DIA DOS SOFRESSORES.

Por Carlos Sena

 


 
 
Entendo que hoje deveria ser o dia-mor das comemorações. Ultimamente se comemora tudo: desde o dia dos orgulhos Gays, Negros, Mulheres, Anciãos, Médicos, etc. Certamente que há méritos de sobras nessas citadas comemorações, mas tudo seria resolvido diante de um único dia bem comemorado: DIA DOS PROFESSORES. Nosso país tem mania de a tudo comemorar no varejo deixando o “grosso” por fazer depois. Talvez tudo tenha começado mesmo com o tal do dia do “FICO” que a gente até imagina não tenha acontecido, pois nossa história é mesma cheia de histerismos: além do dia do fico, grito da independência, dos excluídos e outros gritos. Como se vê tem dia até “de um olho só”, talvez por interesse também do comércio, mas preferimos ficar com a lógica de que se comemorando no varejo o grosso dos problemas fique sempre pra depois, como vemos em nosso redor.

O dia dos professores deveria ser feriado nacional. Isto se o nosso país desse a educação o valor que ela tem não o que ele imagina que seja educação. Educação verdadeira visa a dar a nação reais condições de cidadania, de mudanças positivas de comportamento que permita ver o mundo de forma crítica; que faculte aos educandos a capacidade de ler, escrever e contar e, em lendo, escreVENDO e contando, possam redesenhar o mundo do respeito e da convivência entre os diferentes de forma harmoniosa, cidadã e feliz.

O contexto atual dos professores é de sofrimento. SOFRESSORES talvez fosse a mais perfeita tradução na distinção de tão nobre labor. Não bastassem os baixos salários, as baixas condições de trabalho, ainda são invadidos por inovações pedagogistas de ultima hora, provenientes de teóricos que nunca souberam o que seja educação popular e libertadora. Teóricos maravilhosos para não saírem das academias da vida, mas que de lá se metessem pouco ou quase nada no cotidiano de quem lida com alunos que passam fome e provenientes de famílias geralmente desagregadas pelos diversos dramas urbanos. Educação deveria ser carreira de Estado. Não do estado da miséria e da inconformidade que hoje acomete a todos em todos os níveis de aprendizagem. Certo que algo melhorou, mas Educação não precisa de melhora, mas de excelência em tudo. De melhora precisam os parlamentares cínicos que lucram em cima da ignorância do nosso povo e tudo fazem pra que isto não mude, pois eles seriam rifados dos seus currais eleitorais que ainda subsistem nos vários brasis afora.

Certamente que muitos professores não deveriam estar em sala, mas vendendo acarajé (com todo respeito aos baianos) nas esquinas, ou vendendo jogo do bicho, ou ainda, agenciando rapariga nos bordéis da vida. Eles não entram na minha conta das homenagens deste dia, pois se aproveitam das nossas mazelas e, por pouca inteligência, por demagogia, ou porque não passam em outros concursos, vão ser “professores”, ajudando ainda mais a dizimar as consciências das pobres crianças das nossas redes, principalmente as do ensino público. Pra esses, o sistema um dia terá que ceifá-los de suas hostes, mas enquanto isto não acontece, a gente vai empurrando de goela abaixo. Colocando-os no limbo, enalteçamos os bons e abnegados professores – hoje SOFRESSORES, mas certamente dormindo com a consciência tranqüila de que além de serem vocacionados, dão amor em forma de cartilha, de merenda escolar, de alunos sem banca e banca sem alunos; de aula sem material didático, enquanto muito material didático mal feito é distribuído pelos MEC sem que quem esteja na ponta dê sua opinião.

Dos salários? Preferimos nem falar. A lógica do piso educacional é menos mal, mas o que tem ficado mesmo nos nossos municípios é o piso da humilhação. É a sola do sapato que esmaga os professores em cada aluno que entra armado na escola; em cada aluno que atira na sofressora; em cada chacina que se comete dentro das escolas; em cada pai que vai a escola defender seu filho mau caráter e ameaça a professora; em cada diretor de escola privada que ameaça o professor que reprova um aluno, sob a alegação de que o aluno é quem lhe paga os salário; em cada professor universitário que se torna um "boneco" na mão do capital que especula na educação e dela tira proveito em forma de lucro fácil. O “piso” dos professores tem sido um pouco disto, mais uma "pisa". Melhor talvez neste dia cantar “Pisa na fulô, pisa na fulô, não maltrata meu amor”... A fulô do amor é a flor do saber. É a sabedoria da vida di-vi-di-da que desabrocha em cada aluno que aprender a ler e escrever. Em sabendo ler e escrever começa acreditar que a vida é bela. Que em sua volta pode até ter favela, mas uma favela de favos e de mel, alcançados no respeito aos diferentes e na convivência com os contrários – fundamentos da cidadania e do amor ao próximo.
Parabéns a todos os PROFESSORES.

PS.: Em letra verde como se fosse uma ODE a esperança.

Foto de Carlos Sena com Ariano Suassuna em Recife.