Não sei se acontece exclusivamente com os brasileiros, mas parece que viver enterrado em dívidas faz parte do dia a dia das pessoas. Acostumar-se a uma vida folgada, financeiramente falando, deve ser tão difícil quanto indesejável.

Essa é a conclusão a que, forçosamente, chegamos ao testemunhar quanta gente não consegue passar uns poucos dias sem dever alguma coisa a alguém e aqui falamos de dinheiro, mesmo. Acham que ganhar dinheiro, ou ter algum dinheiro nas mãos, significa sair gastando; há gente que fica horas em confabulação consigo mesmas em busca do que fazer com aquela quantia que acabou de entrar; isto deve acontecer na mente daqueles que não possuem dívidas.

Sim, porque me recuso a pensar que, sabendo que precisam quitar certo compromisso, existem aqueles que, sem dar atenção a essa urgência, desviam para outro lado o emprego da grana; e aí fazem mais uma dívida.

Ninguém desconhece que dinheiro foi feito para gastar. O problema é quando gastar, quanto e em que gastar; aí é que muitos se atrapalham. O inimigo número um da população perdida chama-se cartão de crédito. Sabe aquela garotinha, ninfeta, de curvas perfeitas, olhar encantador, que tira do sério o mais sério dos homens? Ela certamente irá proporcionar os momentos mais delirantes e inesquecíveis.

Até aí, tudo normal. Todavia, dependendo de quem a teve nos braços, a coisa pode fluir para uma grande felicidade ou para uma enorme e incomparável dor de cabeça. Como o cartão de crédito, no momento é tudo maravilhoso, mas é depois que vem o problema, acompanhado daquele arrependimento. Reconheço que é tudo muito fácil quando colocado em palavras e que a prática é outro departamento, mas se não houver uma mudança no comportamento depois de se pensar um pouco a respeito, tudo continuará como antes.

Então é preciso avaliar a atitude de comprar no momento certo, gastando o que precisa ser gasto nas coisas que realmente interessam. O impulso de gastar até não mais ver dinheiro já não serve de referência para comentar o problema. Isto porque hoje gasta-se mesmo sem ter o dinheiro; logicamente através do tal cartão de crédito. E a casa agradece, ou melhor, as casas. Porque o que não faltam são as propagandas cantando as vantagens de possuir um cartão.

Os limites, as ofertas, as promoções, os bônus; é tudo maravilhoso como o país encantado das mil e uma noites. Se não vivêssemos num país com uma inflação de 7% ao ano, um juro de poupança de 0,6% ao mês e 10 a 12% de juros no cartão de crédito para quem vai optar por um pagamento mínimo e atrasa um mês o pagamento de sua fatura, até poder-se-ia pensar em ter um brinquedinho desses ao sair nas ruas. Mas, infelizmente, é essa a realidade do nosso mercado financeiro e é a ela que temos que nos adaptar se não quisermos viver endividados.

Eu optei por uma saída radical. Na verdade não foi uma saída, mas uma atitude que muito me tem beneficiado: não uso e nunca usei cartões de crédito. Não sou melhor do que ninguém; apenas não me garanto o suficiente para bancar o durão e não gastar naquilo que está enchendo os meus olhos; como a ninfetinha irresistível.

Aí, é simples. Se gosto e tenho o dinheiro ali, na horinha, eu compro; se não tenho, não compro. Sou feliz, mesmo sem aquela mercadoria porque vejo e sinto a dor dos meus irmãozinhos que sofrem ao terem que recorrer a tudo, até a empréstimos, para saldar a dívida do seu catão de crédito, que, de formiguinha, virou um grande urso e está caminhando para atingir as proporções de um enorme e assustador elefante.

Então, meu conselho é o seguinte: joguem fora os seus cartões de crédito e sejam felizes com o que podem comprar com o dinheirinho que têm no bolso naquele momento. Não entrem na conversa de vendedor nem caiam nas facilidades dos famosos ‘dez, doze ou não sei das quantas’ vezes no cartão, sem juros. Fujam disso se não quiserem perder o sono gostoso da noite. Passem a amar aquelas lojas que só aceitam dinheiro ou no máximo um cartão de débito. No mais é gozar a vida e, boas compras. Sem cartão de crédito, é claro.

 
Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 11/01/2012
Reeditado em 11/01/2012
Código do texto: T3433830
Classificação de conteúdo: seguro