Nas ASAS do pensamento.
Por Carlos Sena.




Pode ser que tudo seja diferente. O grande dilema da humanidade é o pensamento que se abriga na estrutura da nossa Inteligência, pois a natureza nos deu a capacidade de raciocínio como consequência de sermos racionais. Ou não? Talvez possamos compreender que temos a capacidade de racionalizar como causa. Certamente nós não sobreviveríamos com a naturalidade de hoje, não fosse a razão, um produto da nossa espécie e condutora da nossa inteligência. Inteligência para o bem e para o mal, inclusive para ludibriar os dois pela fragilidade de nossa natureza.
Vejo nesse complexo de inteligência e razão um elemento comum aos dois: o pensamento. Esse voa, como se pássaro fosse. Fecha-se em si como se cadeado fosse. Esconde-se em si como pássaro negro irrompendo a madrugada. A razão, via raciocínio talvez comande o  labor;  o pensamento, via inteligência, talvez comande o prazer; o amor, pela sua pujança, irreverencia e insensatez, talvez se abrigue na irracionalidade.
Talvez seja mesmo o PENSAMENTO o grande dilema da humanidade. Ele se posta em nós com vários matizes de intensidade. Uns são mais e outros menos inteligentes. Há os medíocres para quem o limbo nem sempre lhes assegura o direito que se concede aos que vivem em “cima do muro”, para que possam existir.
Livre pensar é só pensar e quem vê cara não vê coração. A beleza e a fealdade não são moradas definidas para o pensamento se abrigar e produzir seus efeitos nem sempre positivos. Também o pensamento não se influencia por dinheiro, posição social, raça, sexo, etc. Entrar no pensamento do outro poderá um dia acontecer, mas essa possibilidade o próprio pensamento não nos concede alcançar. Talvez o homem quando chegar nesse estágio esteja em outro nível de evolução mental e espiritual. Na forma em que nos encontramos hoje, as possibilidades são mínimas, mas já se podem fazer presentes timidamente através da evolução tecnológica que é, em certos ângulos de visão, inteligência pura.
Na vida pratica, há pessoas que tramam situações contra outras, inescrupulosamente. Esquecem-se que a inteligência não é privilegio delas e, não raro, “quebram a cara” quando as outras pessoas mudam o rumo das situações e praticam o conhecido “virar o jogo”... Dentro de cada pessoa poderão residir Deus e o Demônio, inclusive com a Terra do Sol de Glauber Rocha. Dentro delas, pode inclusive haver revezamento: Deus vira Demônio e este vira Deus. Dentro de cada pessoa existem todas as pessoas do universo. O próprio universo só não se desintegra porque todos nós, com pensamentos tão diversos e diferentes uns dos outros, não temos condições de executar o que pensamos na realidade concreta.
Talvez em função disto, a música tenha sua função, o teatro, a literatura, as artes. Estas são formas de libertação interior e compatibiliza deuses e demônios particulares que carregamos individualmente pela impossibilidade de fazê-lo coletivamente.