SERRA TALHADA COM CINZEL DO AMOR

Por Carlos sena


Como gestor público de pessoas, decidimos fazer um encontro de gestão do trabalho em Serra Talhada – cidade do interior de Pernambuco muito bem cuidada. Do Recife até lá tudo nos parecia um oásis diante do que um dia as cidades pernambucanas foram por conta da seca. Diria que a modernidade chegou aos mais longínquos rincões do País e em Pernambuco no particular por conta das ações inovadoras e revolucionárias do governo Federal Lula) e Estadual (Eduardo Campos). Serra Talhada está neste contexto. Mas já era famosa por ser a terra natal do coronel Virgulino o nosso Lampião, rei do Cangaço. É talhada porque é cercada por serras próximas umas das outras tudo sugerindo que assim foram Talhadas pela natureza. É conhecida também pelas mulheres bonitas (já deu uma miss Pernambuco) e por políticos importantes como o ex-governador Agamenon Magalhães, Inocêncio Oliveira e outros. Fica no centro do estado de Pernambuco – motivo pelo qual decidimos levar nossos servidores para discutir gestão do trabalho em saúde. Para quem não conhece, o estado de Pernambuco, diferente da Bahia, é um estado meio “Marco Maciel” – fino e longo saindo do litoral para o interior mais parece um imenso estilete de rio que a gente pensa que não tem fim. É nesse centro que fica Serra Talhada, razão da escolha não fosse ela uma cidade bonita e acolhedora incluída naquelas tantas outras em que o progresso, definitivamente, chegou. Mas nem tanto assim como gostaríamos que fosse. No que depende da tecnologia, tudo a gente vê por aqui. Lojas âncora com grifes famosas na capital, há por aqui. Aquela ideia de cidade do interior amatutada no pior sentido da palavra, não existe mais. Existe também por aqui uma religiosidade forte expressa pela igreja principal que é pujante em beleza. Denota, com isto, que o sentimento do povo não mudou muito como geralmente se imagina quando a modernidade chega. Serra é quente como todo bom sertão pernambucano. Tão quente quanto o calor do seu povo trabalhador e orgulhoso da terra que lhe serviu de berço... Ou que lhe serviu de rede, para o caso de outros nordestinos que aqui vieram e não quiseram mais sair. Por todos os lados o povo se rejubila com as benesses do progresso: célular abunda. Parabólica é paranoica, carro de luxo nem se fala, se anda nele. Juventude bonita! As moças tinindo na moda que a tevê indica. Os moços, não menos tinindo, com piercings, brincos na orelha, cabelos molhados de gel usando roupas de grifes famosas. Mas há forte presença da confecção regional de Santa Cruz do Capibaribe ou Caruaru. A Rua 15 é o centro do comércio e dos "desfiles" de rapazes e moças se exibindo bem ao gosto dos novos tempos. Diriam os paulistas: chiques no ultimo!
Espetinhos de carne de bode! Eis que em cada esquina se encontra uns. Culinária nordestina legítima, música nordestina da gema com forro pé e mão de serra. Museu do cangaço firme mostrando a força do cabra macho simbolizada pelo maior cangaceiro do mundo, o já falado Virgulino. Ainda no rol dos moços, a onda arco-íris está presente sem ressentimentos – prova maior de que não precisamos concordar com os diferentes, mas apenas respeitar. Em plena terra de "cabra macho" convivem muito bem os diversos sexos que a modernidade impulsiona e estimula, independente de conceitos ou preconceitos.

Serra me foi surpresa boa. Talhei meu pensamento por ela e me fiz maior quando adentrei na suntuosa igreja matriz (estou em Serra no quarto de hotel). "Viajei" nos seus vitrais, na sua organização, na sua pompa contraditória: é uma igreja simples por fora e suntuosa por dentro, mas quando a gente sai de dentro dela, percebe que é suntuosa também por fora, causando essa contradição cognitiva e relevante para qualquer pessoa independente de religião, mas com bom gosto estético e iconográfico.
Serra é isto. Espero que a equipe que veio tenhar tenha tirado o proveito necessário. Fazer gestão do trabalho no centro de cenários inusitados é muito bom. Inusitados, inclusive, na estrutura dos serviços do hotel. Precária, certamente, mas o retrato vivo de como neste país ainda não se investe nas pessoas. Para se ter uma idéia dessa contradição, o hotel em que nos hospedamos descuida de coisas básicas como manutenção, instalações elétricas e hidraulicas, capacitação dos servidores, mas mantém um moderno aparelho que libera um jato de alcool sobre nossas mãos, evitando lavá-las e enxugar com toalhas como se constuma ver nos hotéis. Fiquei boqueaberto diante dessa contradição!
Muitos serão os desafios, mas certamente os fluidos positivos emanados das alterosas serras que em muito lembram as minas gerais, farão a diferença. Certamente nós levaremos no bojo da nossa produção laboral: os investimentos nas pessoas não estão acontecendo na proporção em que se dão com as estradas, com a tecnologia de informação e com a os modismos musicais e sociais. Mas isto são outros considerandos que, enquanto gestores de saúde saberemos contextualizar.