EDUCAÇÃO, ARTE E CULTURA LEVADAS A SÉRIO

Recentemente saí de minha moradia em Goiânia e percorri mais de mil quilômetros de distância para atender a um convite, marcar presença na I Mostra de Arte e Cultura realizada por uma escola de Ensino Fundamental, chamada Carlos Drummond de Andrade, com o tema Amor à nossa Terra: Resgatando a Cultura wanderleense, que aconteceu no início da noite de 10 de novembro, na cidade de Wanderley, no oeste baiano, minha terra natal. Durante a realização do evento, por diversas vezes, senti um rio de lágrimas brotar dos meus olhos e transbordar, deixando meu rosto todo inundado de felicidades.

Com um alto grau fidedigno ao tema proposto, não precisou sequer uma hora para que os talentosos alunos da 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental, da Escola Carlos Drummond de Andrade fizessem o público presente, formado em sua maioria, pelos pais e outros convidados a se derreterem em lágrimas. Os discentes, orientados pelos docentes mostraram para a sociedade wanderleense um apanhado de toda a cultura do município.

Em forma de teatro, músicas, danças, declamações de poesias, indumentárias a caráter e manuseios de instrumentos musicais, os alunos, com toda a garra, apresentaram aos presentes o contexto histórico, social, cultural, religioso, geográfico, político e literário da cidade de Wanderley.

Além do município, o grande homenageado da noite fui eu que, apesar de não saber se sou merecedor de tantas considerações, fui lembrado durante quatro vezes na noite, pela turma da 7ª série: a primeira quando dois pré-adolescentes, um se passando por repórter e o outro interpretando a minha pessoa, falaram sobre minhas obras literárias, meus desejos, costumes e medos; a segunda, por uma aluna que contou de modo resumido a história contida no meu livro A fuga para o Bosque Enlevado; a terceira quando fui presenteado com exemplar de poesias feitas por eles; a quarta e também emocionante homenagem recebi quando todos os alunos vestidos camisetas com o desenho do meu mais novo livro, O mistério do Riacho Tijucuçu convidaram-me para que eu comparecesse ao palco e me colocasse ao lado deles. Outras pessoas também foram homenageadas pelos alunos da 7ª e de outras séries também.

Toda a sociedade wanderleense aprovou a iniciativa da escola e parabenizaram o corpo docente e o corpo discente da instituição dizendo que aquilo era um exemplo de educação, arte e cultura levadas a sério.

Tem razão a sociedade wanderleense. Uma educação levada a sério precisa agregar valores culturais e artísticos, pois somente é conhecedor de sua própria história aquele que tem suas raízes fincadas no chão. E para ter raízes fortes precisa situar-se no presente, olhar para o futuro sem esquecer o passado, suas origens, enfim, sua história.

Quando uma instituição educadora, além de cumprir sua função de educar, preocupa em resgatar os valores sociais e culturais, sabe exatamente como e para onde conduzir seus alunos. Não há resquício de dúvida, o caminho é o sucesso, uma vez que a educação não é somente para o mercado de trabalho, vai muito mais além, a educação é para a vida.

Claro que tudo isso não depende somente da escola, mas também do apoio da família do estudante e do próprio educando, pois não se pode atribuir toda a tarefa de educar a cargo e responsabilidade da escola.

O que pude perceber naqueles discentes é que eles não são meramente alunos, são na sua essência, alunos-estudantes e, por isso, são superiores ao tempo. O que eles apresentaram na I Mostra de Arte e Cultura, não foi simplesmente uma mostra de arte e cultura. Ao demonstrar a preocupação com o meio ambiente, interesse em defender a classe menos favorecida e cobrar agilidade das autoridades daquele município, eles foram ousados, riscaram o dedo no rosto de muitas autoridades que, engajadas na corrupção, ignoram a dor do próximo, foi um tapa na cara de certas autoridades parlamentares que não cumprem as suas funções para as quais foram eleitas.

O que muito chamou a minha atenção é que apesar de a escola ser particular e ser uma escola simples, está sempre aberta à sociedade. Uma escola que, diferentemente de muitas outras escolas particulares, não possuem recursos suficientes para a expansão física, mas carrega como principal função, a garantia de um ensino sério e de qualidade.

Quisera eu que todo o ensino wanderleense fosse assim e que o poder público respeitasse os artistas da terra como vem fazendo a Escola Carlos Drummond de Andrade. Digo isso de modo consciente, pois não há ninguém melhor para falar sobre o seu lar do que aqueles que precisaram ir buscar alternativas de sobrevivência fora do seu município, deixando para trás toda uma história de vida, por falta de apoio e de incentivo à Educação, Cultura, Lazer, Arte etc.

Gilson Vasco é

Escritor,

Professor de Língua Portuguesa

e Liderança Comunitária

Diário da Manhã,

Goiânia, 17 de novembro de 2011

Gilson Vasco
Enviado por Gilson Vasco em 24/11/2011
Reeditado em 24/11/2011
Código do texto: T3353584
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