A ROELA DO ENO

A ROELA DO ENO

Walter Ap. Gonçalves

wgoncalves67@gmail.com

Neste ensaio de leitura da música Roela do Eno, de autoria de Jovelino Lopes e Teodoro, composta no ano de 2006 e interpretada pela dupla sertaneja Teodoro e Sampaio, busco compreender o funcionamento dos sentidos e da posição sujeito conforme a teoria da Analise do Discurso.

O enunciado é suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, deslocar-se discursivamente de seu sentido para derivar para outro, desde que não haja proibição explícita de interpretação própria ao logicamente estável.

Como a música Roela do Eno produz sentidos?

No texto observa-se que a Eno é um colecionador de roelas prateadas, e que acaba perdendo uma delas em um baile de forró. O autor jogando com os sentidos do sujeito pergunta quem esta com a roela do Eno. Vemos que o sentido da palavra “roela” direciona-se ao substantivo masculino “anus” e o sujeito aqui denominado Eno, ao verbo indireto no infinitivo que passa a ser doendo.

Ao se pensar quem está com a roela do Eno?

Busco compreender, pela a Análise do Discurso como essa música, enquanto objeto produz sentido.

O sentido de uma palavra, expressão, proposição não existe em si mesmo, só pode ser constituído em referência às condições de produção de um determinado enunciado, uma vez que muda de acordo com a formação ideológica de quem o reproduz, bem como de quem o interpreta. O sentido nunca é dado, ele não existe como produto acabado, resultado de uma possível transparência da língua, mas está sempre em curso, é movente e se produz dentro de uma determinação histórico-social, daí a necessidade de se falar em efeitos de sentido.

Análise de Discurso visa fazer compreender como os objetos simbólicos produzem sentidos. Analisando assim os próprios gestos de interpretação, considera-se como atos no domínio simbólico, pois ele intervém no real do sentido, trabalha seus limites, seus mecanismos, como parte dos processos de significação.

Neste enunciado, Quem esta com a Roela do Eno, podemos observar que a memória discursiva aqui se manifesta. Não há veracidade camuflada atrás do texto, há gestos de interpretação que o compõem.

A memoria por sua vez, tem suas características, quando pensada em relação ao discurso. E, nessa perspectiva ela é tratada como interdiscurso. Este é definido como aquilo que falantes, em outro lugar, independentemente. Ou seja, é o que chamamos memória discursiva: o saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma do pré- construído, o já dito que esta na base do dizível, sustentando cada tomada da palavra. O interdiscurso disponibiliza dizeres que afetam como o sujeito significa em uma situação discursiva dada. Orlandi (p.31)

Deve-se acrescentar ainda que, as condições de produção, que instituem os discursos, funcionam em combinação com certos fatores, entre eles os sentidos.

Nos discursos, sempre poderemos observar, que um sempre estará indicando o outo. E que deve haver uma base de apoio entre eles, todos esses mecanismos de funcionamento do discurso repousam no que chamamos formações imaginárias.

Assim não são os sujeitos físicos nem os seus lugares empíricos como tal, isto é, como estão inscritos, na sociedade, e que poderiam ser sociologicamente descritos, que funcionam no discurso, mas suas imagens que resultam de projeções. São projeções que permitem passar das situações empíricas – os lugares dos sujeitos - para posições dos sujeitos no discurso.

Bibliografia

Orlandi, Eni Pucinelli, Análise de discurso: princípios e procedimentos, Campinas, SP: Pontes, 2000.

PÊCHEUX. M. (1975). Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do Óbvio. Tradução de Eni P. Orlandi [et al.]. Campinas: Editora da UNICAMP, 1995. 317 p._____. (1982). Sur la (dé) construction des theories linguistiques.

Anexo

Roela do Eno

Composição: Jovelino Lopes e Teodoro

Ano: 2006

O Eno é meu amigo e companheiro

O Eno é um cara especial

Coleciona roelas prateadas

Tem uma coleção sensacional

Uma noite o Eno foi no forró

Dançou demais e acabou perdendo

Uma roela que pra ele vale ouro

Tá procurando, tá chorando, tá sofrendo

Quem tá com a roela do Eno

Quem tá com a roela do Eno

Quem tá com a roela do Eno

Não adianta disfarçar

Nem ficar escondendo

Quem tá com a roela do Eno

Quem tá com a roela do Eno

Quem tá com a roela do Eno

Não adianta esconder

Que eu vou ficar sabendo

Subi no palco e falei o acontecido

Ninguém deu bola, ninguém quis me ajudar

Mas quem tava com a roela do Eno

Dava pra ver quando ia dançar

Procurei no forró a noite inteira

Saí de lá tava quase amanhecendo

O meu amigo vai dar uma recompensa

Vamos pegar quem tá com a roela do Eno

Na confusão então chamaram a polícia

Que já chegou descendo o pau e batendo

Eu só sei que apanhou

Até quem não tava com a roela do Eno

Mas no tumulto eu estava de olho

Saiu um cara que até hoje tá correndo

E a polícia tá na cola, tá achando

Que esse sujeito tá com a roela do Eno

Walter Aparecido Gonçalves
Enviado por Walter Aparecido Gonçalves em 04/09/2011
Código do texto: T3200797
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