A TV, O VÍDEO E O CELULAR EM SALA DE AULA: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA COM O PROJETO “NOITE DA POESIA”
A TV, O VÍDEO E O CELULAR EM SALA DE AULA: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA COM O PROJETO “NOITE DA POESIA” ”
Ivanete Nunes de OLIVEIRA/ PGPE/UFAL
RESUMO: Este artigo trata do uso das mídias televisão, vídeo e celular, enquanto meios de comunicação formadores de opinião e/ou influenciadores dos comportamentos dos alunos, no ambiente escolar. Ressalta a importância do uso de tais mídias nas práticas docentes, tendo em vista sua abrangência, a riqueza de possibilidades educativas pela qual estão cercados e o fascínio que exercem sobre crianças e jovens. Apresenta tais ferramentas sob uma perspectiva pedagógica, que supera as visões empobrecedoras e reducionistas deste tipo de ferramenta. Baseia-se principalmente nas obras de MORAN(2003),NAPOLITANO (1993) e COSCARELLI (2006) É relatada também no artigo a experiência e a dinâmica do projeto “Noite da Poesia”, realizado na Escola Estadual José Correia Fontan, na cidade de Paulo Jacinto – Alagoas, ao passo em que se propõe uma metodologia para inserção das mídias nas atividades docentes de modo a aproveitar a multiplicidade de facetas desses instrumentos, proporcionando aprendizagem e afloramento da criatividade do alunado.
PALAVRAS-CHAVE: Audiovisual; Mídia digital; Ensino-aprendizagem.
1. Introdução
É imprescindível que o professor reconheça o poder e o fascínio que os meios de comunicação exercem sobre as pessoas e, em especial, crianças e jovens, procurando adotar em sua prática docente o uso das tecnologias que há na escola com os alunos. Nesse percurso a maioria dos professores tem se deparado com questões tais quais as seguintes: Como utilizar o vídeo na minha aula?
Como planejar aulas que integrem mídias? Como levar a turma a fazer uma leitura consciente destas mensagens? Que atividades propor aos alunos antes e/ou depois de assistirem ao vídeo com o programa a ser cumprido? E o que dizer do celular? Como transformá-lo em ferramenta pedagógica, uma vez que os alunos não largam esses aparelhos durante a aula?
São indagações que representam dúvidas de muitos professores que pretendem usar esses meios em constante aperfeiçoamento, sendo sintetizadas em nossa problemática de pesquisa nos seguintes termos: Como usar a TV, o vídeo e o celular em sala de aula de forma pedagógica e eficiente?
Nesse contexto, esse artigo objetiva refletir criticamente sobre a TV, o vídeo e o celular, enquanto formadores de opinião influenciadores dos alunos; visa também superar visões reducionistas e empobrecedoras a respeito dessas ferramentas, bem como propor uma metodologia para inserção da TV, vídeo e do celular na sala de aula em toda a sua riqueza pedagógica e multiplicidade de funções.
Ressalte-se que em relação aos celulares o desafio ganha novas cores, dadas as possibilidades que estes aparelhos suscitam e o estigma de inadequação ao ambiente escolar que ainda predomina. Logo, percebe-se necessária uma nova postura, que ultrapasse os limites das metodologias convencionais, baseadas apenas na transmissão de conhecimento.
Pois, através de uma prática bem planejada, as mídias oferecem maior flexibilização do tempo e do espaço de aprendizagem, permitindo aos estudantes a autoria, a interatividade e novas formas de perceber o mundo que o cerca. Exemplo dessa dinâmica foi concretizada na realização da sexta edição do “Projeto Noite da Poesia”, relatada no presente trabalho.
O projeto surgiu há seis anos, sem o uso de mídias tecnológicas, a partir da reunião de professores de língua portuguesa a fim de trabalhar as Escolas Literárias com os alunos do Ensino Médio. Com isso, o projeto inicialmente reviveu até sua quinta edição os antigos saraus literários da época do Brasil Império. Nada obstante, neste ano de 2010 o projeto ganhou “nova roupagem”, através do uso articulado das mídias TV, vídeo e celular.
2. Reflexão crítica sobre a tv, o vídeo e o celular
O referencial teórico deste trabalho aborda as ideias de estudiosos que muito tem se dedicado ao estudo , análises críticas e estratégias de como devem ser trabalhados a televisão e vídeo pedagogicamente.
Moran (1993) que enfoca as tecnologias como mediação ao saber fazer pedagógico; Pereira (1997) que mostra estratégias de como fazer leituras através de imagens, como também Duarte (2002) a qual enfatiza que um trabalho como TV, vídeo, câmeras, imagens em celulares desenvolve a competência para ver; Napolitano (2003), que em seus últimos trabalhos apresenta a televisão e outras mídias como ferramentas eficientes para a aprendizagem.
Já Carvalho (1998) menciona que os produtos advindos do desenvolvimento tecnológico se constituem em novos conceitos, indispensáveis para uma nova forma de pensar, pesquisar e educar; Guareschi (2005) em seu trabalho ’’Mídias, Educação e Sociedade’’ apresenta as mídias de massa, em especial a televisão, como produtos ideológicos e defende a ideia de que a escola precisa colocar essa pauta em discussão, possibilitando aos alunos uma leitura crítica do que veem em seus programas favoritos; Kellner (2001) enfoca os produtos midiáticos e seus impactos na sociedade; e Veiga (1996) que em seu livro “Didática e Sociedade” dá ênfase sobre a importância da leitura de imagens.
A TV, o Vídeo e o Celular são as tecnologias de maior uso cotidiano pelos alunos. Seja em casa quando trata-se da TV e do vídeo seja na mão deles quando se trata do celular. A TV tem um papel preponderante e especial na ligação das pessoas com o mundo, com diferentes realidades, enfocando diversas faces: tristeza, alegria, informação, diversidade; as imagens são lúdicas, dinâmicas, impactam e até interagem com as crianças, jovens e adultos.
Estamos diante de uma cultura imagética e que está impregnada nas mãos do alunado pelos celulares diuturnamente e em casa através da TV, vídeo e tela do computador. Nesse sentido é que Moran (1993, p. 46) aponta ‘’as linguagens da TV e do vídeo respondem à sensibilidade dos jovens e da grande maioria da população adulta” .
Desse modo, se faz necessário que o professor ensine ao seu aluno a importância da leitura de imagens, pois,
As crianças e os jovens leem o que pode visualizar, precisam ver para compreender. Toda sua fala é mais sensorial – visual do que racional e abstrata. Leem nas diversas telas que utilizam: da TV, do DVD, do celular, do computador, dos games (MORAN, 1993, p.40).
A Leitura de imagens, assim como a leitura nos livros requer estratégias, uma vez que há gente que olha mas não vê. “Lemos superficialmente, ‘Passamos os olhos’. Não acrescentamos ao ato de ler algo mais de nós além do gesto mecânico de decifrar os sinais” (PEREIRA, 1997, p. 4).
Mas o que é olhar e não ver? É ler superficialmente as mensagens, é não fazer a interlocução imagem-receptor instigando as inferências possíveis e não únicas e exclusivas. É não fazer uma devida extrapolação crítica que seria uma recriação da imagem com outros propósitos, possível “leitura do mundo”, posicionamento do sujeito–receptor perante a imagem, com base nas interpretações realizadas; não apreciação crítica da imagem e dos propósitos que presidiram á sua concepção. É não fazer uma leitura de imagem nas entrelinhas.
Assim sendo, um trabalho com imagens: em vídeo, TV, câmeras, imagens em celulares e cinema “contribui para desenvolver o que se pode chamar de competência para ver” (DUARTE, 2002, p. 36) analisar, compreender, inferir e apreciar qualquer história contada em linguagem fílmica e/ou cinematográfica. Nas palavras de (RICHTER, 2000, p. 32) “perceber um objeto é criar, na mente, algo relacionado e causado por alguma coisa exterior, material”.
Sendo assim, a relação de interação que se faz entre o externo (objeto, linguagem imagética que observamos) e o interno (definição, inferência) dá-se através do sentido da visão sem, necessariamente usarmos palavras e/ou textos. Não se trata de encontrar o seu sentido aparente, mas em compreender o significado num contexto social e no contexto do interpretante (observador/receptor ).
Para um planejamento que surja efeito na efetivação de um trabalho com imagem, além das estratégias mencionadas eu proponho a metodologia dos três olhares de Pereira (1997, p. 4) “pois a mesma exercita os três momentos do pensar: a apreensão, a compreensão e a conceituação/síntese”, a saber:
- 1º OLHAR: é o ENCONTRO com a imagem. É olhar a imagem e fazer a COLHEITA de: sinais significativos, sons , sugestões, coisas diferentes , suspeitas.
TÉCNICA: o que a imagem mostra? O autor se refere a quê? A imagem trabalha sobre o quê? Que suspeitas ela abre? O que é?
- 2º OLHAR: é o olhar da DEVASSA. É o ACOLHIMENTO do que se viu na imagem. É aceitar e reconhecer sentido entre a vida vivida e a representada. É um JULGAR um olhar analítico.
TÉCNICA: Há uma sequência lógica? De que forma se criam as imagens e que significados elas têm?
- 3º OLHAR: É o olhar do MERGULHO na imagem. É hora do RECOLHIMENTO. A INTERAÇÃO e o AGIR. Da intimidade com a imagem.
TÉCNICA: Como o observador/receptor interpreta o que foi mostrado ? que leitura ele pode fazer? O que isso tem a ver com a sua realidade?
Essa metodologia é uma oportunidade de fazer a interpretação da imagem, uma vez que aos nossos olhos elas (as imagens) provocam sensações visuais, sensitivas e emocionais, pois pelo vídeo sentimos, experienciamos sensorialmente o outro, o mundo, nós mesmos. Assim, se faz necessário que o professor seja conhecedor de metodologias que venham a auxiliar a sua prática pedagógica e traga o aluno para mais perto de si. Pois há muitos professores distantes do aluno no sentido da apropriação das tecnologias.
Entretanto, para que haja uma prática perfeita que suscite aprendizagem é necessário que o aluno saiba interpretar as imagens que circulam a todo momento.
Nesse contexto, para Napolitano (2003, p. 7-15)
O professor é que, passando ao largo da complexidade do fenômeno e dos códigos operacionalizados pelo veiculo, a escola pouco contribui para tornar sua clientela mais crítica, além de perder a chance de incorporar o material televisual como fonte de conhecimento. É preciso analisar a TV levando em conta toda a sua complexidade, não apenas seus diversos níveis [produção, circulação e recepção], mas nos diversos usos possíveis do conteúdo por ela veiculado. Inicialmente, selecionamos quatro categorias envolvidas na realização social da TV, que podem servir para pensar a relação entre TV e escola . 1º - O conteúdo da TV é uma forma de mercadoria, comprada por telespectadores-consumidores; 2º- O conteúdo da TV é uma forma de sociabilidade, partilhada por telespectadores-cidadãos; 3º - O conteúdo da TV é uma forma de comunicação, recebida por telespectadores-decodificadores; 4º- A TV é uma forma de cultura, desfrutada por telespectadores-fruidores.
Para ele,
Esses quatro eixos, entre tantos outros menos expressivos que fazem parte do fenômeno televisual, constituem os eixos principais dos usos sociais da TV. Em linhas gerais, são eles que formam o grau de midiabilidade das nossas vidas. Todos os professores e alunos, na medida em que assistimos TV, somos consumidores, cidadãos, decodificadores e fruidores. Todas essas categorias podem relacionar-se a uma mesma pessoa, numa mesma situação de audiência televisual. O peso de cada uma delas é que pode variar conforme o individuo, o grupo, a classe ou mesmo a nacionalidade em questão. Além disso, nos usos sociais da TV, interferem fatores importantes, muitas vezes ambíguos, que são fundamentais em qualquer experiência cultural e simbólica: sonho e realidade, lazer e trabalho, razão e emoção, alienação e participação, tédio e fascinação. Estes binômios são fundamentais para entender como se realiza a mídia TELEVISÃO e como as pessoas reagem a ela e com ela. A tarefa inicial da escola é pensar o fenômeno em toda sua amplitude, ao mesmo tempo que se capacita para incorporar seus materiais como fontes de conhecimento e crítica. Além disso, o professor deve adaptar a discussão e o grau de aprofundamento do debate em torno da TV, de acordo com a faixa etária e escolar em questão.
Destarte, percebe-se o papel mediador do professor na relação TV – INDIVÍDUOS: em que pese o uso indiscriminado dessa tecnologia como mecanismo para aplacar a solidão, o estresse e o distanciamento das pessoas no dia a dia, por seu forte papel formador de opinião e pelo fato de que os alunos ainda estão na fase de formação de sua personalidade, cheiosde informações, dúvidas e fragilidades, a escola tem o papel de fazer a ligação entre o indivíduo e o meio tecnológico de forma saudável. Isto para que os alunos tenham consciência crítica e capacidade de debater sobre os materiais a que tem acesso cotidianamente através da T.V.
3. Superação das visões reducionistas e empobrecedoras do uso das mídias em sala de aula
Em pleno século XXI ainda encontramos muitos professores que possuem uma visão contrária ao uso das tecnologias na sala de aula e tentam justificar o não uso, afinal em toda sua vida profissional nunca houve quem os preparasse.
Assim, eles se sentem inúteis, evitam o confronto, evitam assumir novas posturas frente às novas demandas que surgem. São professores que não querem se render ao novo, às novas práticas, preferem permanecer com uma postura tradicional, radical na sala de aula. Muitos até exibem a TV e o vídeo, embora não achem importante para sua prática de ensino, e até mesmo quando os utilizam não possuem um planejamento sobre o que vai trabalhar.
Porém, numa sociedade tecnológica e capitalista o professor não pode estar excluído das condições divergentes em que se encontram os alunos, mergulhados no mundo de imagens que os circundam por todos os lados. Em meio a tudo isso, o papel do professor, enquanto mediador de aprendizagem é tornar as mídias parceiras, descobrindo como utilizá-las pedagogicamente e os efeitos que podem trazer para a melhoria de sua ação pedagógica, ao invés de só colocar mau gosto, ideias pessimistas, insatisfações, sem entender e/ou querer entender as mudanças que estão aos olhos vistos.
Para Guareschi (2005, p.33) “Se a sociedade está mudando de forma tão rápida a escola não pode esperar, precisa se destacar, conhecer e explorar as preferências e interesses de sua clientela. Incluir a mídia televisão em seu espaço acadêmico é uma forma de fazer o diferencial”. Mas não se trata só de saber o que se passa (na televisão), ou seja, a informação , as coisas positivas ou negativas, mas de pensar, entender, saber analisar aquilo que lhe é repassado, como defende também Côrtes (2009, p. 18) “Atualmente, não podemos mais adiar o encontro com as tecnologias; passíveis de aproveitamento didático, uma vez que os alunos voluntários e entusiasticamente imersos nestes recursos – já falam outra língua , pois desenvolveram competências explicitadas para conviver com elas”.
Nesse sentido percebemos que a utilização das tecnologias na educação não é mais uma opção, mas uma exigência desta sociedade. É imprescindível que o professor vença resistências, pois é um desafio, e vá em busca do conhecimento para que possa estar competente e atuar afinado com as tecnologias. Afinal, “A televisão é e será aquilo que nós fizermos dela [...] aqui abrange todos os envolvidos nos processos: produtores, consumidores, críticos, formadores, etc.” (MACHADO, 2001, p.15 -16).
Atualmente o professor precisa estar aberto para aprender, reaprender e permanecer sempre em estado de aprendizagem a fim de integrar os conteúdos das mídias existentes na escola, uma vez que, quanto mais o professor estiver em contato com as mídias que os alunos utilizam diariamente, mais perto estará de seu aluno, pois ambos, estarão falando uma mesma linguagem. Mas, o medo do novo, a falta de prática em manusear os equipamentos, a falta de coragem de querer enfrentar desafios e também a falta de compromisso de alguns, leva a essa inércia que tanto distancia o aluno do professor.
Diante disso, o professor tem necessidade de querer, de motivar-se, enfrentar desafios impostos muitas vezes pelo comodismo. E Moran (2000, p. 24) afirma que ‘’aprendemos pela credibilidade que alguém nos merece. Um professor que transmite credibilidade facilita a comunicação com os alunos e a disposição para aprender’’.
Também Freire (1980, p. 28) faz um alerta mostrando que o professor deve ser uma pessoa bastante crítica, dessa forma
Eu não posso denunciar a estrutura desumanizante se não a penetro para conhecê-la. Não posso denunciar se não conheço. [...] Quanto mais conscientizados nos tornamos, mais capacitados estamos para ser anunciadores e denunciadores, graças ao compromisso de transformação que assumimos. Eis aí a grande responsabilidade do professor perante a imensa demanda de produtos tecnológicos em questão.
Sobre o trabalho na escola com os meios de comunicação de massa como o rádio, a televisão, o vídeo, Napolitano (2003, p. 7-15) sugere o seguinte: “um dos primeiros cuidados que o professor deve tomar não é reproduzir preconceitos e críticas ligeiras sobre a mídia televisual. Pensar o fenômeno social da TV é pensar as diversas facetas desse fenômeno”.
O mais comum, na relação entre Tv e escola tem sido partir do pressuposto de que a a TV é manipuladora de consciência e veiculadora de um conteúdo de baixo nível cultural, informativo e estético. É partindo desse pressuposto, diga-se não completamente errado, que muitos professores começam seu trabalho.
Portanto, diante de tantos argumentos com relação ao uso das TIC da sala de aula, se não interagirmos o ensino com as tecnologias que fazem parte do dia a dia dos alunos estaremos - nós professores - incorrendo no risco de ficarmos falando sozinhos na sala de aula, como muitos de nós já estamos.
4. Uma metodologia de inserção da tv, do vídeo e do celular em sala de aula: um estudo da aplicação de mídias no projeto Noite da poesia
Apresentamos o relato de experiência com o projeto noite da poesia e sua relação com o uso das seguintes mídias: TV, vídeo e o celular. O projeto surgiu há seis anos sem o uso das tecnologias. O grupo de professores de língua portuguesa pensava e repensava sobre o que apresentar sobre as Escolas Literárias que havia trabalhado relembrando os antigos saraus literários da época do império.
Optaram por várias produções, a saber: o aluno lia os romances e criava paródias, poesias, dramatizações, exposições, concursos de poesias, danças, tudo sobre o conteúdo literário: autores, obras, estilo, com produções e execuções dos próprios alunos. Foi aí que timidamente nascia a “Noite da poesia”, que tornou-se um projeto permanente dentro do plano de ação da Escola Estadual José Correia Fontan (E.S.J.C.F), do município de Paulo Jacinto – Alagoas.
O referido projeto este ano ganhou uma “roupagem nova”, através do uso articulado das mídias TV, vídeos e celulares dos alunos, onde eles puderam, através do estudo das escolas literárias, analisar, produzir, ousar e experimentar.
De acordo com Carvalho e Barbieri (1997, p.19).
Os novos produtos advindos do desenvolvimento tecnológico são muito mais do que apenas produtos. Eles se constituem em novos conceitos. São frequentemente ferramentas de trabalho até indispensáveis e se tornam, cada vez mais, portadores de uma nova maneira de pensar, pesquisar e educar.
Para a realização desse projeto o professor dispôs de um mês e quinze dias visto que trabalhou com turmas diversificadas (Primeiro, segundo e terceiro ano do Ensino Médio) e na escola havia três turmas de primeiro ano. Cada série seguiu uma sequência para o estudo das Escolas Literárias, autores e obras. O uso dos textos literários foi enriquecedor, pois:
O texto literário, que permite o desenvolvimento de todas as virtualidades da linguagem, que é o espaço da liberdade da linguagem liberdade das restrições das normas, pode permitir - nos ‘ler para nada’. Para não fazer nada depois da leitura apenas deixar-nos levar pela imaginação; mas, também pode nos permitir analisar os mecanismos empregados pelo autor para produzir beleza, tentar recriar esses mecanismos em novas condições, desentranhar símbolos que estruturam a mensagem, jogar com a musicalidade das palavras designativas (KANFMAN; RODRÍGUEZ, 1995, p. 42 – 45).
Nesse sentido constatamo que a utilização dos recursos audiovisuais (TV, vídeo, celulares) no projeto “Noite da poesia” auxiliou na compreensão dos temas que envolveram cultura, situações econômicas e sociais, autoria e produção e ainda são recursos ricos, lúdicos e dinâmicos.
De acordo com os temas literários foram analisados os seguintes filmes:
- Cidade de Deus(Realismo e Naturalismo); Com este filme foi trabalhado um roteiro de análise conforme segue:
• Posicionamento da câmera no enquadramento da cena durante a perseguição da galinha (no inicio do filme);
• Relação entre o giro de 360 graus e a estrutura da narrativa do filme (inicio do filme)
• Flashback;
• Tipo de Narrador (no caso do filme é em 1º pessoa);
• Transformações sofridas pelas favelas brasileiras, entre a década de 60 e 90;
• Analogias do comércio de drogas com uma empresa organizada;
• “Poder paralelo’’ do estado;
• Comportamento da comunidade? Comportamento dos policiais?;
• Traços NATURALISTAS no FILME;
• Preconceito e Violência;
• Trabalho Infantil;
• Personagens sem nome (apelidos pela qualidade que apresentavam);
• Aprofundamento das personagens do ponto de vista psicológicos;
• Personagem Busca-pé como um exemplo do determinismo social;
• Emprego da linguagem cuidadosamente trabalhada;
• Adequação das músicas ao filme.
- Escritores da Liberdade (Mediar com os alunos sobre: desigualdade social e racial, com ênfase nos problemas relacionados à situação financeira e ocupacional, preconceito, discriminação, sexo, acesso à educação (Modernismo);
- Filmes Shrek (Paralelo entre o Romantismo e épocas passadas). Mostramos também que os produtores deste conto usam de uma ludicidade extrema; recortam e colam, torcem, abusam, misturam, corrompem, amam, odeiam, tiram do contexto, sofrem...
- Diálogo (gravação com o celular do “Conto Erótico” de Luiz Fernando Veríssimo); Gravação de entrevistas, fotografia e filme no celular; receber e enviar as fotos,vídeos e imagens;
Registro das aulas de campo;
- Produção de um Filme “O chapéu de Meu Pai” baseado no conto de mesmo título, de Aurélio Buarque de Holanda;
- Dramatização do livro Senhora de José de Alencar, com encenação na praça da cidade e apresentação na rádio local em forma de rádioteatro.
Com relação às Entrevistas realizadas na TV, um trabalho muito e interessante com o aluno foi distinguir as várias formas com que os líderes de certos programas (apresentadores, âncoras, entrevistadores) dirigem-se aos entrevistados (políticos, artistas ou demais representantes da sociedade civil).
No caso de debates e mesas redondas, foi muito importante observar de que forma esses protagonistas interagem entre si. Nessa análise observou-se detalhes específicos como: idade, posição social, sexo, profissão, papel social dos entrevistados. Nesse sentido é imprescindível identificar os papéis dos interlocutores e como eles se refletem nas sequências do diálogo, no uso de uma linguagem mais ou menos formal (à polidez, ao tratamento interpessoal, ao emprego dos verbos, às relaçõe interculturais,dentre outros).
Outra perspectiva que gerou bastantes frutos foi um trabalho com capítulo de novela., visto que podemos trabalhar com problemas sociolingüísticos e discursivos, como por exemplo: percepção de termos, expressões, sotaques, entonações ou mesmo vestes que deram pistas sobre os seguintes aspectos: a região onde mora, a classe social ou a idade de cada personagem.
5. Conclusão
O estudo base dessa experiência aproveitou os meios de comunicação vídeo, TV, câmeras existentes na escola, celulares dos alunos das séries mencionadas para dar uma roupagem nova ao projeto “Noite da poesia”, trabalhado há seis anos na escola Estadual José Correia Fontan.
O uso das respectivas mídias nos fizeram perceber que, para que haja um bom uso pedagógico desses meios se faz necessário que o professor perceba os limites e as possibilidades destes, a fim de que possa fazer um trabalho que desenvolva a aprendizagem dos alunos.
As possibilidades de aproveitamento foram inúmeras. Enfatiza-se aqui as que contribuíram para uma aprendizagem significativa, na qual os alunos e professores foram autores, colaboradores, produtores, enfim, protagonistas, favorecendo assim o princípio de autoria e autonomia por meio da utilização das mídias em um projeto literário, a saber:
1. Desempenho do desenvolvimento linguístico dos alunos através dos filmes expostos, leitura, análise e compreensão, tanto de filmes como de textos; ampliação do repertório vocabular, desenvolvimento da expressividade e da oralidade;
2. Favorecimento da recordação de episódios e comportamentos apresentados nos filmes, revelando a importância dos materiais para a retenção mnemônica;
3. Produção do filme –“O chapéu de meu pai” do conto de mesmo nome de Aurélio Buarque de Holanda;
4. Socialização das aprendizagens, considerando a prática social do aluno no processo educativo para situações reais;
5. Maior raciocínio reflexivo, maior poder de argumentação e contra-argumentação, ou seja, maior autonomia de pensamento, favorecendo a habilidade de formar opiniões e superação de atitudes alienadas;
6. Grande poder de criticidade, esperado no ensino médio;
7. Momentos de reflexão sobre os mecanismos de criação e de intencionalidades dos filmes e programas assistidos;
8. Discussão sobre questões éticas para daí desenvolver o posicionamento pessoal e reflexivo;
9. Revisão de conceito de materiais curriculares: livro didático (Senhora, Dom Casmurro, O Quinze, A Moreninha, dentre outros);
10. Análises de vários materiais como revistas e materiais sobre o centenário de Aurélio Buarque de Holanda, vídeos, programas de TV;
11. Ressignificação do conceito de conteúdos escolares para além do que é tradicionalmente considerado, como também inclusão do desenvolvimento de habilidades, atitudes e valores.
12. Socialização das produções para a comunidade (pais, colegas, professores, visitantes, comunidade em geral) a “Noite da Poesia”.
13. Gravação de diálogos, utilizando celulares dos alunos, rompendo assim com as falácias de que o “celular só serve para atrapalhar as aulas”.
14. Correio da amizade na equipe Romantismo. Na aula trabalhávamos o romantismo de ontem e o romantismo atual. Fizemos analogias. Nesta mesma aula conseguimos fazer um correio da amizade com o uso do celular.
Concluímos assim que, o uso de celulares pode suscitar novas práticas. Dessa forma, certamente conseguimos o que se espera do professor num mundo em predomina o domínio das tecnologias, uma cultura que vive nas mãos dos alunos e o professor enquanto mediador de aprendizagens deve estar a par dessa cultura para poder intervir e através delas fomentar nos alunos o desejo de aprender. É um desafio enorme, mas se o professor tiver vontade de fazer, ele faz.
Urge que se faça uma reavaliação das metodologias tradicionais , visando à exploração das tecnologias da informação e comunicação existentes na escola,capazes de motivar os alunos à leitura por prazer a saber olhar, e sobretudo a aprender fazer.
Referências
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