos disfarçadamente torcíamos o nariz àquilo que mais parecia um aula de remissão dos pecados.

Não seria difícil aquela sua batuta de madeira clara "voar" sobre nossas cabeças se errássemos na entonação do som e penso que aquela minha professorinha não acreditaria no que acontece nas aulas dos dias de hoje. Enfartaria com sua batuta na mão...

Todavia, nunca aprenderíamos música por aquele veículo didático, hoje sei disso.

O tempo passou e a música saiu da grade escolar sem que, naquela época, nos déssemos conta do que havíamos perdido "em potencial".

No entanto, percebo que hoje querem ressuscitar a música nas escolas, ou melhor, pelo meu sentimento aqui explicitado, querem colocar, de fato, a verdadeira música na grade escolar, a inspirar e desenvolver todas as aptidões artísticas que nela se ancoram.

Graças a Deus, me parece um movimento sem volta.

A música é das artes, talvez, a que mais precocemente lapide os sentidos da alma, porque o som já nasce pronto.

Ao músico resta tão somente combiná-los de forma infinitamente artística, na possibilidade dos seus sentimentos.

Precocemente, na criança, a música desperta todas as habilidades neurológicas finas, como a coordenação motora, a percepção da beleza indescritível, que apenas se sente, das nuances dos diversos timbres de sons, dos seus ritmos e de suas infinitas possibilidades harmônicas e instrumentais.

Para isso acredito muito na didática das "oficinas de música" nas quais as crianças são convidadas ludicamente a experimentarem os diversos sons, assim como degustamos os diversos sabores numa oficina de culinária.

Assim trabalhadas, as crianças estarão mais perceptivas para o todo, mais atentas, mais tranquilas, mais sociáveis, mais disciplináveis, porque a música, inclusive, trabalha a disciplina e o respeito na convivência mútua, igualmente àquela que observamos numa orquestra, na qual todos socialmente respeitados e valorizados não se eximem, em absoluto, do respeito e da admiração pelo maestro, bem como admitem tranquilamente a necessidade do seu comando para colocar ordem e enaltecer o brilho da arte de todos.

Metafóricamente talvez seja o que , atualmente , mais precisamos no triste social brasileiro.

Eu, que sempre tenho meu ceticismo hipertrofiado ao tudo que vemos por aqui, confesso que me valho do meu artigo para parabenizar a iniciativa do projeto "MÚSICA NAS ESCOLAS".

Relato que tenho assistido a alguns concertos de orquestras comandadas por maestros que se colocam à disposição das crianças carentes de algumas comunidades de São Paulo, trabalho que mexe com o âmago dos nossos sentidos. Chegamos às lágrimas facilmente.

Ainda outro dia assisti à execução do " O TRENZINHO DO CAIPIRA" de Villa Lobos por uma orquestra de crianças carentes, arte de nos deixar perplexos de alegria, ao mesmo tempo de tristeza, quando chegamos à evidente conclusão de quantos talentos "carentes" já desperdiçamos ao longo "dos trilhos" da nossa História, simplesmente pelo fato de não sabermos muito bem como chegar até eles.

O Brasil urge por implementação de educação de qualidade e a música, sem dúvida alguma, é um dos caminhos mais curtos para a reversão de todos os nossos reais valores...invertidos e perdidos.

Já bem atrasados, oxalá ainda orquestremos um bom rumo para o trem do nosso descarrilado destino.