EDUCAÇÃO: precisamos avançar mais
Existe uma falha muito grande na educação: pensa-se que o problema do professor se resolve com cursos de formação continuada (que, diga-se de passagem, cursos que SEMPRE EXISTIRAM)... Acontece que a maioria dos professores não têm sequer condições de
acompanhá-los de maneira consequente. E quando o fazem, estes cursos não refletem no bolso deles. Cansei de ver, na Secretaria de Educação do Estado do RN esses cursos de 20 e de 40 horas. Na verdade, que eu saiba, na educação básica os professores não são estimulados a fazerem cursos de pós-graduação, pois inexiste um PLANO DE CARREIRA SÉRIO que os incentive a isso. Insisto: pra
mim o governo vai demonstrar que está realmente empenhado em melhorar a educação quando tiver CORAGEM de REALMENTE fazer algo que REFLITA DIRETAMENTE no bolso do professor. E uma educação que reflita no caderno do aluno. No meu entendimento
não se pode fazer distinção entre professor de educação básica e professor de ensino superior em termos salariais, de condições de trabalho (refiro-me ao tempo integral e à dedicação exclusiva). Já tivemos vários PLANOS DECENAIS DE EDUCAÇÃO (ao que me consta, todos eles tinham metas...). Acontece que metas quantitativas de inclusão de alunos na escola, nisso, talvez tenhamos avançado.
Mas no tocante às REAIS CONDIÇÕES de gestão no interior das escolas, das condições de trabalho, dos planos de carreira com INCENTIVOS REAIS para que o professor prossiga vida afora aprendendo e crescendo academicamente, creio que avançamos muito pouco. Ou seja: ainda estamos muito aquém das metas no que se refere a UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE para a educação infantil, para o ensino fundamental e para o ensino médio. Espera-se que se continue avançando um pouco mais na área profissionalizante com os CEFETS (hoje institutos), com a formação técnica e tecnológica. Mas a verdade é que existe pouca transparência na
maioria dos programas existentes, pouca divulgação do seu mecanismo de funcionamento, de maneira que as famílias não sabem como cobrar os seus DIREITOS de CIDADÃOS junto ao estado. E, apesar de tudo, muito do dinheiro que se diz endereçado à educação se perde no meio do caminho (desvios) ou então acontece a má gestão desses recursos no âmbito da escola pela falta de capacidade administrativa e de controle (acompanhamento) desses recursos, principalmente nas esferas estaduais e municipais (responsáveis pela educação básica) e também pela distância que ainda persiste entre a escola e a família. Seria muito bom se
houvesse mais divulgação dos programas que hoje "estão no ar", que se divulgasse amplamente seus mecanismos de funcionamento, seus objetivos, a quantidade de recursos que existem, pra onde e pra quem estão sendo destinados. Creio que existe muita falta de informação da sociedade como um todo. Por exemplo: o que está sendo feito com todos os livros que são distribuídos pelo PNBE (esses livros chegam às escolas, são disponibilizados para professores e também para os alunos?) Porque sabemos que não somos um país com os melhores índices de leitura. E precisamos avançar mais nessa área de incentivo à leitura. Existem outros calcanhares de Aquiles em nosso arcabouço educacional: quantos
pais de classe média têm coragem de matricular seus filhos numa escola pública? Ouvi falar numa proposta de que os políticos, pelo menos eles, teriam a obrigação de matricular seus filhos em escolas públicas da educação básica. Quem sabe, assim, não aconteceria, finalmente a tão esperada qualidade do ensino? Fica a dúvida. Espero que na educação não aconteça o mesmo que acontece na área jurídico- institucional: somos um dos países onde mais se legisla, um dos que têm uma das Cartas Magnas mais extensas, mais leis, e que, no entanto, somos também um dos países onde mais as leis são feitas para serem burladas, ou seja, somos o país da impunidade. Espero que estejamos no caminho de sair desse viés. Em todos os âmbitos. Incluindo-se o campo educacional. Espero, inclusive, que o fim do analfabetismo no Brasil não aconteça apenas porque as pessoas não letradas estão ficando velhas e morrendo. E que toda a sociedade seja convocada a participar do soerguimento da educação nacional. Volto a dizer: só acredito em
planos que possam ser acompanhados de perto pela sociedade civil. Melhor ainda se pudessem nascer da própria sociedade civil e não APENAS gestados em
gabinetes, de cima para baixo. Sem a participação e sem o compromisso de todos não caminharemos na direção certa. Pelo tempo em que se fala e se discute a educação, já era para estarmos numa posição acima de muitos outros países daqui
de perto mesmo. Por que não estamos num ranking melhor? Fica a pergunta no ar. Sei que a educação é um processo que precisa ser pensado a longo prazo. Mas também penso que este tempo vem se alongando um pouco para além da paciência de todos nós. Principalmente dos professores, que, infelizmente, ainda se veem
forçados a lançar mão do mecanismo da greve. Até quando? Uma pena. Para toda a sociedade.
PS. por isso, reafirmo: #10%dopibja
(José de Castro, professor e escritor)