O POSTE MIJANDO O CACHORRO
Por Carlos Sena
Por Carlos Sena
Os alunos da USP-SP se insurgiram contra a presença da polícia no campus. A polícia prendeu três alunos fumando maconha e tudo indica que foi o estopim da bomba. Presos, os alunos despertaram a fúria dos demais, talvez porque os que não foram presos ficaram sem poder mais “dar umas tapinhas” sem que ninguém lhes importunasse. Diante da cena de prisão, então a “merda virou boné”, pois o pau cantou em cima dos policiais que revidaram com bombas de efeito imoral – como pode uma bomba neste caso ser de efeito moral? No buruçu montado não faltaram pedras, paus, carros com vidros estilhaçados, sangue e, finalmente, a invasão do prédio até que a Universidade desista do convênio que fez com a Polícia Militar.
Se esses estudantes paulistas estivessem vendo um tape da própria cena de selvageria, certamente iriam imaginar que se tratasse de uma universidade nordestina. Isto por conta da precária capacidade da maioria deles de contextualizar o processo educacional do nordeste que, nalguns segmentos, é excelência, como medicina, informática. Os nordestinos perdoariam, exatamente porque não casa com educação a revanche, o rancor, o separativismo. Perdoariam, acima de tudo, porque não foram todos os estudantes os insurretos. Como se vê, é uma pouco da lógica do “poste que mija no cachorro”! Estudantes que deveriam apoiar a universidade em garantir a segurança do campus, num momento de tanta violência no país, procedem exatamente de forma contrária. Certamente para a maioria desses alunos, o campus não é lugar de estudar, de aprender a conviver com os diferentes como forma de exercitar a cidadania civilizatória. Muito menos seria o local apropriado para se produzir conhecimentos, mas fumar uma maconhinha, uma cocazinha, um extasezinho, acompanhado de uma gata ou um gato que deitassem na relva e “ficassem, ficassem, ficassem,” sem ser incomodados por policiais.
Sabemos que a polícia não está lá com essa bola toda. A corrupção desenfreada da corporação tem nos levado a não saber a quem temer: se a polícia ou ao ladrão. Nesse caso, não se tratava disto, mas de um contrato para manutenção da ordem e da harmonia no campus através da polícia militar. A invasão do prédio foi condicionada a rescisão do contrato com os policiais por parte da universidade. Fim do túnel e luz não deverá mais haver se a universidade ceder a isto! Haveremos de nos perguntar: que tipo de profissionais a gente vai esperar que as universidades formem? Que valores, que éticas, que expertises, que conhecimentos deveremos esperar desse tipo de aluno? Se forem médicos, poderão até saber usar o bisturi com toda maestria, mas dificilmente serão médicos capazes de nos orgulhar no quesito caráter e bom senso.
Não se assustem se amanhã a gente vê na TV alguns pais desses alunos defendendo-os peremptoriamente. Esperamos que a USP faça sua parte bem feita. Que a polícia faça sua parte bem feita. Certamente a parte desses alunos e dos seus pais serão sempre mal feitas. O prédio tem que ser desocupado, pois há grande parte de alunos que não se deixaram levar pelo movimento. Competirá a universidade utilizar suas prerrogativas, mas se de todo for impossível, que a polícia exercite um pouco da lógica medieval do “poucas e boas, devagar que doam”...