PARA CADA CABEÇA...UMA COBERTURA

PARA CADA CABEÇA...UMA COBERTURA

Numa quarta-feira do mês de setembro, sorvendo a agradável brisa primaveril de final de tarde, dirigíamo-nos ao consultório do doutor Mílton Moraes, com quem temos vínculos amistosos e profissionais há mais de trinta anos, quando fomos, a poucos metros de nosso destino, saudados por um ex-aluno da Escola Técnica Federal de Pelotas que, gentilmente, inquiriu-nos, querendo saber o “segredo” de conservarmos, ainda que encanecido, traços faciais juvenis.

O reencontro não teria despertado considerações mais acentuadas, além da cortesia e gentileza, não fora o fato de o Osmar (ex-aluno) ter retirado a cobertura. Usava-a, quem sabe, por preservar-se de eventuais queimaduras estivais, ou talvez para se proteger das intempéries hibernais, além de encobrir a calvície. Nosso procedimento não podia ser diferente: retiramos nossa velha e surrada boina preta, e, sem pejo, trocamos sorrisos. Algum leigo, atentando à saudação, por certo ficaria intrigado. Nesse gesto tão simples e pequeno, expunha-se a grandeza do respeito.

Saliente-se que no domingo imediatamente anterior, numa cerimônia realizada no Centro de Tradições Gaúchas “Os Farrapos”, fomos cumprimentados por diversos amigos, muitos, jovens, com até vinte anos, e a conduta não foi diferente.

Os homens que ainda se valem desse acessório devem retirá-lo ao cumprimentar, revelando boa educação. Esse gesto, geralmente, ocorre em lugares abertos para demonstrar cortesia ou responder a outro cumprimento. Significa profundo respeito, em especial ao conversarmos com senhoras e/ou pessoas importantes. As mulheres podem permanecer com o acessório praticamente em todos os lugares e ocasiões, sobretudo quando levam chapéus que fazem parte do penteado por meio de fivelas, grampos ou outros elementos.

Tanto homens quanto mulheres necessitam saber que é imprescindível tirar o chapéu em momentos solenes como: execução do hino nacional; na presença de autoridades eclesiásticas; diante de autoridades governamentais ou de alta patente; em templos religiosos; em salas de aula... Nos anos 30 ou 40, pessoa alguma, independentemente da sua classe social, se atreveria a sair à rua sem chapéu, deixar de usá-lo era considerado má educação, tanto aos homens como às mulheres.

Na Mesopotâmia usavam-se turbantes ou badanas de pele, já os sacerdotes israelitas portavam chapéu alto em forma cônica na cor branca. O verdadeiro chapéu nasceu no século XIV, adquirindo grande popularidade, diferentes modelos identificavam a cultura de cada país. Durante o século XVIII foi comum o tricórnio: formando três pontas.

A revolução francesa trouxe a moda dos chapéus simples, coifas com enfeites em motivos patrióticos. No século XIX os chapéus femininos surgiram com muitos adereços dando-lhes ares pomposos, diferenciavam-se claramente dos masculinos que primavam pela simplicidade.

Apenas para lembrar, várias palavras estão relacionadas ao chapéu. Chapeleiro é o que confecciona, ao passo que a chapelaria é o local onde é feito ou vendido. Chapeleira é a caixa onde é acondicionado. O hábito de saudar, tirando o chapéu era chamado de chapelada.

Nas casas, no comércio e em repartições públicas, até meados do século XX, o porta-chapéus era um móvel indispensável - uma vez que a etiqueta não recomendava o adereço em lugares cobertos. Copa é a parte superior, no lado interno está a boca, ao passo que a aba é o rebordo proeminente. Na parte interna tem-se o forro e a carneira, a faixa e a pala.

O egrete (a) era o ornato confeccionado em penas finas e compridas, inspirado em penachos da cabeça de algumas aves, especialmente garças. Usá-lo à zamparina era o modo de inclinar o adereço para frente e à direita.

Respaldado na Wikipédia, fomos buscar subsídios, também, para a origem da “boina”. É um subtipo do boné, geralmente feito de lã e sem aba, e que surgiu em razão de os combatentes de blindados não se sentirem bem com o uso de gorros. Além do uso militar, está associada aos pintores e é um complemento do traje típico dos escoceses. No Rio Grande do Sul, muitas vezes, substitui o chapéu do gaúcho. É também acessório de moda utilizado pelas mulheres. Adapta-se à volta da cabeça, muitas vezes puxada para um dos lados, e sua coroa mole pode ser facilmente formatada.

As boinas eram originalmente usadas pelos camponeses do país Basco. Hoje são geralmente feitas de feltro ou de fibras acrílicas. Durante a Primeira Guerra Mundial, a boina não conheceu grande expansão. Durante a Segunda Guerra Mundial, elas tinham cores diferentes para diferenciar os militares que as usavam.

Quanto ao boné é uma espécie de chapéu de formato circular com uma aba voltada sobre os olhos. É peça de amplo uso tanto por homens como por mulheres de todas as idades. A aceitação maior está entre o público infanto-juvenil, especialmente. os adolescentes e os praticantes de atividades desportivas, como tênis, o beisebol e o golfe (podem também se constituir numa simples viseira), sendo função primordial proteger a cabeça dos raios solares e impedir que a luz incida diretamente sobre os olhos. Também pode compor o traje casual e é comum o uso com a aba voltada para a parte de trás da cabeça, especialmente pelos mais jovens. (Quem sabe inspirados em Ronald Golias?)

Versões primitivas do boné já existiam no antigo Egito. As peças eram utilizadas como proteção ou acessório das vestimentas. Elas foram se modificando e atravessaram o tempo. Ganharam formato de boné e, no século 20, virou moda entre os norte-americanos, os primeiros a integrar o acessório em seu dia-a-dia.

O boné ganhou o mundo. Ganhou a cabeça das crianças, jovens e adultos. É a própria imagem do esporte, estilo, atitude, juventude e atividades saudáveis. Assim, facilmente alcançou o status de acessório de moda. O boné é versátil. Cumpre seu papel no mundo da publicidade, divulgando e fortalecendo empresas, eventos e marcas. É peça obrigatória no mercado de brindes.

Não temos pretensão de condenar, indiscriminadamente, o uso do chapéu, boné, quepe, gorro ou outra cobertura. Pelo contrário, admiramos, sobremaneira, também mulheres que discreta e adequadamente os exibem. Nosso questionamento o é, isto sim,

quanto ao uso em lugares cobertos, particularmente nas salas de aula.

Cremos que a assimilação dos conteúdos, assim como o rendimento não sofrem influência da indumentária e de acessórios. O que não entendemos é por que faces cândidas e imberbes ocultam-se, como se fossem penitentes monges carmelitas, dominicanos, capuchinhos, pregadores, jesuítas, templários, sob capuzes e bonés, presentes a um rito místico. Não lhes basta a cobertura da sala, necessitam duplicar com o boné e triplicar com o capuz. E alguns ainda enriquecem a moldura portando óculos de sombra.

Inquirimos uma professora a respeito de como via a atitude bizarra dos alunos que chamavam a si o centro das atenções. Revelou-se, “lavando as mãos” que a família deve educar – o professor, instruir. E foi mais longe, afirmou-nos que fora recomendada a não se envolver com a roupa e acessórios dos “angelicais” mancebos, sob pena de atritar-se com os pais ou responsáveis.

É, meus amigos, cremos que a senilidade esteja atingindo nosso modo de pensar. E não fiquemos surpresos se, a temperaturas gélidas, encontrarmos os professores em trajes sumários e os alunos com lençóis e cobertores. Certamente, a palavra respeito perdeu o sentido original.

Jorge Moraes – jorgemoraes_pel@hotmail.com