Com quantos pilares se faz uma boa educação?

O secretário de Educação de Goiás, Thiago Peixoto, esteve na cidade de Rio Verde na última quinta-feira, dia 15 de setembro, para uma importante missão: apresentar o pacto pela educação - os cinco pilares propostos pelo governo Marconi Perillo a fim de melhorar o processo educacional da rede pública (essa foi, durante a campanha eleitoral, uma das principais propostas do então candidato).

Ao iniciar sua fala, o secretário, muito didático, explica as principais motivações para a criação desses pilares, que são os atuais índices educacionais, sendo Ideb, Enem, mas logo nessa abordagem já deixa intrigado quem o ouve. Foi preciso ir à Irlanda para saber como fazer boa educação?

Em frequentes visitas às escolas estaduais, o secretário evidentemente reconheceria a realidade educacional e não tardaria a perceber o que deve ser feito. Mas uma ressalva: teria de visitar escolas não como secretário da educação. As formalidades concernentes à posição política do secretário atrapalham e muito essa visita. São tantas bajulações, cerimônias, continências que chegam causar náuseas. Poderia ser então o Thiago, ou melhor, o professor Thiago a vivenciar a realidade de uma escola pública. Ele descobriria rapidamente quem é o público dessas escolas, veria os milagres feitos a partir dos poucos recursos com os quais as instituições podem contar. Conheceria a “politicagem” e “puxação de saco” daqueles que têm cargo de confiança. Descobriria que a educação pública é pautada por números: salas cheias, altos índices de aprovação, mas sem o mais importante que é a qualidade de ensino. O Thiago notaria claramente com quantos pilares se faz uma boa educação.

O primeiro pilar “Valorizar e fortalecer o profissional da educação” através do pagamento do piso nacional. O secretário veria, nesse primeiro pilar, o impacto de 110% no orçamento da educação, mas que poderia prontamente ganhar um novo viés se o último e quinto pilar também já estivesse em pleno vapor: otimizar gastos. Já o Thiago perceberia a urgência, não só de alcançar o piso, mas de reajustar o salário do professor, pois perceberia que se tivesse um salário digno, poderia trabalhar em uma só escola, ter qualidade de vida e devolver isso ao estado com o melhor que se pode oferecer ao processo educacional. Não se engane, o Thiago daria o seu melhor, pois já o faz mesmo com um salário que exige dele uma carga de 60 horas. Aqueles excelentes alunos egressos no Ensino Médio vislumbrariam a carreira docente e certamente também viriam a contribuir com o pacto pela educação.

Já no segundo pilar “Adotar práticas de ensino de alto impacto na aprendizagem”, o secretário diria que é necessário criar um currículum mínimo (mas detalhado) para a prática docente. Enquanto isso, o Thiago já está na sala de aula tentando detalhar esses conteúdos – prática isolada – mas enquanto outros estão no discurso, abstração, o professor já está se esbarrando na burocracia a fim de levar aquilo que realmente é importante para a formação do cidadão, bem como aquilo que será cobrado do aluno nas avaliações externas. Ele precisa e faz esses levantamentos.

O secretário afirmaria categoricamente que o Ensino Médio é o maior desafio do governo, já o Thiago sabe que esse desafio se dá com tanta veemência porque o ensino básico também é deficiente e o aluno chega ao ensino médio sem condições mínimas, mas precisa ser aprovado, por causa dos gráficos. Quase analfabeto, o educando não tem interesse em estudar, pois suas principais ferramentas, a leitura e as noções básicas de matemática, estão debilitadas. As escolas mudam os regimentos: média de aprovação é seis, mas ninguém esquece a saudosa média cinco nos conselhos de classe finais. E ainda temos a progressão – o Thiago não consegue visualizar a eficiência dessa metodologia que alavanca os índices de aprovação.

É indubitável a influência tecnológica no contexto dos alunos da rede pública, todavia enquanto o secretário se preocupa com o projeto de um computador por aluno, o Thiago já percebeu que uma verba maior e fiscalizada para a merenda escolar seria, antes de tudo, “um portal de conhecimento” para os alunos. Essa é também uma prática de alto impacto na aprendizagem.

O terceiro pilar “Acabar com a desigualdade”. O secretário apresenta mapas em que apresenta, após diagnóstico, as regiões em que a educação está melhor e pior e questiona o porquê de regiões ricas apresentarem resultados ruins na rede pública de ensino. O Thiago responderia, de maneira eloquente, que nas regiões ricas, possivelmente, os cidadãos priorizam a educação privada em detrimento da pública. Por falar nisso, comparemos a rede pública e a particular. Esta possui laboratórios de ciência e informática, e aquela, quando possui a estrutura física desses ambientes educacionais, não tem funcionário para dinamizar o acesso e, em muitos casos, estão fechados. O Thiago sabe disso, ele vive essa realidade. Ele vê urgência para realização de concursos para administrativos e serviços gerais (no segundo semestre, as aulas se iniciaram e as escolas praticamente não tinham funcionários para cuidar da limpeza).

Reconhecer o profissional da educação constitui o quarto pilar. O secretário, dentro de uma política de governo, propõe bonificação para o professor, mas o Thiago apresentaria sim uma proposta de Estado para a educação, pois ele sabe que um mandato se encerra, mas o compromisso com a educação deve ser contínuo, não se pode quebrá-lo de quatro em quatro anos. Ainda nesse pilar, o secretário lançaria programas como “Educadores do ano” a fim de aumentar o status do professor, já o Thiago se reportaria a uma profissão amplamente respeitada socialmente que é a do médico. Não se realizam “Os médicos do ano” para que os vestibulares de medicina sejam os mais concorridos. Esses programas não conferem status ao professor, apenas materializam ações governamentais, mesmo inócuas, mas que servem como excelentes discursos eleitoreiros. O secretário diria que é questão cultural, mas o Thiago retrucaria com segurança que as questões culturais podem ser modificadas com ações práticas e reais. Não é engraçado como os pais querem bons professores para seus filhos, mas não querem que os filhos sejam professores? Ora, há algo de errado! Os médicos e engenheiros são formados por professores.

O quinto pilar é tão óbvio quanto os outros, pelo menos para o Thiago. Precisa-se de excelência em infraestrutura e isso se faz com construção de escolas, reforma e manutenção, diz o secretário, bem como gastar melhor o orçamento. Só há uma coisa que o Thiago não entende: por que ir tão longe buscar metas, diretrizes, se estão tão próximas – nas escolas da rede pública de Goiás. O Thiago espera que o pacto pela educação seja feito com os professores, pais, alunos e sociedade, mas que seja um pacto de respeito!

Rosimeire Soares
Enviado por Rosimeire Soares em 30/09/2011
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