Atividades, jogos e mediação
As concepções de atividade, jogo e mediação, na perspectiva sociocultural, podem esclarecer os fundamentos do plano de ensino do 1º EF9 e subsidiar a análise de suas práticas curriculares.
O conceito de atividade deriva do materialismo dialético e foi introduzido na teoria psicológica por Vygotsky.
Segundo Davydov (1988), o conceito de atividade surgiu historicamente, com a atividade do trabalho produzido pelo homem, de reflexões sobre “transformações orientadas para metas e modificações sobre a prática humana” . A atividade relaciona-se com a representação, a consciência das necessidades e motivos internos do ser humano. O brincar, ao depender das necessidades e motivações internas da criança, torna-se uma forma específica de atividade, mas que se diferencia do trabalho produtivo por ser uma representação.
A relação entre o brincar e a atividade infantil é clara na teoria de Vygotsky (1978): “o brincar como situação imaginária difere substancialmente do trabalho e de outras formas de atividade” , sendo uma das “subcategorias do brincar”, que implica ação mental de tomada de consciência, “baseada em regras”, que possibilita “a realização de tendências que não podem ser imediatamente gratificadas”.
A brincadeira livre, ao exigir ações coerentes com o papel assumido, traz o modelo de representação que se impõe como regra para o brincar imaginário. A regra torna-se interna pela autodeterminação de aprender a controlar seus desejos imediatos, gerando “o grande salto nesse desenvolvimento, que é a separação entre ação e significado” (Vygotsky, 1978). Nesse salto, o significado passa a comandar a ação da criança, transformando o cabo de vassoura em cavalo, a/o boneca/o em filha/o. Essa mudança é “o fator principal no desenvolvimento” (Vygotsky, 1978), que leva a construir novas funções mentais, típicas da zona de desenvolvimento proximal. O desejo impossível de se tornar realidade, “o de ser mãe/pai”, é satisfeito no brincar, quando se respeitam as regras sociais que definem esse papel. Utilizar regras no brincar é uma constante em toda a infância e acompanha as modalidades de brincar, propostas por Vygotsky (1978). O papel das regras é fundamental no processo de aprendizagem, ao exigir percepção, memória, atenção e ações mentais integradas para buscar as representações simbólicas escolhidas pela própria criança para expressar na brincadeira. Neste processo, aprende-se a simbolizar, a dar significado às coisas e situações.
No final da creche ou início do pré-escolar, uma menina faz o bebê dormir, como vê a mãe fazer, como a situação observada em uma creche japonesa, onde a menina gêmea nina duas bonecas ao mesmo tempo, com uma mão em cada “bebê”, deitados nos acolchoados, lado a lado, utilizando “mais memória em ação do que nova situação imaginária” (Vygotsky, 1978, p. 103). Conforme a criança avança em seu desenvolvimento, os propósitos aperfeiçoam-se e ela ganha em flexibilidade e criatividade, inserindo inúmeras situações na sua imaginação, e não apenas as próximas. Cada vez
mais a imaginação ganha poder: uma cadeira não é apenas para sentar, mas também para dar a mamadeira ao bebê e, depois, vira um trem. No final do período pré-escolar e início do fundamental, a imaginação é enriquecida com detalhes da vida cotidiana, exigindo que as ações sejam compatíveis com os dados da realidade.
T. M. KiShiMoTo, M. A. PinAzzA, R. F. C. MoRgAdo, K. R.ToyoFuKi.