A UTILIZAÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO, A PARTIR DO GOLPE DE 64, COMO PRINCIPAL FERRAMENTA DE CONHECIMENTO

Fala-se muito na questão do ensino tradicional, com um currículo voltado para as disciplinas básicas onde o livro didático permeia todo esse conhecimento em detrimento das inúmeras possibilidades de se criar novos paradigmas cognitivos.

Não vejo o livro didático como um vilão, apesar de que, historicamente, ele, através dos tempos (no Brasil), sofreu uma fragmentação de conteúdos, a partir do Regime implantado com o Golpe de 64, onde disciplinas importantes foram abolidas dos currículos e, de certa forma, os conteúdos que foram “autorizados” a serem lecionados nas universidades passaram a ter uma conotação nacionalista. Isto se dá, por exemplo, quando foram colocadas nos lugares dos conteúdos filosóficos e sociais, disciplinas de cunho de interesse dos militares, como, por exemplo: OSPB (Organização Social e Política Brasileira) no lugar de Filosofia; EMC (Educação Moral e Cívica) no lugar de Sociologia, e assim por diante.

Ora, o golpe de 64 fragmenta o conhecimento num contexto geral e, particularmente, na formação da História, onde o Brasil se torna o centro das leituras, em detrimento das leituras dos movimentos sociais dos povos através da história. E assim foi durante todo o Regime Militar. Agora, para agravar, nos anos 80 ainda houve um movimento na classe detentora do conhecimento científico que, salvo engano, perdura até hoje, com troca de ofensas, o que deixa ainda mais frágil a relação entre o material didático e a sua utilização.

Agora vejamos o outro lado: o Brasil por ser um país continental, onde existem regiões de difícil acesso e onde, principalmente, a cultura só chega – e quando chega – atrasada, se não houvesse a possibilidade de um livro (mesmo fragmentado), o que seria dessas populações? Até no nosso convívio de professores do ensino público, onde a carência de recursos e atualizações tecnológicas se faz urgente, o livro é, em muitos casos, a principal opção de se obter o conhecimento. Acredito que esta é a realidade da maioria das escolas públicas.

Defendo a utilização do livro didático em sala de aula como meio de conhecimento, até porque podemos ampliar resultados se soubermos como manejá-lo – vale salientar que o livro é a primeira ferramenta que utilizamos como base para a inserção de outras ferramentas.

Em alguns casos, podemos citar como fragmentação: o desinteresse de alguns educadores em tratarem deste assunto e preferirem seguir somente a linha que está contemplada no material; a questão salarial (tão comum nos temas onde sempre aparece como vilã); a falta de tempo do educador que se vê obrigado a ter vários vínculos para poder levar uma vida digna e dar, ele também, educação aos seus; enfim, acredito que, se houver uma participação maior do educador junto ao corpo diretor da instituição, trabalhando conjuntamente com o supervisor e o coordenador, tendo efetivamente uma participação na elaboração do material didático (e não deixando a cargo das editoras, que invadem o espaço educacional ávidas por venderem seus produtos, teremos sim, uma substancial melhora na qualidade do ensino e poderemos provar que, ao invés de o livro ser o vilão, ele passará a ser o herói, assim como foi tempos atrás e, creio, continuará sendo, apesar das outras mídias) poderemos contribuir para as futuras gerações e deixar um acervo didático-pedagógico que poderá ser seguido e que não será fragmentado.






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Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 02/11/2011
Reeditado em 04/02/2012
Código do texto: T3313181
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