A RELAÇÃO ENTRE AUTOR E LEITOR NO HIPERTEXTO

No hipertexto, a distinção entre autor e leitor praticamente desaparece, pois ele, o leitor, passa a interagir, tornando o texto menos independente, isto é, ele passa a ter incluído, em seu bojo, comentários, analogias e traduções.

Porém, essa interação entre autor e leitor, pode-se dizer, é uma prática bastante difundida, onde a distinção dada é praticamente impossível de se avaliar, haja vista algumas contradições observadas através da história e que levam as teorias a ponderarem sobre a tênue distinção entre o que é o autor, bem como o que é o leitor.

No período dos manuscritos, quando escribas e exegetas (quem faz interpretações, comentários, explicações de textos), frequentemente, alteravam os textos que transcreviam, sendo que essa separação entre autores e leitores não era significativa e nem suscitava problemas, já que até mesmo os Santos, Tomás de Aquino e Agostinho, se utilizaram de visões para se tornarem autores realizadores da palavra de Deus e consolidarem duas leituras: a leitura do Livro da Natureza – obra de Deus – e a leitura da Palavra Revelada, outra obra divina, ou seja, dava-lhes autoridade para, ao transcreverem a palavra de Deus, interagir e participar da autoria do texto.

O mesmo se aplica aos autores profanos, que não mantinham relações com a palavra divina, mas sabiam criar histórias e por isso eram reconhecidos como autores.

Entretanto, essa distinção se dá, de fato, quando é inventada a impressão tipográfica e fica mais difícil de o leitor interagir na obra do autor, que além da autoridade adquirida, passa a ter, efetivamente, a participação de um mercado editorial que o fortalece. Esse controle sobre a autoria vem através de sofisticados meios tecnológicos onde os grupos de interesses exercem um controle absoluto sobre os textos que produzem; onde nada pode ser alterado após a sua publicação, sem a prévia autorização de editores. Tudo gira em torno de códigos e direitos autorais, onde o leitor se torna passivo e converte-se em um produto de consumo dos autores.

Essa regra é quebrada com o hipertexto, onde a distinção autor/leitor, produto/consumidor começa a perder a sua validade. Segundo Barthes (1996), não existe uma originalidade no ato de escrever, já que o escritor será sempre o imitador de um gesto ou de uma palavra anterior a ele, mas nunca original, sendo seu único poder mesclar conhecimentos.

Portanto, é o hipertexto que consegue ir ao encontro do pensamento de Barthes, quando dá liberdade ao leitor de adicionar, alterar ou simplesmente editar outro texto, abrindo possibilidades de uma autoria coletiva e quebrando a ideia de um só autor para determinado texto. É nesse sentido que o hipertexto se funde reconfigurando o autor, onde ele passa, juntamente com o leitor, a ter uma relação de entrelaçamento, pois são transferidas partes do poder do autor para o leitor, pela possibilidade e habilidade que este último passa a ter de escolher livremente seus trajetos de leitura, elaborando seu metatexto, anotando seus escritos junto a escritos de outros autores e estabelecendo interconexões entre documentos de diferentes autores, de forma a relacioná-los e acessá-los rapidamente.

O fato de que o hipertexto estreita a distância, diminuindo a autonomia do texto, coloca esse fato de forma a diminuir, também, a autonomia do autor, tornando o leitor um construtor de significados ativo, independente e autônomo.


 


Fonte:
BARTHES, Rolland. A morte do autor. 1996.

Obs. Imagem da internet




Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 14/09/2011
Reeditado em 04/02/2012
Código do texto: T3219631
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